texto de opinião: haverá limites no humor?

O Humor tem limites? Haverá temas intocáveis?

Estas questões são certamente controversas e a resposta às mesmas pode simplesmente ser diferente para cada um de nós, dependendo das nossas vivências, dos assuntos que nos tocam num ponto mais sensível, da capacidade de rirmos de nós próprios e de lidarmos com as adversidades.

Foi com alguma reserva que assisti ao primeiro episódio do programa "Tabu", da responsabilidade de Bruno Nogueira, emitido na Sic a 5 de março. No entanto, a abordagem escolhida foi desarmante. Num registo próximo de um documentário intimista, respeitando a individualidade e a humanidade de cada um dos quatro convidados, todos eles portadores de diversas deficiências e/ou limitações (algumas resultados de quadros clínicos de nascença outras resultado de infortúnios sofridos ao longo da vida), foi possível fugir ao cliché da vitimização, ao comentário jocoso a roçar o mau gosto, e valorizar o papel que o humor tem na vida daqueles que se vêm confrontados com a diferença e o que ela acarreta. 

Como o próprio humorista reconhece no balanço efetuado após o primeiro episódio "Está a ser uma bonita e dura viagem, que adoça sempre que a cada conversa descubro o papel que o humor teve e tem em cada uma daquelas pessoas que tão generosamente partilham a sua história comigo. Há realidades tão insuportáveis, que a lente do humor quase que parece fazer frente ao monstro.".

O humor pode de facto ser uma ferramenta ao serviço da educação coletiva. Sim, porque acredito que muitos dos que assistiram se viram representados e muitos outros foram acordados para uma realidade que ignoram. Esperemos que assim continue... 

texto de Constância Silva, docente de Inglês, colaboradora do CRESCER