Os últimos dados da APAV relativos aos maus tratos sofridos por idosos (ver post prévio) vem mais uma vez evidenciar o desprezo a que muitos são sujeitos no seu percurso final de vida, numa fase em que se encontram mais dependentes e muitas vezes vulneráveis a nível familiar e financeiro.
Do ponto de vista meramente estatístico, parece haver correlação: considerando que a população envelhecida está a aumentar, os relatos de maus tratos a idosos também crescem, acompanhando a tendência.
Contudo, somos confrontados com dados de idosos abandonados nos hospitais, muitas vezes lá "depositados" por filhos/familiares que deixam contactos errados para não serem responsabilizados. A pior época é sem dúvida a do Natal (imagine-se) e a de férias... Outros, aguardam vaga por internamento em lares ou unidades de cuidados continuados. Mas esses são os "sortudos": ainda que não sendo a situação ideal, e consumirem recursos médicos e financeiros desnecessários, é-lhes garantido teto, comida e algum conforto humano.
Outros há que, apesar de inseridos em instituições particulares de solidariedade social, sofrem de um desprezo inconcebível e falta de dignidade, vítimas até de ausência/carência de cuidados médicos (caso recente da idosa encontrada coberta de formigas e corpo com diversas úlceras).
Mas, tendo em conta que num terço dos casos (29%, segundo dados da APAV), os idosos sofrem agressões às mãos dos seus próprios filhos, revela muito mais do que um problema social.
Estes casos apenas, ainda que reduzidos no universo de séniores em Portugal (motivo pelo qual foram notícia) deveriam levar-nos a uma reflexão alargada enquanto sociedade. É uma questão de valores, de educação, de Cidadania. Acima de tudo, um crime público.
Uma sociedade que despreza os seus idosos é uma sociedade que evidencia falta de empatia e muita ingratidão. Mas acima de tudo, falta de visão: poucos de nós escaparemos à velhice e iremos colher os frutos do que cultivamos (ou não cultivamos). E aí, pode ser tarde demais...
Linha de Apoio à Vítima 116 006 (dias úteis, das 08h00 às 22h00) número gratuito e confidencial.
Constância Silva
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