Porque a voz de um é, muitas vezes, a voz de muitos, aqui fica um texto da autoria do professor Cândido Pereira, diretor do centro de formação maiatrofa.
Quando li o texto da imagem que reproduziram no post "educação: o fim do projeto MAIA", fiquei um pouco confuso e tive de ir estudar para ver se entendia o que se estava a passar. De tudo isto resultam algumas conclusões que podem ajudar alguns leitores a interpretar a notícia. Eu sei que alguns vão achar pretensiosismo, mas é apenas defeito profissional.
Começando pela esquerda do "slide", "Focar a avaliação pedagógica na aprendizagem", não me traz qualquer problema porque não faço a mínima ideia do que é uma coisa a que se dá o nome de avaliação pedagógica e que tenha foco noutra coisa que não sejam as aprendizagens dos alunos. De facto na Escola é comum ouvir "temos de fazer a avaliação (pedagógica) dos alunos", quando o correto seria "temos de fazer a classificação dos alunos". Outra coisa é fazer a avaliação pedagógica das aprendizagem dos alunos. Até aqui tudo bem, sendo que esta aposta não é deste governo mas sim dos governos desde 2015 e de outros anteriores.
Passando para o lado direito do slide, onde supostamente apareceriam medidas de operacionalização da decisão enunciada à esquerda, aparece no título "Cessar o projeto MAIA", depois do sobressalto que tenho sempre por achar que estão a falar do nosso querido concelho, foquei-me no género que neste caso é masculino e revi mentalmente o que ouvi o Professor Domingos Fernandes dizer na apresentação deste projeto, feita para os diretores dos centros de formação do norte do país. Nesta altura, tive oportunidade de lhe dizer que a escolha do nome MAIA poderia trazer-nos alguns mal entendidos e gracejos que nós bem dispensaríamos. Ficou claro que o projeto MAIA não nasceu na Maia, que as pessoas envolvidas no projeto não são chamadas de maiatos e que não tem nada a ver com o Lidador, é simplesmente um projeto de investigação/ação sobre avaliação pedagógica, isto é, avaliação das aprendizagens dos alunos. Então a coisa começa a ficar estranha na medida em que acabar com o projeto MAIA, que se foca sobre a avaliação pedagógica, aparece como a medida suprema de uma decisão onde se diz que se vai pôr o foco na "avaliação pedagógica das aprendizagens". Aqui, pensei que iria encontrar resposta para as minhas dúvidas nas frases seguintes e li: "Incorporar as orientações sobre a avaliação pedagógica na DGE". Confesso que não entendi o que queriam dizer e juntamente com colegas da arte, pusemos hipóteses mas não conseguimos compreender a hermenêutica da frase. "Incorporar" tem algo esotérico, então a DGE, qual entidade mediúnica, incorporaria um espírito que são as orientações sobre a avaliação pedagógica. Mas que raio de espírito é este? De onde emanam estas orientações? Da DGE, sem sombra de dúvidas! Então como é que a DGE pode incorporar uma coisa que já faz parte do seu corpo? Vamos admitir que o verbo foi mal escolhido e aquilo que o autor queria dizer é que de aqui para a frente, perante o falecimento do projeto MAIA, é a DGE que dá as orientações sobre avaliação pedagógica, que antes eram dadas pelo projeto MAIA. Aí, o paradoxo é outro, porque o projeto MAIA nunca teve competência de dar orientações às escolas, foi sempre a DGE que produziu orientações para a aplicação daquilo que está determinado pelos normativos legais em vigor. As orientações com que o projeto MAIA trabalhava são aquelas que estão patentes nos documentos publicados pela DGE, por exemplo, aqui: https://apoioescolas. dge.mec.pt/sites/default/ files/2021-02/folha_avaliacao_ pedagogica_classificacao_e_ notas_perspetivas_ contemporaneas.pdf
Digam lá se as orientações deste texto, produzido pelo atual presidente do Conselho Nacional de Educação é válido ou prescreveu agora.
A problemática em torno desta questão é muito complexa e não são sounbytes que soam a música para muitos ouvidos que vão solucionar isto a que os professores chamam "avaliar".
Cândido Pereira, diretor do centro de formação maiatrofa
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