Quem, dos mais velhos, não conhece o jingle? Provavelmente cresceram a ouvir, diariamente, o divulgador José Duarte nos seus "Cinco Minutos de Jazz".
José Duarte tinha 84 anos. Morreu durante a madrugada, pacificamente, em casa.
"Tenho um vício, vou confessá-lo, que é querer que os outros gostem das músicas, dos quadros, dos filmes de que eu gosto. É isso que faço com o jazz, que é a melhor música que foi inventada no século XX. Sou um divulgador", dizia José Duarte numa entrevista em 2016.
"O jazz é a minha razão de viver. Dá-me alegrias permanentes e a possibilidade de falar com as outras pessoas em paz", disse numa outra conversa a propósito dos 60 anos do programa de rádio.
"Foi, a seguir ao Luís Villas-Boas, a pessoa mais importante na divulgação do jazz em Portugal", diz à CNN Portugal o investigador João Moreira Santos, autor de vários livros sobre jazz e também ele autor de um programa de rádio, "Jazz a Dois". "Aprendi muito com o José Duarte. Era um excelente comunicador e tinha muito prazer em divulgar. Com os seus programas, na rádio e na televisão, conseguiu levar o jazz a casa de todos os portugueses, inclusivamente daqueles que que não gostavam de jazz."
Moreira Santos recorda também "a sua veia política", sobretudo antes do 25 de Abril, quando estava sempre sob o olhar da PIDE. "O free jazz era uma música muito politizada, sobretudo nos Estados Unidos onde estava muito ligado aos movimentos pelos direitos cívicos dos afro-americanos", explica o investigador.
Crítico e divulgador de jazz, José Duarte foi fundador, com Raul Calado, do Clube Universitário de Jazz de Lisboa, em 1958, e teve, ao longo da carreira, vários programas, entre os quais o "Jazz, esse desconhecido", na rádio, logo no início da sua carreira, e o "Outras Músicas", na televisão, já nos anos 90 e mais tarde o "Jazz a preto e Branco", em 2001. . O mais popular foi "Cinco Minutos de Jazz", que esteve na Rádio Renascença até 1975, depois na Comercial entre 1984 e 1993, e finalmente na Antena 1 até hoje, com breve passagem pela Antena 2. Em 2014, o conteúdo radiofónico recebeu o Prémio Autores da SPA para Melhor Programa de Rádio. “A menina dança?”, “Jazz com brancas” e “À volta da meia-noite” foram outros dos programas de rádio a que esteve ligado.
Além disso, foi correspondente de revistas estrangeiras e "ajudou a pôr o jazz português lá fora", sublinha João Moreira Santos. E entregou, ainda em vida, o seu legado à Universidade de Aveiro, "o que é muito importante".
José Duarte foi condecorado pelo Presidente da República, em 2009, com a Grande Cruz Oficial de Ordem de Mérito.
O ministro da Cultura recordou o modo como José Duarte, "Jazzé", como ele gostava de se chamar, divulgava o jazz "de forma apaixonada, incessante, por todos os meios". "É responsável pelo amor ao jazz de várias gerações, tendo sido um verdadeiro impulsionador da democratização do acesso a este género musical", escreve Pedro Adão e Silva. @ CNN
Até sempre, Jazzé! Saiba que conseguiu concretizar a sua vontade: hoje, todos gostamos mais um bocadinho de jazz, graças a Si.
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