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segunda-feira, 27 de maio de 2024

50 anos ESÁS: "conta-me como foi..." (3)

No âmbito das comemorações dos 50 anos da ESÁS, o CRESCER continua a ouvir várias pessoas envolvidas no crescimento da escola. Desde os fundadores até aos dias de hoje, muitos têm sido os que manifestaram vontade em colaborar. O que é maravilhoso!

professor José Manuel Cunha
Hoje estivemos à conversa com o professor José Manuel Dias Cunha, o primeiro "Encarregado da Direção" (assim se designava) daquela que viria a ser a nossa ESÁS.

Lembra-se de aqui lhe falarmos da Escola das Enxurreiras, onde a Aurora Sereno e o Joaquim Sampaio estudaram? 

Pois bem, quem assumiu a responsabilidade da Direção foi o professor José Manuel Dias Cunha, hoje um professor de História aposentado, quase octogenário, que não hesitou em estar presente na nossa atual ESÁS, trazendo consigo memórias maravilhosas.

Em 1973, lembra-se de ter sido convidado pelo professor Vieira de Carvalho, presidente da Câmara Municipal da Maia, amigo de seu pai - agricultor na freguesia de Paranhos e vereador da C. M. Maia - que lhe disse: "Vou arrancar com uma escola pequena, gostava que a fosses dirigir. Quatro turmas, uma sala de professores, quatro funcionários." E ele aceitou. 

Licenciado em Ciências Históricas e Filosóficas, porque não teve autorização do pai para estudar e frequentar em Lisboa o curso de Educação Física que tanto almejava, mas sempre ligado ao desporto como praticante e como dirigente da Federação de Andebol e Basquetebol e diretor das mesmas modalidades no FCP, foi para ele um desafio liderar este projeto. E sabia que não podia falhar. Estava habituado a ser obrigado a vencer. O pai, caso algum dos filhos reprovasse de ano, obrigava-o a trabalhar no campo nas férias de Verão!

De facto, a vida do professor José Manuel Cunha toda ela é curiosa e desafiante. Nos idos de 1969/70 combateu na Guiné, o que lhe provocou um forte impacto emocional. Depois disso, e porque tinha formação no Exército, deu aulas de Educação Física no Liceu D. Manuel II (atual Rodrigues de Freitas, no Porto). Com a mulher, também ela professora aposentada, solista, com quem é casado há quase 54 anos, foi membro fundador do Coral de Letras e ainda hoje pertence ao grupo.

Mas regressando aos anos de 1973/74: é aqui que se apercebe de como é importante "dar liberdade mas também responsabilidade", é aqui que se apercebe de como é dura a vida de um professor, pois tem de ser exemplo a seguir, mostrar ciência e sabedoria e acarinhar sem estragar. "Era uma escola especial e eu preocupava-me muito com todos os miúdos." E, como sempre soube, "não podia falhar". E não falhou, prova disso são as memórias que os seus alunos de então ainda guardam dele. Aquele grupo de docentes era "fora da caixa", "liderado pelo professor Cunha", disse António José.

Mas quando chegou o final do ano letivo em causa, não seguiu para a Escola Preparatória de Pedrouços, com o grupo formado nas Enxurreiras. Não abandonou os meninos, como eles podem ter pensado, foi fazer o seu estágio profissional à Escola de Oliveira Martins para, desse  modo, poder firmar o seu futuro na educação, ligado à disciplina de História.

Depois, tudo correu rapidamente.  Durante seis anos foi diretor das escolas profissionais (eram 165 no país), tinha uma equipa formada por 30 técnicos (15 no Porto e 15 em Lisboa), percorria o país de lés a lés para inspecionar as escolas e, apesar de parecer um cargo promissor, esse tempo sugou-lhe a energia pelas enormes pressões que sentiu. Assim, por iniciativa própria, voltou à escola onde já tinha trabalhado e que o cativou: Filipa de Vilhena. Lá começou por ser "apenas" professor, depois secretário do Conselho Diretivo, com a pasta da Ação Social Escolar (ASE) e termina como Diretor.

Conclui a sua vida profissional aos 62 anos, tendo comprado quatro anos de trabalho (era possível, se se pagasse uma determinada verba mensal à Segurança Social) e hoje faz o que quer e o que pode. Com 79 anos de idade pratica hidroginástica três vezes por semana e a sua cadela labrador obriga-o a caminhar diariamente, à beira-mar. Tem dois filhos "criados" e três netos, e, com a esposa, mantém um vício: viajar. Quando era jovem, com os filhos pequenos, já viajava e ficava alojado em parques de campismo. Hoje, conhece 140 países e está já a planear a próxima viagem.

Mas não vai sozinho nessas viagens. Com o casal vai também a música, particularmente o jazz, estilo de que é grande apreciador.

Chegados ao fim da nossa conversa, fomos fazer uma visita guiada pela escola que terminou no gabinete da Direção. Registamos a seguinte afirmação: "De todas as escolas por onde andei e que ainda visito, a vossa é a mais bem equipada e moderna. Parabéns por isso!". Imaginam, certamente, a vaidade do nosso Diretor!

O CRESCER agradece ao professor José Manuel Cunha toda a sua disponibilidade e bonomia e deseja-lhe muitas e boas viagens. 

texto de Manuela Couto, docente de Português
colaboração de Cândido Pereira, diretor do centro de formação maiatrofa

(post editado às 09:46) 

1 comentário:

mc disse...

Muito obrigada, professor Cunha, pelo tempo que nos concedeu.
Espero que tenha gostado de ler a nossa conversa e tenha gostado da manhã que a fez conhecer a sua renovada ESÁS.