"Portugueses atrasam muito a procura de ajuda."
A depressão é um dos problemas de saúde mais prevalentes na União Europeia, afetando cerca de 50 milhões de pessoas. Portugal ocupa a 5ª posição entre os países com mais casos – cerca de 8% dos portugueses estão diagnosticados com essa perturbação.
Falámos com a médica psiquiatra Inês Homem de Melo sobre o estado da saúde mental em Portugal a propósito do Dia Europeu da Depressão (assinalado a 1 de outubro).
Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), houve um aumento de 304% no consumo de antidepressivos em Portugal entre 2000 e 2020. Devemos estar preocupados com este número ou significa que já não temos um problema de subdiagnóstico?
Enquanto psiquiatra inquieta com estes números, já me debrucei várias vezes sobre esta percentagem e creio que para ela concorrem vários fatores. Por um lado, o facto de sermos o segundo país europeu com a prevalência mais alta de doença mental - a seguir à Irlanda do Norte. Temos mais depressão, mas temos sobretudo mais ansiedade, e ambas as doenças são tratadas com antidepressivos. A situação social adversa que vivemos neste momento em Portugal não tem contribuído para a melhoria destes indicadores, pelo contrário. Por outro lado, é importante referir as dificuldades no acesso aos cuidados de saúde, bem como a gritante falta de profissionais de saúde mental não-médicos no SNS, sobretudo de psicólogos. Numa fase inicial da depressão, a doença pode ainda ser tratada sem recurso a medicação, investindo-se na psicoterapia (habitualmente feita por psicólogos). Numa fase mais avançada, de maior gravidade, já será necessário medicar com antidepressivo. O atraso na chegada aos cuidados pode explicar que tenhamos de medicar pessoas que, tratadas precocemente, não teriam tido essa necessidade, ao mesmo tempo que a falta de psicólogos nos deixa sem respostas não-farmacológicas para quem efetivamente acede aos cuidados atempadamente.
Qual a prevalência da depressão em Portugal? E como compara com o resto do mundo?
Segundo o maior estudo epidemiológico de saúde mental em Portugal - o Estudo Nacional de Saúde Mental (Caldas de Almeida e Miguel Xavier) - cerca de 8% dos portugueses adultos terão um quadro depressivo em cada ano. Esta prevalência corresponde a uma das mais altas da Europa. No entanto, onde verdadeiramente nos destacamos face à média europeia é nas perturbações de ansiedade.
Apesar dos números, ainda há pessoas que não procuram cuidados de saúde mental? Porquê? Quem está em maior risco?
Segundo esse mesmo estudo, apenas 35,8% das pessoas com problemas de saúde mental tiveram acesso a cuidados de saúde especializados, o que representa uma ausência de tratamento de 64,2%. Estes números são alarmantes. A procura de ajuda é menor em pessoas sem suporte familiar, com menor literacia e nos homens. Na nossa sociedade, pode ser mais difícil a um homem assumir uma posição de vulnerabilidade e procurar ajuda. Apesar de as mulheres terem 2 vezes mais depressão do que os homens, a verdade é que os homens morrem por suicídio 3 vezes mais. Este fenómeno pode ser explicado, em parte, por esta dificuldade acrescida do homem em recorrer ao tratamento. Fonte: Sapo
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