A investigadora e coordenadora do inquérito serológico do Instituto Ricardo Jorge (INSA), Ana Paula Rodrigues, refere que os grupos etários mais jovens “são tão suscetíveis” a contrair Covid-19 como os restantes, de idade mais avançada.
Em entrevista ao ‘Diário de Notícias’ a responsável falou sobre o inquérito desenvolvido pelo organismo português e explicou que esta “é uma das principais conclusões do estudo”. “Estudámos dois grupos: as crianças até aos 9 anos e depois os adolescentes e jovens até aos 19”, começou por referir.
“A proporção dos que têm anticorpos contra o coronavírus não é diferente dos grupos etários seguintes, dos 30 aos 39 anos. A nossa hipótese é que as pessoas mais novas têm uma assintomatologia mais ligeira e não são tão captáveis no sistema de vigilância”, adianta.
Questionada sobre se este facto poderá estar relacionado com a variante britânica, que inicialmente se dizia ter um maior impacto nos mais novos, Ana Paula Rodrigues diz que ainda “não é possível diferenciar pelos testes serológicos com que variante do vírus a pessoa contactou”.
Contudo ressalva que “já no primeiro inquérito as estimativas que obtivemos para os abaixo dos 20 anos mostravam que não havia diferença em relação aos grupos seguintes. Na altura, tínhamos uma amostra de 2300 pessoas, não era suficiente para dizermos que as diferenças tinham significado estatístico. Foi uma das razões que nos levou a aumentar a amostra, para conseguirmos confirmar, ou não, se essa diferença existia. Com esta amostra de 8463 pessoas não encontramos diferenças”, afirmou, citada pelo jornal.
O estudo que desenvolveram previu uma percentagem de anticorpos de 13,5% por infeção, um valor que “não surpreende”, segundo a investigadora. “No primeiro inquérito, entre maio e julho de 2020, obtivemos uma seroprevalência de 2,9 %. A partir de outubro, e com maior incidência em janeiro e fevereiro deste ano, há uma intensidade muito elevada da epidemia da covid, e portanto era expectável que tivéssemos mais pessoas com anticorpos”, adianta.
Com isto significa que há mais casos de infeção do que os registados, o que também “é natural e esperado”. “No primeiro inquérito tínhamos uma seroprevalência cerca de cinco vezes mais elevada. Agora, não chega ao dobro o número de pessoas que tiveram um contacto com o vírus comparativamente aos casos conhecidos a partir do sistema nacional de vigilância epidemiológica. É esperado tendo em conta vários fatores, e um deles é haver pessoas com a infeção assintomáticas”, explica Ana Paula Rodrigues.
Questionada sobre quando deverá ser alcançada a imunidade de grupo, a especialista esclarece que para isso acontecer “a população tem de ter um nível de imunidade suficiente para impedir a circulação de um agente infecioso, mesmo nas pessoas que não estão imunizadas”. Contudo alerta que “na infeção por coronavírus não é exatamente assim”.
“As vacinas têm uma eficácia muito elevada, protegem a pessoa de ter uma infeção grave, mas não está afastada a hipótese de a pessoa ser infetada e até transmitir o vírus. O importante é alcançar as metas de 60% a 70% da população vacinada para proteger os mais vulneráveis e limitar a circulação do vírus, tudo complementado com medidas preventivas”, conclui. @ Sapo
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