Número total de visualizações de páginas

sexta-feira, 10 de maio de 2024

saúde: síndrome do "pescoço de texto"

Rogério Pereira, fisioterapeuta na Clínica Espregueira, no Porto, e João Espregueira-Mendes, ortopedista e vice-presidente da ISAKOS - Sociedade Internacional de Artroscopia, Cirurgia do Joelho e Medicina Ortopédica Desportiva, referem que, atualmente, existe um "elevado número de adultos jovens e adolescentes que procuram os serviços da clínica para resolver queixas de dor no pescoço, ombros, braços e região lombar".

Caro leitor, queremos alertá-lo para uma necessidade crescente de mudar e melhorar hábitos para prevenir a síndrome do pescoço de texto, também conhecida como Text Neck Syndrome, na sua expressão anglo-saxónica. Esta condição, cada vez mais frequente, já afeta também crianças e poderá dever-se, sobretudo, ao uso prolongado de dispositivos móveis.

Estima-se que cerca de 6 biliões dos aproximadamente 8 biliões de pessoas que existem no mundo passem várias horas por dia com a cabeça inclinada para a frente devido ao uso de dispositivos eletrónicos, como telemóveis e tablets, o que pode levar a consequências para a saúde física, mental e social.

Neste texto, apresentaremos informações claras e informativas para prevenir e lidar com essa ameaça, sem recorrer a pretensiosismos técnicos, mas mantendo o rigor e a ponderação.


O que é o pescoço de texto?

A síndrome do pescoço de texto, tecnicamente designada por Forward Head Posture, é um termo utilizado para descrever uma condição cada vez mais prevalente e associada ao uso prolongado de dispositivos móveis. Ao olharmos para os nossos telemóveis, tablets ou outros dispositivos eletrónicos, inclinamos a cabeça para a frente e para baixo. Praticamente todos o fazemos desta forma, se não, faça-se a “radiografia” da posição do pescoço e da cabeça, na sociedade, i.e., em casa, no metro, no autocarro, nas mesas dos restaurantes e até em ginásios. Isto coloca uma pressão adicional sobre a coluna cervical, sendo muitos quilos e durante demasiadas horas:

  • A cabeça de um adulto, em média, pesa 5kg na posição neutra, ou seja, alinhada com a vertical;
  • Com a inclinação da cabeça para a frente e para baixo, pode alcançar um efeito mais de 5 vezes maior na cervical, isto é, 27kg com uma inclinação de 60°;
  • As crianças e adolescentes podem passar 5 a 7 horas por dia nos telemóveis e outros dispositivos;
  • Com o tempo, os efeitos cumulativos, podem ser dramáticos, aproximadamente 2500h num ano, ou seja, 25% do tempo disponível de vida por ano!

Esta postura, repetida e acumulada, pode resultar em dores e desconforto no pescoço, ombros, membros superiores e outros segmentos da coluna. Pode mesmo, a longo prazo, promover alterações das normais e necessárias curvas fisiológicas e alterações patológicas em diferentes estruturas, como o osso, cartilagem, discos intervertebrais, ligamentos e músculos.

Também necessitamos de acomodar outras implicações diretas como a da luz na qualidade do sono, da radiação eletromagnética e da sua assimilação, particularmente nas crianças, por ser, factualmente, maior e imprevisível, neste caso, por desconhecimento dos seus efeitos. No que diz respeito, a implicações indiretas, não será exagero sublinhar o efeito do tempo de ecrã para os hábitos sedentários, assim como, por outro lado, a perda de oportunidades para a prática de exercício físico, sobretudo moderado e vigoroso que, sabemos, ter um efeito preventivo em determinados problemas de natureza musculosquelética e muitos outros benefícios para a saúde física, mental e social.

Em 2035, estima-se que 51% da população mundial terá excesso de peso ou obesidade. A obesidade tende a subir, crescendo mais rapidamente e especialmente entre as mulheres. O impacto económico da nova pandemia, i.e., do excesso de peso e obesidade poderá alcançar os 3% do PIB mundial.

Causas, sintomas e fatores de risco

O pescoço de texto está diretamente relacionado aos hábitos digitais, que hoje são estendidos e frequentes por várias razões e propósitos. Seja por questões ocupacionais, troca de mensagens, navegação em redes sociais, jogos, consultas de serviços ou compras online. Estas atividades exercem uma carga excessiva, principalmente nos músculos e ligamentos do pescoço e, de forma geral, na região superior das costas. Os sintomas mais comuns incluem dor no pescoço e rigidez; dor nos ombros e costas; dores de cabeça frequentes; sensação de dormência/formigueiro nos braços; postura curvada.

Sabia que existem escalas para medir o uso que faz do telemóvel? Convidamos o leitor a pesquisar, isso sim, sem fletir a cabeça para a frente e para baixo, a escala designada por Smartphone Addiction Scale-Short Version (SAS-SV)Recomendamos que faça um printscreen, imprima e responda a 10 perguntas simples e obterá uma pontuação entre 10 e 60. Se conseguir entre 30 ou mais pontos, fica o nosso conselho para reduzir o uso e/ou procurar alternativas para consultar o que pretende, que não impliquem a postura acima referida. Arredondando, mais de 30 pontos, significa que fará um uso excessivo do telemóvel e isso é um fator de risco. Porquê? Porque se aplicou a escala validada a mais de 1000 trabalhadores de escritório e, verificou-se que os que têm a pontuação acima dos referidos e arredondados 30 pontos, têm uma probabilidade 6 vezes maior de ter dor no pescoço.

Além das queixas/consequências físicas, também se verificou a associação com stress, ansiedade e depressão. Também existem trabalhos que avaliam o impacto no comportamento social, mas os resultados não parecem ser positivos. Todavia e felizmente, o pescoço de texto é uma condição evitável e tratável, pelo que sugerimos algumas dicas para prevenir e lidar com a síndrome:

  1. Consciência postural: mantenha a consciência sobre a sua postura enquanto utiliza dispositivos eletrónicos (e também se aplica quando lê um livro). Mantenha o telefone ao nível dos olhos para evitar inclinar constantemente a cabeça para baixo; quando num sofá, poderá colocar uma ou duas almofadas no colo, apoiar os cotovelos e, como resultado, reduzirá significativamente a inclinação da cabeça para a frente e para baixo.
  2. Pausas regulares: faça pausas frequentes durante o uso de dispositivos. Influencie o departamento de saúde ocupacional a introduzir medidas preventivas e sessões de exercício físico, já que as pausas ativas podem fazer toda a diferença no seu bem-estar e saúde.
  3. Pratique exercício físico: salvaguardados os imponderáveis, o exercício físico pode mudar-lhe a vida e/ou contribuir para manter a vida que tem, desejando que seja o caso, livre de problemas musculoesqueléticos e outras condições clínicas que podem impactar negativa e significativamente a saúde e bem-estar.
  4. Ergonomia: na utilização de computadores, seja o clássico PC ou o portátil, certifique-se de que a tela esteja ao nível dos olhos e que o teclado esteja numa posição confortável para evitar tensões desnecessárias.
  5. Consulte o médico ou o fisioterapeuta: caso os sintomas persistam ou se intensifiquem, procure um profissional de saúde para avaliação, referenciação e /ou tratamento adequado.

Conclusão

O pescoço de texto é uma condição real que pode afetar qualquer pessoa que faça uso intensivo de dispositivos eletrónicos. Ao adotar uma postura mais consciente, praticar exercício físico e fazer pausas regulares, podemos prevenir e tratar a síndrome, garantindo uma experiência digital mais saudável e agradável. Lembre-se sempre de cuidar do seu bem-estar físico, mental e social, enquanto desfruta do mundo digital moderno. Aqui e, através deste texto, queremos oferecer-lhe modernidade e saúde. Da próxima vez que estiver a fazer taping e swiping, no seu telemóvel, lembre-se da sua saúde e destes conselhos. Fonte:  Sapo

Sem comentários: