O trabalho de Escrita «Viver abril
fechado em casa» surgiu como proposta de trabalho numa aula de Português de 10º
ano (turmas C, G e H, do Agrupamento de Escolas de Águas Santas), no âmbito do
Ensino à distância.
O formato proposto foi um texto de
opinião (crónica), que refletisse a contradição de vivenciar o dia da
Liberdade, confinados e enclausurados em nossas casas. Os trabalhos
apresentados foram selecionados para o «Jornal Crescer», Jornal Escolar em
formato digital do referido Agrupamento, e serão publicados no «Público na
Escola».
cortesia de Elsa Gonçalves, docente responsável pelo projeto
Amanhã poderão encontrar no «Público na escola» estas e outras crónicas que o "CRESCER" avança em primeira mão. As três crónicas que aqui se publicam constituem uma mera escolha da equipa editorial. São três crónicas que bem ilustram as "portas que abril abriu".
A liberdade
conquistada no 25 de abril e a clausura que nos obrigam a viver na atualidade
Em
breve iremos comemorar o quadragésimo sexto aniversário do acontecimento que
ficou para sempre marcado na História de Portugal, na memória dos portugueses
que um dia viveram num regime ditatorial: 25 de abril, a Revolução dos Cravos
que nos devolveu a liberdade.
A
minha geração deve ao 25 de abril a liberdade de pensar, participar, exprimir e
discordar. Já passaram 46 anos e já são muitos os portugueses que, felizmente,
nunca viveram num país em que censura e
medo eram as palavras de ordem.
Os
desafios dos jovens antes do 25 de abril de 1974 estavam centrados em três
objetivos: a paz em África, a democracia e o desenvolvimento. Em 2020, o
desafio dos jovens é muito mais global, complexo e exigente com uma revolução
digital em curso, rápidos avanços tecnológicos e científicos e problemas ambientais graves pelo efeito das
alterações climáticas.
Hoje,
Portugal vive em estado de emergência devido à Covid-19. Esta doença alterou a
vida das pessoas. As populações estão em estado de alerta. Instalou-se o medo, a
apreensão e a angústia, sentimentos outrora experimentados pelos nossos pais ou
avós.
O
país combate de forma desigual um inimigo invisível que não dá tréguas. Na
linha da frente há um exército de bons soldados, aqueles que não podem ficar em
casa para que os outros não integrem as listas dos infetados. São técnicos e
auxiliares de saúde, médicos, enfermeiros, polícias, militares, bombeiros,
autarcas, funcionários dos supermercados, de distribuição de correio e de
produtos e serviços, e outros tantos que, no dia a dia, arriscam tudo, para o
bem de todos nós.
O país obedeceu às decisões das
autoridades, cumpriu as medidas impostas, e a grande maioria acatou. Os poucos
que não cumpriram, geraram uma onda de revolta generalizada. A exceção
tornou-se normal. A oposição tornou-se colaboração. Há, pela primeira vez em
democracia, uma unidade nacional e natural. O país mobilizou-se e uniu-se
contra o inimigo comum.
Todos
fomos chamados para abdicarmos “temporariamente” da nossa liberdade e
concordamos. Porque não é a liberdade ou a democracia que estão em risco, mas
sim a vida.
Esta
é uma grande conquista de Abril: uma nação que se une para combater um inimigo
comum.
Ana Beatriz Silva
A liberdade conquistada no 25 de abril e a
clausura que nos obrigam a viver na atualidade
Nos dias que correm, temos
vivenciado algo diferente: o terror de uma pandemia, desta vez, da COVID-19.
Tendo em conta a sua expansão no mundo, em Portugal foi implementado um estado
de emergência, aliado a uma quarentena que, infelizmente, já dura há mais de
quarenta dias.
Do meu ponto de vista, as
condições a que temos sido submetidos são indispensáveis para controlar este
surto. Contudo, estas têm sido aceites pelas pessoas de formas distintas,
havendo quem esteja a aguentar bem e pacientemente e quem se esteja a sentir em
pânico por quase não poder sair de casa.
Pessoalmente, achei que seria
muito mais complicado do que realmente tem sido, mas isso não me impede de
sentir saudades de passear, de ir à escola, de ir às compras ou, simplesmente,
de poder sair de casa sem qualquer restrição deste género.
Eu sei que há muitos indivíduos a
não concordarem, porém, na minha opinião, o aparecimento deste vírus trouxe
benefícios ao planeta, pois as limitações impostas conduziram, por exemplo, à
redução dos níveis de CO2 e ao consequente abrandamento do aquecimento global.
Há males que vêm por bem.
Agora que se aproxima o glorioso 25 de abril, data que marca a queda
de uma ditadura que atormentou o país durante vários anos e assinala a
conquista da liberdade, as pessoas queriam ir para as ruas celebrá-lo, algo que
este ano não acontecerá devido à clausura que nos foi imposta. Isto contradiz,
de alguma maneira, o significado desse dia, mas apesar desta contingência,
temos de ser positivos e pensarmos que tudo o que está a acontecer é o preço a
pagar para voltarmos a ter uma vida normal e livre.
Concluindo, podemos afirmar que estes
dois acontecimentos são completamente discrepantes e que, embora o confinamento
seja difícil, o impedimento de um levará à contínua diminuição do outro.
Sofia Resende
25 de abril e a clausura atual
25 de abril de 1974 foi um dia que ficou para
a História pois conseguimos conquistar a Liberdade. Atualmente, vivemos num
regime político que tem por base a democracia. Então, por que estamos fechados
em casa com regras e restrições?
O 25 de
abril foi uma data muito importante, pois o regime ditatorial foi derrubado
definitivamente; conseguimos conquistar a liberdade e os nossos direitos; a
PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) foi extinguida, a censura
deixou de existir e, atualmente, podemos expressar a nossa opinião livremente
sem sermos presos ou torturados. Embora seja do conhecimento comum que a
ditadura foi um acontecimento negativo, ainda há pessoas que não festejam a
nossa liberdade e são a favor da ditadura. Apesar do regime fascista ter sido
destituído no dia 25 de abril de 1974, não impede que, atualmente, partidos
políticos com ideais ditatoriais tenham representação na sociedades.
Na minha opinião,
devemos estar atentos a tudo que acontece à nossa volta, pois não podemos
permitir que se volte a instalar este regime em Portugal. Nós, os mais jovens,
temos a responsabilidade de não deixar esquecer esta data, o que ela simboliza,
festejar e lutar para que continue garantida a liberdade de todos.
Normalmente,
festejamos o 25 de abril nas ruas, mas atualmente estamos com um problema de
saúde pública que já afetou milhares de pessoas pelo mundo, o Coronavírus. Este
vírus, que pode ser transmitido facilmente entre os humanos, obriga a que
tenhamos de manter um certo distanciamento social, ou seja, não podemos estar
muito próximos uns dos outros e a ter cuidados especiais de higiene pessoal.
Devemos seguir as orientações da Organização Mundial de Saúde, saindo apenas
para tarefas ou trabalhos essenciais. O cumprimento destas regras e recomendações,
não implica que não tenhamos liberdade novamente. Elas só estão em vigor para
que as pessoas se mantenham seguras, não transmitam ou se contagiem com o vírus
e, assim, não piorem a situação. Antes
de vivermos num regime democrático as pessoas não podiam sair à rua, mas por
razões políticas. Muitas eram enclausuradas nas prisões, como garante para o
regime fascista de que não “contagiariam” a restante população com os seus
ideais democráticos.
Por isso,
devemo-nos sentir felizes pelo facto de vivermos em liberdade, de escrevermos,
falarmos e exprimirmos as nossas opiniões livremente, sem sermos censurados ou
presos por isso.
Apesar do
constrangimento de estarmos confinados em casa, na minha opinião, temos de
pensar que a quarentena é por um bem maior e se nós a respeitarmos, o
aborrecimento e a tristeza de estar em casa vai acabar mais cedo, porque tudo
ficará resolvido mais rapidamente.
José Braga
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