O "PÚBLICO na escola" desafiou e os nossos alunos deram resposta. Aqui segue uma entrevista imaginária ao nosso grande poeta Camões.
Homenagear a Língua Portuguesa
Desafio "Público
na escola" (dia 3)
Entrevista a Luís Vaz de Camões
Luís Vaz de Camões é um nome que une todo o povo português. Raro é o
indivíduo que desconheça a origem deste grandioso apelido. Conhecido pelas suas
palavras escritas em verso, Camões é considerado uma das maiores figuras da
literatura lusófona e um dos grandes poetas da tradição ocidental.
Tendo
nascido em Lisboa, com origens humildes, mudou-se para Coimbra com apenas 3
anos, na companhia dos seus pais. Em 1544, com 20 anos, deixou as aulas de Teologia,
curso que iniciara, e ingressou no curso de Filologia. Nessa altura, já era
conhecido como poeta.
Mais
tarde, foi preso, devido ao envolvimento numa rixa com um empregado do paço,
permanecendo um ano encarcerado. Posto em liberdade, Camões embarca para as
Índias. Esteve em Goa e tomou parte de várias outras expedições militares. É
nomeado provedor em Macau e também na China. Decidiu partir novamente para Goa,
mas a sua embarcação naufragou na foz do rio Mekong. Talvez mito ou não, Camões
conseguiu salvar-se nadando, levando consigo o manuscrito original de Os Lusíadas. Chegado a Goa, é preso novamente, em consequência
de novas intrigas.
Entrevistador:
Obrigada, por ter aceitado o nosso convite. É uma honra e uma imensa
responsabilidade, tê-lo connosco e poder fazer-lhe algumas perguntas…
Alguma
vez imaginaria que o seu nome seria uma parte tão importante de Portugal?
Antes de começar a responder, quero dizer-lhe a si e a
todos os portugueses que foi com enorme prazer que acedi ao convite de uma dama
tão formosa e delicada… A minha vida, nos últimos séculos tem sido um bocadinho
monótona… (risos)
Agora respondendo à sua pergunta! Deveras! Nunca achei que
pudesse vir a obter tamanho sucesso, mas fico-vos eternamente agradecido por
este reconhecimento. Trabalhei em Os Lusíadas para que tal acontecesse e alegro-me
por saber que o meu povo soube dar o devido valor a uma obra que foi
imensamente trabalhosa, mas sempre feita com o maior carinho. O meu maior
orgulho é pertencer a este meu povo lusitano, uma autêntica fonte de inspiração
para os outros povos.
Como descreveria a sua passagem pela prisão?
Nunca
achei que fosse possível o tempo passar tão devagar, mas admito que foi
merecido. Sempre fui muito impulsivo, receio dizer que talvez um pouco
barraqueiro também (ri-se), mas, infelizmente, não foram uns tantos meses
passados em celas que me mudaram. Por muito que tenha estudado diferentes
filósofos e autores nunca nenhum deles me tinha feito ter a visão que tive lá,
sobre a vida. Nunca a liberdade me tinha fascinado tanto. Como digo num poema
meu «Vi mágoas, vi misérias, vi desterros» e depois destas vivências ninguém fica
indiferente ao descobrir novas terras e viajar sobre o mar. Talvez graças a
esse fascínio, à minha vontade de enaltecer o meu grandioso povo ou ao
aborrecimento enfrentado nesses tempos, comecei a escrever Os
Lusíadas a primeira vez que estive encarcerado, lá em Lisboa.
E
agora a pergunta inevitável… como perdeu o seu olho direito?
Tem
noção das vezes que já respondi a esta pergunta? Continuam iguais os
Portugueses, sempre à procura das fragilidades do ser
humano… (suspiro) Perdi-o em Ceuta na guerra, a lutar pelo meu país e, por
isso, fá-lo-ia de novo. Primeiramente custou-me a habituar-me à pala (como
imagino que esteja a acontecer-vos com a máscara) e as pessoas na rua
olhavam-me de lado, divertiam-se a criar suposições sobre o que teria
acontecido. Dizer que tinha a beleza a meu favor seria mentir, mas depois
daquele acontecimento ainda mais “afeiado” fiquei. Disseram-me isto algumas
vezes.
O
seu aspeto físico não o afetava?
Fui alvo de alguns insultos, mas nada que me afetasse, não.
Sempre tive a o meu intelectual para disfarçar o resto, e, sinceramente, ele
era um sucesso com as senhoras. (sorri)
Com
certeza a Índia era muito diferente de Portugal. Como lidou com essa diferença
cultural e linguística?
A Índia...a minha velha compincha. Sim, sem dúvida que era
muito diferente da minha terra lusitana, mas o distinto sempre me encantou.
Explorei muito, vi coisas que jamais veria no meu amado país e conheci algumas
pessoas interessantes. Mas lá sentia falta de alguém para conversar sobre
algumas teorias minhas e temas mais ousados, parecia que nada entendiam sobre
as palavras que declamava, e também não eram grandes fãs das minhas obras.
Aquele povo não tinha curiosidade sobre o saber e isso intrigava-me, mas lá me
habituei. Falava-lhes muito sobre o meu ilustre povo lusitano, quanto mais
falava mais tinha saudades dele. Nesses momentos só pensava em regressar à
querida Lisboa, ainda para mais o trabalho que exercia era aborrecido e
monótono e faltava-me o dinheiro...
E
na China?
A China traz-me muitas recordações e ainda mais emoções.
Como
Dinamene?
Sim, como Dinamene. (suspira) O grande amor da minha
Vida!
Talvez
nos pudesse falar mais nela.
Ao longo da minha vida apreciei muitas mulheres, mas nenhuma
como Dinamene. Se existe isso a que chamam alma gémea ela foi a minha. Esta era,
sem dúvida, a mulher mais gentil, amável e doce que até hoje conheci. Nunca
parava de sorrir e tinha um enorme coração. Tudo me encantava nela. Cada
detalhe de Dinamene, cada traço me dava a inspiração para escrever dez
Lusíadas, mas apenas sobre esta e sobre a felicidade que me proporcionou.
Como
lidou com a sua perda?
Com a ajuda de um amigo íntimo ia voltar a Portugal, e ela
aceitou vir comigo também. Nunca tinha sentido tamanha felicidade igual à que
senti quando ela aceitou a minha proposta, mas também nunca senti tanta dor
como a que senti quando me apercebi que o mar a tinha levado de mim. Foi na
viagem de regresso que a perdi. Vivi anos muito amargurado, sempre a pensar
nela, a imaginar o que teríamos vivido os dois em Lisboa. Não foi fácil
conformar-me com uma realidade onde ela não estava mais presente. Desabafava
muito a escrever, essa foi, mais uma vez, a minha maior ajuda.
Por
falar no naufrágio, é verdade que nadou com uma mão a segurar Os Lusíadas?
É verdade, sim. O meu braço ficou dormente por dias, mas valeu
mais do que a pena. Aquela obra era tudo o que eu tinha, o meu esforço e
dedicação de anos, recusei-me a perdê-lo assim tão facilmente, em vão.
Em
poucas palavras, o que Luís diria sobre a vida que viveu?
Foi uma vida cheia de experiências maravilhosas, tentei
sempre vivê-la da melhor forma, apesar do tempo perdido em celas (ri-se). Por
outro lado, foi bastante amargurada também, fui pouco amado, mas acredito que
estou diariamente a ser apreciado por todos vocês que estudam as minhas obras,
e recebo o amor que nunca consegui obter, desta forma .Sou um marco para
Portugal e para o mundo, o meu nome nunca vai ser esquecido, por isso já valeu
mais do que a pena.
Benedita Teixeira,
10ªG
Conteúdo inspirado
na visualização, em aula, da reportagem RTP2
«Grandes
Portugueses-Luís de Camões», por Helder Macedo
1 comentário:
Muito Bom
Estamos "vivos"
Filó
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