Relatório mostra quebra acentuada dos alunos portugueses nos resultados de matemática. Para inverter a situação, especialistas defendem que currículos da disciplina devem ser mais claros e rigorosos. E que existam também mais momentos de avaliação intermédia.
A pandemia e a greve dos professores no último ano letivo afetaram as aprendizagens dos alunos portugueses, assim como a abolição das provas finais de ciclo (2.º e 4.º anos), a interrupção da certificação de manuais escolares e a simplificação do currículo da disciplina de Matemática em 2018. Estas são algumas das razões apontadas pela Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) para os resultados fracos dos alunos nacionais no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) 2022, que analisou os conhecimentos de jovens de 15 anos em leitura, matemática e ciências. Segundo este relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), os alunos portugueses pioraram o seu desempenho nos testes de matemática, colocando o país entre aqueles que mais baixaram a pontuação nesta disciplina.
Em comparação com 2018, o desempenho médio dos países da OCDE caiu quase quinze pontos nesta disciplina. Os resultados nacionais são mais graves: os estudantes obtiveram 472 pontos a matemática, ou seja, menos 20,6 pontos do que nas provas realizadas em 2018. Quase sete mil alunos de 224 escolas em Portugal realizaram as provas de 2022.
Apenas 7% dos
alunos portugueses tiveram desempenho elevado a matemática, tendo atingido os
níveis 5 ou 6 numa escala de seis valores. A média da OCDE está fixada nos 9%.
Apenas em 16 dos 81 países e economias participantes no PISA 2022, mais de 10%
dos alunos conseguiram atingir os 5 ou 6 valores.
O presidente da
SPM, José Carlos Santos, considera que o currículo atual de matemática,
reduzido às chamadas Aprendizagens Essenciais, é pouco rigoroso e pouco
estruturado. O dirigente considera que para reverter esta situação será preciso
mudá-lo. "São necessários programas de Matemática claros, com temas bem
estruturados e bem sequencializados. É também preciso motivar os alunos para um
trabalho persistente", afirma José Carlos Santos, ao DN, alertando ainda
para a necessidade de existirem mais momentos de avaliação intermédia, como
"exames de final de ciclo", que atestem a evolução das aprendizagens
dos alunos e identifiquem necessidades de maior intervenção pedagógica.
Por sua vez, Joaquim Pinto,
presidente da Associação de Professores de Matemática (APM), também se mostrou
preocupado com os resultados, alertando para a "falta de professores"
e para o facto de estes alunos serem, no futuro, "os políticos, os
jornalistas, os professores" do país.
Este estudo da OCDE também
analisa o impacto das condições socioeconómicas dos estudantes, sendo que é um
dos fatores que mais influencia os resultados académicos. Os estudantes
portugueses de famílias mais privilegiadas tiveram uma pontuação média de 522
pontos, ou seja, 101 pontos acima da média dos alunos mais carenciados. Esta
diferença de resultados não se afasta muito da média dos países da OCDE (93
pontos), que procurou os casos de sucesso entre os mais carenciados. Em
Portugal, cerca de 9% dos estudantes desfavorecidos conseguiram estar entre os
melhores alunos a matemática, sendo a média da OCDE de 10%.
A nível da leitura e da ciência,
as duas outras disciplinas avaliadas neste estudo, também se assistiu a quebras
de desempenho. Na leitura, os resultados médios dos alunos portugueses pioraram
para 477 pontos, assistindo-se a uma descida de 15,2 em relação a 2018. Já na
prova de Ciências, em 2022, os alunos portugueses obtiveram 484 pontos, menos
7,3 pontos do que em 2018. Numa comparação entre sexos, os rapazes portugueses
voltam a ser melhores a matemática (mais 11 pontos) e as raparigas a leitura
(mais 21 pontos).
Ministro diz que
"pandemia não explica tudo"
O Ministro da Educação, João
Costa, revelou preocupação com os resultados obtidos mas sublinhou que é
necessário identificar as causas que levam os alunos a ter mais dificuldade a
Matemática e Leitura.
"A descida tem a ver com a pandemia. Mas a pandemia não explica tudo porque há uma queda na OCDE, desde 2012, que ainda não foi suficientemente explicada", disse o ministro. Fonte: DN
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