Número total de visualizações de páginas

sexta-feira, 29 de maio de 2020

a importância do toque

     Numa altura em que o distanciamento social pode condicionar as relações afectivas, o psiquiatra Júlio Machado Vaz analisa, em mais um episódio de Por Falar Nisso, a importância do toque e a sua relevância em termos físicos e emocionais.
     Os tempos assim o exigem. Para combater a propagação da pandemia do novo coronavírus, recomenda-se distanciamento social, medida que deve ser continuamente respeitada durante este gradual período de desconfinamento, mesmo que as saudades apertem, e, como refere o psiquiatra Júlio Machado Vaz, em mais um episódio de Por Falar Nisso, um projecto conjunto com a Multicare, serão «poucos os que não estejam a ressacar de se tocarem», que não sintam um entrave às relações afectivas. 
     E, quando se acumula a vontade de «nos abraçarmos, de beijar aquelas bochechas rosadas das crianças, de enfiar o braço num amigo», sublinha o psiquiatra, «os políticos e especialistas da área da saúde alertam para o facto de o novo normal não ser o normal a que estávamos habituados, e o toque entra nisso». Ou seja, a pandemia, como já percebemos, vai influenciar as relações emocionais e os laços afectivos, pois, «quando falamos de distanciamento, estaremos também a falar de alterações na possibilidade de tocar», sendo que esse gesto vai além da questão do carinho, reforça Júlio Machado Vaz.​
     Trata-se de uma problemática complexa, principalmente nos povos latinos como nós, pouco habituados ao distanciamento social, quando, por exemplo, comparado com os nórdicos, pois «somos muito mais de beijos e abraços». Mais, «alguns de nós são incapazes de falar com outra pessoa sem lhe mexer, e nem se quer é um toque afectivo, é quase um tique», indica o psiquiatra.
A ciência do(s) afecto(s)
      É também devido a essa complexidade que o toque, o contacto físico, e os seus efeitos nas relações, tem sido amplamente estudado pela ciência e, como revela Júlio Machado Vaz, trata-se de uma «manifestação de afecto com capacidades terapêuticas». Por exemplo, alguns estudos concluíram que «o toque numa outra pessoa que está stressada com muita frequência, provoca uma diminuição de stress e uma redução da frequência cardíaca, ou seja, acalma», diz o especialista.​
Júlio Machado Vaz, refere mesmo uma pesquisa em particular, «em que as pessoas, metem os antebraços através de orifícios, e, do outro lado, são tocadas por outras, e pede-se que quem toca, o faça do modo que acha que tocaria para exprimir um determinado tipo de sentimento», por exemplo, «preocupação, ou irritação, etc.». Alguns dos participantes conseguiram «acertar entre 50 a 60% das vezes, o que é impressionante». Além disso, essa experiência permite perceber que, além de «conseguirmos discriminar os toques, beneficiaremos deles».
      Isto porque, de acordo com a fisiologia – ciência que estuda as funções dos seres vivos –, «o toque físico liberta mais oxitocina, que é considerado, digamos assim, o composto químico da ligação», indica o psiquiatra, não sendo «por acaso que nas situações da maternidade, ou em tudo o que tem a ver com crianças, essa hormona está no top ten daquilo que se passa em termos bioquímicos», diz o psiquiatra. Outra experiência provou que em situações de «sensibilidade à dor», no caso de, por exemplo, alguém estar de mão dada com a seu ou sua namorada(o), se sente «menos dor do que quando está sozinho(a)». 
     Para Júlio Machado Vaz, essas conclusões mostram «bem que o contacto físico próximo pode proteger, não só psicologicamente, mas também em termos físicos», sendo «um ato muito nobre no amor».
     Talvez um dos exponentes dessa mistura entre afectos e emoções, e a validação científica da importância do toque, acontece com «as crianças prematuras, pois, quando elas são tocadas, por exemplo, em intervalos de 15 em 15 minutos, ganham peso mais depressa do que se isso não acontecer». Ou também que «em orfanatos onde não há contacto caloroso com as crianças, o seu desenvolvimento cognitivo e afectivo é muito mais prejudicado do que naquelas que têm uma família à sua volta». 
     Resumindo, todos: «estamos, e é mais do que aceitável, cheios de vontade de tocar, não sabemos o que nos vai ser permitido, mas uma coisa temos obrigação: aquilo que não nos for permitido, devemos transmiti-lo de outras formas», pois, «quando o afecto está lá, até um olhar pode simular o toque de uma mão»@ Público

Sem comentários: