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sexta-feira, 19 de junho de 2020

emoções: como saber o que nos dizem os rostos por trás de uma máscara

A máscara é obrigatória, pelo menos nos próximos tempos. Pode ser útil aprender a ler as microexpressões faciais e identificar as emoções que estas revelam, através do pouco que podemos ver da cara das pessoas com máscara.
DOUGLAS MAGNO / AFP
    De acordo com a teoria de Paul Ekman (o “pai” das microexpressões), existem sete emoções básicas que é possível reconhecer através das microexpressões universais — movimentos faciais com duração inferior a um quinto de segundo. Uma das razões para lhes chamar “universais” é a presença de indicadores confiáveis que nos ajudam a identificá-las em qualquer pessoa — seja numa criança, adulto ou idoso, num português, chinês ou russo.
      Na prática, isto significa o seguinte: se eu vejo o indicador confiável X (por exemplo, cantos dos lábios a formar um “U” invertido), então posso dizer com convicção que a emoção que a pessoa está a experienciar nesse momento é Y (no nosso exemplo seria tristeza). Não consigo saber a razão desta emoção, mas sei que a pessoa está triste.
      Nos tempos que correm, é importante saber reconhecer as expressões que apresentam indicadores confiáveis acima da máscara, ou seja, na parte superior da face. Na verdade, não são muitas.
Alegria
      Se pensa que o símbolo de alegria — o sorriso — fica tapado com a máscara e que por isso não vamos reconhecer esta emoção tão importante, está enganado. Um dos indicadores confiáveis de um sorriso encontra-se acima da máscara: são as rugas à volta dos olhos (muitas vezes chamadas "pés de galinha”). Agora é que vamos, finalmente, perceber quem está a sorrir verdadeiramente. Os sorrisos falsos, chamados também "sorrisos sociais”, só com o movimento dos lábios, vão passar despercebidos.
Medo
      Dois dos indicadores confiáveis do medo são as pálpebras superiores levantadas (o que permite ver a parte branca à volta das pupilas) e as sobrancelhas levantadas, unidas e esticadas numa linha, e tensas.
      É importante saber reconhecer medo (ou aflição) nas pessoas à nossa volta, incluindo no trabalho. Mas é mais ainda nestes tempos de incerteza e de stress para muitas pessoas. Procure um destes indicadores e procure perceber o que leva a pessoa a sentir medo.
Tristeza
       Há dois “U” invertidos que são indicadores confiáveis da tristeza: as sobrancelhas formam um deles, e os cantos dos lábios descem, formando outro. Este segundo vai ficar tapado com máscara. Por isso, observe as sobrancelhas.
      Na realidade, agora é que vamos ver a verdadeira tristeza. Se antes era possível alguém manipular a expressão e formar um “U” invertido com os lábios ou colocar o lábio inferior para a frente para demonstrar tristeza, sem estar realmente triste, agora já não nos vamos deixar enganar. Ou a pessoa à nossa frente está verdadeiramente triste e é visível o “U” invertido entre as sobrancelhas, ou então não está triste. Isto porque as sobrancelhas são difíceis de manipular.
Raiva
      Os lábios cerrados e sobrancelhas franzidas são indicadores confiáveis da raiva. Não vai poder ver os lábios, mas as sobrancelhas franzidas sim.
      Curiosidade: a raiva pode não ser uma emoção tão destrutiva quanto se pensa. A causa universal da raiva é a interferência no objetivo, a injustiça, a violação das normas. A “interferência” pode ser um processo mal organizado, um sistema ou uma situação específica. Se alguém está descontente com outra pessoa, isso pode dar origem a um conflito. Mas experienciar raiva em relação ao sistema, a uma característica (por exemplo, a preguiça) ou a uma determinada forma de organização pode ser um catalisador para uma mudança para melhor.
Surpresa
      A surpresa é uma das expressões mais longas, literalmente. A cara alonga-se — a boca abre, as sobrancelhas vão para cima. Com sorte até consegue reparar na boca aberta por trás da máscara. Mas se não conseguir ver a boca, foque-se nas sobrancelhas — estas vão saltar para cima (como na expressão de medo), mas vão ficar mais arredondadas (e não estreitas e tensas como na expressão de medo) a formar dois “U” invertidos.
      Depois, há expressões que vai ser difícil ver ou que não vai poder ver de todo.
Repulsa
      Neste caso, o lábio superior é levantado, o que, consequentemente, faz com que o nariz fique franzido.
      Problema #1: nunca vai ver o lábio superior levantado atrás da máscara e, se a expressão for leve, o tal nariz franzido pode não ser evidente. Se a máscara for colocada muito alta, então, não vai ver nada.
      Problema #2: já sem máscara a maioria das pessoas costuma baralhar repulsa com raiva. Com máscara isso poderá acontecer com ainda maior frequência. Se não tem experiência na leitura de microexpressões, tenha especial atenção.
Desprezo
      Infelizmente, o indicador confiável do desprezo — assimetria do gesto (“sorriso torto”) — fica completamente tapado com a máscara.
      É pena, porque é uma das expressões mais ricas — até dá para prever a durabilidade do casamento, diz John Gottman, psicólogo e professor que tem dedicado a vida ao estudo dos comportamentos e da inteligência emocional dos casais.
      Há muita controvérsia em torno das microexpressões. Alguns investigadores têm vindo a pôr em causa a sua universalidade. Em 2018, a neurocientista Lisa Feldman Barrett deu uma TedTalk em que fala das limitações do reconhecimento das emoções a partir das expressões faciais. Em contraponto, David Matsumoto, professor e investigador norte-americano especialista na área, publicou
recentemente um vídeo onde responde aos argumentos contra a universalidade das microexpressões.
      No dia 25 de junho, às 18h00, haverá uma sessão no Zoom, dinamizada pela autora, sobre as microexpressões e as emoções que estas representam. A participação é gratuita, mas a inscrição é obrigatória. @Sapo

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