Passados dois meses, houve retoma das reuniões entre peritos e decisores políticos, desta vez, não no Infarmed, mas no auditório da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Na parte dedicada ao regresso às aulas, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes apresentou pela primeira vez o modelo matemático desenvolvido pela equipa da FCUL para o Governo para a evolução da epidemia nos próximos meses. A conclusão é que a reabertura das escolas já na próxima semana, com o regresso de 1,2 milhões de alunos às aulas, torna “provável” uma segunda onda de infeções, com as hospitalizações a superarem mesmo o que aconteceu nos primeiros meses da pandemia. Esse cenário só se verifica, no entanto, se as escolas forem reabertas mantendo o mesmo nível de contactos entre crianças, jovens e funcionários que existia antes da pandemia. A novidade do modelo é sugerir que se houver uma redução dos contactos, a projeção de hospitalizações diminui, e se os contactos forem reduzidos a um terço nas escolas, a segunda onda pode mesmo ser evitada, acredita a equipa de Manuel Carmo Gomes, que considerou que este seria um caminho “exigente”, mas “possível”.©Bruno Gonçalves
A uma semana do início do ano letivo, Manuel Carmo Gomes deixou algumas indicações práticas, como maximizar os espaços ocupados pelos alunos, evitar que haja mais do que uma turma a ocupar a mesma sala e garantir o arejamento das salas – por exemplo, numa aula de hora e meia fazer uma pausa de cinco minutos para arejar a sala –, mas também o desencontro de horários, defendendo, no entanto, que apesar de o objetivo ser o ensino presencial, o ensino misto (presencial e à distância) deve ser considerado. E deixou outra ressalva: “Se o relaxamento dos contactos na sociedade prosseguir após a abertura das escolas, temos segunda onda mesmo que os contactos entre os jovens diminuam. Não bastaria que alterássemos radicalmente o comportamento dos jovens. Requer que a sociedade mantenha comportamentos muito exigentes”, defendeu, sublinhando que será necessário reduzir contactos de proximidade, manter o distanciamento físico e evitar grupos de não coabitantes. Para Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas, a redução de contactos a um terço não será possível com o regresso das aulas em ensino presencial, e aponta várias dificuldades. “O número de professores tinha de ser o triplo e isso é impossível”, afirma ao i. (adaptado de jornal i)
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