Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 28 de maio de 2020

opinião: ensino de emergência… até quando?


"Creio que quando a nossa vida voltar à normalidade... a escola acolherá os seus queridos alunos e professores de braços abertos, com a saudade própria que cresceu a par do isolamento e do individualismo que a Educação não comporta. Os alunos perceberão o quão importante é estar e aprender na presença dos colegas, partilhar, em colaboração e respeito, espaços coletivos (salas de aula, recreio, biblioteca, cantina,...), desenvolver atividades em grupo, brincar e até fazer pequenas traquinices", In TSF, 22.03.2020, Filinto Lima*

Poucos dias decorridos desde a adoção de recurso do "Ensino de emergência", comumente designado por Ensino à Distância, expus nestas páginas algumas das naturais consequências implicadas, e a importância de retornar ao espaço escolar.
A Organização do Ano Letivo 2020/2021 será, inevitavelmente, diferente do que nos foi permitido constatar nas duas últimas semanas do 2.º período letivo, do que nos encontramos a assistir ao longo deste 3.º período, e, sem dúvida, desigual ao adotado e desenvolvido até ao dia 13 de março. A tutela estará, seguramente, já a estudar vários cenários possíveis, tendo em conta o regresso de todos os alunos às suas escolas, cumprindo a necessária manutenção do distanciamento social, e que determina alterações na carga curricular, no número de alunos que uma sala de aula deverá comportar, antecipando, ainda, a eventual existência de novas vagas de Covid-19, entre diversas outras questões que surgirão, por inerência.
Realisticamente, este modelo é insustentável para as famílias, muitas depauperadas pelas condições económicas e sociais que as colocam nas mãos da solidariedade; quase todas psicologicamente exaustas, uma vez que passaram a exercer uma multiplicidade de funções para as quais não tinham habilitação ou preparação prévia, adaptando-se e reajustando-se no correr dos dias.
Não se estranha, por conseguinte, a promessa do primeiro-ministro no concernente à cedência de material informático aos alunos, no início do próximo ano letivo, nem mesmo quando o ministro da Educação, cautelosamente, equaciona a "conjugação entre o ensino à distância e presencial".
Estou ciente que o fatíloquo "mais vale prevenir que remediar" imperará nas tomadas de decisão pelo aumento das incertezas que pairam sobre o futuro da Educação.
A previsibilidade de um ano híbrido, no que respeita ao local onde decorrerão as aprendizagens, conduz-nos a nova e inevitável adaptação de rotinas e contextos, pese embora não se deseje que o processo ensino-aprendizagem ocorra nos lares dos nossos alunos e professores.
A distância não se coaduna com as práticas do ensino não superior, quer pela ausência de tradição (e ainda bem!), quer também pelas características próprias da faixa etária que abrange. Não se pode renegar ou restringir a necessidade dos relacionamentos e das interações na forma do contacto presencial e que, promovendo o currículo oculto, é indispensável para a construção do Eu em relação ao outro e na relação que estabelece com os outros, num processo preparatório e fundamental para a vida em sociedade, valorizando-se a cooperação e o coletivo.
A Escola, da qual todos têm imensas saudades, ainda que em moldes diferentes, será de acesso universal a partir de setembro, assim nos ajude o comportamento exemplar dos portugueses, e a Ciência, que vai dando passos firmes na descoberta da tão almejada vacina.

               * Professor; diretor; presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas

Sem comentários: