A Academia sueca atribuiu hoje o prémio Nobel da Física a Roger Penrose, Reinhard Genzel e Andrea Ghez por descobertas na área dos "segredos mais obscuros do Universo".
O físico britânico Roger
Penrose venceu o prémio por descobrir que a formação de buracos negros "é
uma previsão robusta da teoria geral da relatividade", considerou a
Academia.
Quanto ao alemão Ghenzel e à norte-americana Ghez, venceram o
Nobel da Física pela descoberta de "um objeto compacto supermassivo no
centro" da Via Láctea.
O anúncio do prémio foi feito hoje em Estocolmo pelo
secretário-geral da Academia, Goran Hansson, que afirmou que, devido à
pandemia, quer as palestras dos laureados quer a cerimónia de atribuição do
prémio se realizarão remotamente, por videoconferência, devido às restrições
impostas pela pandemia da covid-19.
Roger Penrose, professor da Universidade britânica de Oxford
receberá metade do prémio pecuniário de cerca de 950 mil euros, enquanto Andrea
Ghez e Reinhard Genzel, ambos professores da Universidade da Califórnia,
repartirão o resto.
O prémio chegou a ser apontado à portuguesa Elvira Fortunato.
Buracos negros são ainda um grande enigma
para a ciência
A laureada com o
prémio Nobel da Física deste ano Andrea Ghez admitiu hoje que nenhum cientista
sabe exatamente o que se passa dentro de um buraco negro, daí o fascínio da
ciência por eles.
“Não sabemos. Não fazemos
ideia do que está dentro de um buraco negro. É isso que faz deles objetos tão
exóticos, tão intrigantes. Eles representam o colapso do nosso entendimento das
leis da Física”, afirmou a física e astrónoma norte-americana ao telefone, em
direto com jornalistas na cerimónia do anúncio do prémio.
Andrea Ghez recebeu o prémio ex-aequo com Reinhard Genzel, com
quem descobriu a existência de um buraco negro supermassivo no centro da
galáxia.
Questionada sobre o facto de ser a quarta mulher a receber o
Nobel da Física, Andrea Ghez afirmou esperar que “inspire outras jovens
mulheres a seguir a área”, salientando que a “perceber a realidade do mundo
físico é crucial para os seres humanos”.
O membro do comité do Nobel Ulf Danielson disse aos jornalistas
que “Reinhard Genzel e Andrea Ghez provaram que os buracos negros existem”, um
trabalho desenvolvido ao longo de décadas.
Fizeram-no usando equipamento muito sofisticado, com o qual “monitorizaram estrelas em órbita de algo que não conseguiam ver”.
No entanto, frisou que o caminho já tinha sido aberto por Roger Penrose, que a partir de meados da década de 1960 “lançou as bases teóricas que permitiram dizer que estes objetos existem e que podem ser encontrados se se for à procura deles”.
“Antes de Penrose, isso estava
longe de ser claro. Ele compreendeu a matemática e introduziu ferramentas novas
que permitiram provar o processo através do qual [os buracos negros] ocorrem
naturalmente”, descreveu.
Até lá, com inspiração na teoria geral da relatividade do físico
Albert Einstein, “pensava-se que seriam apenas artefactos matemáticos que não
se podiam formar na realidade”.
“O nosso entendimento atual dos buracos negros é que são regiões
no espaço com uma gravidade tão forte que nem a luz consegue escapar-lhe”,
resumiu.
A teoria geral da relatividade, aplicada aos buracos negros, prevê que quando se atinge o seu limite – o horizonte de um buraco negro – o tempo e o espaço ficam distorcidos ao ponto de o tempo, a que normalmente “não se consegue escapar, nem fazer voltar para trás”, passa a mover-se inexoravelmente para o centro do buraco negro.
“É tão difícil sair de um buraco negro como voltar atrás no tempo”, disse Ulf Danielson. @ Sapo
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