"Creio que quando a nossa vida voltar à normalidade... a escola acolherá os seus queridos alunos e professores de braços abertos, com a saudade própria que cresceu a par do isolamento e do individualismo que a Educação não comporta. Os alunos perceberão o quão importante é estar e aprender na presença dos colegas, partilhar, em colaboração e respeito, espaços coletivos (salas de aula, recreio, biblioteca, cantina,...), desenvolver atividades em grupo, brincar e até fazer pequenas traquinices", In TSF, 22.03.2020, Filinto Lima*
Poucos dias
decorridos desde a adoção de recurso do "Ensino de emergência",
comumente designado por Ensino à Distância, expus nestas páginas algumas das
naturais consequências implicadas, e a importância de retornar ao espaço
escolar.
A
Organização do Ano Letivo 2020/2021 será, inevitavelmente, diferente do que nos
foi permitido constatar nas duas últimas semanas do 2.º período letivo, do que
nos encontramos a assistir ao longo deste 3.º período, e, sem dúvida, desigual
ao adotado e desenvolvido até ao dia 13 de março. A tutela estará, seguramente,
já a estudar vários cenários possíveis, tendo em conta o regresso de todos os
alunos às suas escolas, cumprindo a necessária manutenção do distanciamento
social, e que determina alterações na carga curricular, no número de alunos que
uma sala de aula deverá comportar, antecipando, ainda, a eventual existência de
novas vagas de Covid-19, entre diversas outras questões que surgirão, por
inerência.
Realisticamente, este modelo é insustentável para as famílias, muitas
depauperadas pelas condições económicas e sociais que as colocam nas mãos da
solidariedade; quase todas psicologicamente exaustas, uma vez que passaram a
exercer uma multiplicidade de funções para as quais não tinham habilitação ou
preparação prévia, adaptando-se e reajustando-se no correr dos dias.
Não se estranha, por
conseguinte, a promessa do primeiro-ministro no concernente à cedência de
material informático aos alunos, no início do próximo ano letivo, nem mesmo
quando o ministro da Educação, cautelosamente, equaciona a "conjugação
entre o ensino à distância e presencial".
Estou
ciente que o fatíloquo "mais vale prevenir que remediar" imperará nas
tomadas de decisão pelo aumento das incertezas que pairam sobre o futuro da
Educação.
A
previsibilidade de um ano híbrido, no que respeita ao local onde decorrerão as
aprendizagens, conduz-nos a nova e inevitável adaptação de rotinas e contextos,
pese embora não se deseje que o processo ensino-aprendizagem ocorra nos lares
dos nossos alunos e professores.
A distância não se coaduna com
as práticas do ensino não superior, quer pela ausência de tradição (e ainda
bem!), quer também pelas características próprias da faixa etária que abrange.
Não se pode renegar ou restringir a necessidade dos relacionamentos e das
interações na forma do contacto presencial e que, promovendo o currículo
oculto, é indispensável para a construção do Eu em relação ao outro e na
relação que estabelece com os outros, num processo preparatório e fundamental
para a vida em sociedade, valorizando-se a cooperação e o coletivo.
A
Escola, da qual todos têm imensas saudades, ainda que em moldes diferentes,
será de acesso universal a partir de setembro, assim nos ajude o comportamento
exemplar dos portugueses, e a Ciência, que vai dando passos firmes na
descoberta da tão almejada vacina.
* Professor; diretor; presidente da Associação Nacional de
Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas
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