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quinta-feira, 28 de maio de 2020

registos sobre o regresso à escola

Os alunos e os professores de 11º ano e de 12º ano, com disciplinas que serão alvo de exame, voltaram à escola na passada semana. Voltaram a uma escola diferente, que teve de se preparar para receber em segurança os que nela entraram.
O CRESCER quis saber como alunos e professores viveram essa primeira semana de uma escola que nunca mais será a mesma.


Voltar à escola pareceu-me assustador e regressei com algum receio do que ia encontrar. 
A nossa escola está bem organizada, com gel e máscaras à entrada e com locais próprios para entrar e sair do recinto escolar. Senti-me segura!
Entrar na sala de aula é muito, muito estranho. Os alunos usam máscara e estão mais quietos e calados do que é habitual.
Os meus alunos já não parecem os meus alunos e a minha escola já não parece a minha escola. Falta o ruído, as gargalhadas e o convívio.
Não é fácil explicar matéria aos alunos durante 100 minutos com a máscara posta. Mas o desafio está a ser cumprido para que os discentes estejam preparados o melhor possível para fazer o exame nacional e fico contente por ajudar nessa tarefa.
Quando saio da escola, retiro a máscara e entro no carro, parece que o mundo "quase" voltou ao normal!
Teresa Vieira, docente de Matemática


Ao chegar à escola reparamos logo na mudança de ambiente, onde o uso da máscara e a desinfeção das mãos é agora obrigatório à entrada. Vemos funcionários ao longo de todo o percurso até às salas. Já na sala, não há dificuldade em mantermos uma distância de segurança, ao escolhermos os nossos lugares. Assim foi toda a semana.
Apesar de não existir proximidade física com os professores, sentimos a presença deles, o que definitivamente é melhor do que vê-los através de um ecrã. 
Existe uma maior flexibilidade em termos de horário e nos intervalos. A redução da carga horária foi uma mais-valia, pois torna o tempo que temos mais útil e menos "morto". Isto, complementado com o trabalho feito fora das aulas, desenvolve em nós a capacidade de pesquisa e de autonomia. 
Nas disciplinas que tivemos, foi possível uma flexibilização dos intervalos, pois apesar de existir um intervalo predefinido de dez minutos, algumas professoras adotaram um sistema de pausas consoante a matéria dada, tornando as aulas menos maçadoras.
O individualismo a que a saúde nos obriga impede o trabalho de grupo, que é essencial na aprendizagem dos nossos dias. Ele torna-se quase impossível por questões de proximidade.
Algumas aulas continuaram a ser dadas por videoconferência, mas na sala de aula, por indisponibilidade legítima dos professores. Alguns por problemas de saúde, outros por não terem quem tome conta dos filhos não têm condições de participar em aulas presenciais, o que é perfeitamente aceitável. Mas qual a necessidade de os alunos terem aulas deste modo, sujeitando professores coadjuvantes (que ficam na sala durante as aulas), a irem à escola para ligarem e desligarem o computador e para nós assistirmos ao que podíamos fazer em casa, participando muito mais e estando mais confortáveis? 
O desconforto da máscara, que humedece rapidamente quando se fala, é muito grande. E as aulas dadas por esta forma conduzem a uma menor participação dos alunos e a aulas mais expositivas.
Em conclusão, o regresso permitiu a presença que todos nós ansiávamos. Temos, até, uma flexibilidade que não tínhamos quando estávamos sobrecarregados de aulas, mas receio que algumas disciplinas não consigam acabar a matéria. 
Uma coisa é certa, o sistema de ensino jamais será o mesmo.

Júlia Meira, aluna de 11º ano

18 de maio de 2020
Ansiedade. Nervosismo. Expectativa. Reencontro.
Reencontro. Foi a palavra e o sentimento mais marcante do dia. Tudo o resto passou ao lado: as máscaras, o desconforto, o cuidado com o desinfetante, o esforço para respirar.
E sorrisos de ‘estamos cá’, embora só reconhecidos pelo canto dos olhos, num esgar de rugas, já que a máscara abafava essa libertação facial. E (quase) tudo parecia normal, pese embora o cumprimento das regras de distanciamento social, mais afastados fisicamente que nunca, mais próximos e juntos que outrora.
E a matéria, os conteúdos programáticos, foram fluindo. Sem atropelos, em confiança. Fazemos todos o melhor que podemos, o melhor que sabemos: nós, os professores; eles, os alunos. E num ato de coragem e de acolhimento, regressamos todos para partilharmos e sermos – professores e alunos – o que sempre fomos, duas partes da mesma moeda, unidos pelo saber e pelo querer saber; unidos pela empatia de vivermos um propósito comum, teimosamente mais forte que a pandemia que nos assola e ensombra a nossa realidade e a vida.
E continuamos juntos. Seguimos juntos.

Aurélia Domingos, docente de Inglês


No primeiro dia de aulas cheguei à escola por volta das 9h25, encontrei-me com uma colega e foi estranha a sensação de não a poder cumprimentar nem de me aproximar dela.
Trouxe uma máscara de casa e coloquei-a antes de entrar, mas estavam a ser distribuídas máscaras à entrada da escola para quem não tinha. Todas as pessoas tiveram que desinfetar as mãos à entrada da escola.
Fui diretamente para a sala e só saí de lá às 12h10 quando a aula terminou. A turma foi dividida em duas partes para que se mantivesse uma distância de segurança. Mantivemos sempre a máscara colocada, exceto quando tivemos um intervalo de 10 minutos para comer. Caso algum aluno sentisse a necessidade de ir à casa de banho teria de ir acompanhado por uma auxiliar da escola, mas eu não tive essa necessidade.
Foi estranho voltar às aulas nestas condições e alguns professores e alunos estavam contra este regresso, mas acho que foi bom para todos voltar a ver os seus amigos e voltar a ter aulas presenciais, ainda que, bem diferentes do que estas costumavam ser. 
                                                                                                                                                               Pedro Branco, aluno de 11º ano

Gostei de voltar. Sobretudo porque não estava com os meus colegas há muito tempo! Mas também tinha saudades da escola e dos professores, particularmente dos intervalos e das conversas. Igualmente tinha saudades de aulas com todos, onde cada um responde sem ter de estar à espera de ligar o microfone e onde interagimos muito mais.
Mas o que vi foi uma escola diferente: gel à entrada; muitos funcionários de olhar atento; corredores enormes vazios; pessoas com máscaras; um silêncio profundo, algo constrangedor. Subimos pelas escadas largas, mas, quando descemos, fizémo-lo pelas escadas estreitas, quase todos ao mesmo tempo, o que não me pareceu muito certo.
Gostei de ver os amigos e de conversar com eles, mas não gosto de estar tanto tempo de máscara, nem de fazer os intervalos nas salas de aula. Parece castigo.
Aprecio o esforço dos professores, que tentam comunicar connosco da melhor maneira, mantendo a distância social que se impõe. Mas não gosto de ir à escola para ter aulas à distância. Acho que nesses casos era mais proveitoso ficarmos em casa, mantendo o que já antes se fazia. Até porque a nossa turma era e é cumpridora. 
Creio que este vírus veio mudar muita coisa e que a escola que conhecemos até 13 de março jamais será igual. 
Agora, curiosamente, o que mais receio não são os exames, é o próximo ano letivo, o último do meu ensino secundário. Será que vai funcionar assim?

aluno de 11º ano
19 de maio
Aulas presenciais! Um novo desafio…
No primeiro momento é a sensação de vazio… na entrada um funcionário que indica onde está o gel desinfetante, outro que nos entrega uma máscara, não medem a temperatura e continuo pelo caminho mais direto para a sala de aula.
Num primeiro momento, a escola assumiu uma dimensão gigantesca pelo silêncio, pelo espaço vazio, pela ausência de professores e alunos; no percurso até ao segundo andar, senti que uma sensação estranha me tinha invadido…  não estava habituada a tanto silêncio!
No 2º andar encontrei a auxiliar da educação que me disse que a sala estava desinfetada e preparada para nos receber. Pouco a pouco e com a mesma estranheza, usando máscara, começaram a chegar os alunos do primeiro turno, pois a turma teve de ser dividida em duas partes por serem muitos. Hesitantes, aguardaram que lhes fosse indicado o lugar de forma a respeitar o distanciamento social previsto.
Depois de nos cumprimentarmos, com olhares e poucas palavras, fiquei feliz quando os alunos manifestaram o seu agrado por eu estar ali presencialmente e ao lado deles para enfrentar o resto do 3º período. Todos nos sentíamos incomodados com as máscaras porque tornam a comunicação menos amistosa, acrescentam dificuldades para falar durante muito tempo e provocam calor. Sentíamo-nos ansiosos, o nosso dia a dia alterara-se!
Notaram-se outros constrangimentos, porque não se podem realizar trabalhos em grupo, fazer aqueles comentários em surdina e até o simples ato de falar com máscara é uma aprendizagem.
Procurei que a aula não fosse demasiado expositiva.
Entretanto, toca, são horas de mudar de sala e encontrar o segundo grupo da turma.
Se desde o momento em que entrei na escola me senti ansiosa, agora piorou! Os alunos, como não podem sair das salas, estavam a comer e a beber, sem máscaras e conversando com proximidade física. Depois de convidados a respeitar as normas, foi necessário estabelecer contacto, através do Google Meet, com o aluno que não tem condições para se deslocar à escola. Os alunos já tinham tido uma aula, estava calor e eles estavam saturados pelo uso da máscara, por isso foi mais complicado começar. Também eu me sentia cansada de falar com a máscara…. Mas começámos a aula e quando terminou encaminhamo-nos para a saída pelo lado contrário ao da entrada na escola, mais uma alteração!
Separámo-nos à saída, cada qual com uma vivência nova que talvez nos marque ou não.
A mim marcou-me, pois ao fim de 40 anos de ensino, foi preciso inovar, obter mais conhecimentos informáticos para lecionar à distância durante o confinamento, agora é preciso reinventar-me para lecionar com os condicionalismos do desconfinamento.

Na realidade, esta pandemia obrigou-nos a aprender a viver de modo diferente, alterando a nossa vida; também, a Escola teve necessidade de se reinventar, de recriar, de se adaptar a novas situações.   

Ana Bandeira, docente de Português 

A primeira semana de aulas depois do desconfinamento foi muito estranha para mim!  Eu vivo muito longe da escola e, por isso, tenho de apanhar transportes públicos que não se ajustam ao meu horário. Então, passo grande parte do dia fora de casa, entre transportes - cada vez mais cheios - e a escola - cada vez mais vazia.
Não sei se merece o esforço. Sei que temos de nos habituar a "desconfinar", mas questiono a razão de só serem os alunos de 11º e de 12º. É por causa dos exames? Mas se só vão contar as questões em que tivermos mais cotação, para quê tudo isto? Até os professores se mostram exaustos! Não deve ser fácil falar tanto tempo com a máscara! Para mim, é horrível, pois faço alergia ao fim de algum tempo.
É claro que gosto de ver os meus colegas e professores, mas assim, só nós, e por tão pouco tempo, acho que não havia necessidade. Afinal, todos os nossos colegas até ao 10º ano, estão em casa!
Fico muito cansada com o meu dia-a-dia e, quando chego a casa, já nem me apetece assistir a mais aulas síncronas, nem fazer as tarefas que me são solicitadas.
Espero que chegue rápido o dia 26 de junho!

aluna de 11º ano

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