Antes de flexibilizar o currículo,
é preciso que nos flexibilizemos a nós…
daqui |
Os desafios que se nos colocam obrigam a um trabalho árduo de
desconstrução e de (re)colocação em perspetiva da gramática organizacional que
ainda impera nas nossas escolas. Em vez da especialização e da fragmentação de
saberes, Edgar Morin propõe um dos conceitos que o tornaram um dos maiores
intelectuais do nosso tempo: o da complexidade. O pensador critica o modelo
ocidental de ensino que, segundo ele, separa os conhecimentos artificialmente
através das disciplinas.
Apesar dos múltiplos constrangimentos, que são reais e não fruto da
imaginação dos mais céticos, apesar das resistências que se adivinham - e já se
sentem - ,as mudanças que por aí pairam, mais do que “modinhas passageiras”, têm de ser
percebidas como imperativos urgentes. A compartimentação e estandardização dos
saberes tem de ser substituída por uma lógica interdisciplinar e
transdisciplinar, o trabalho ainda muito isolado dos professores tem de ceder
lugar às práticas cooperativas e colaborativas, e as metodologias e
estratégias, ainda excessivamente uniformes e estandardizadas, têm de se tornar
diversificadas, flexíveis e adequadas à heterogeneidade de alunos e alunas.
Não posso deixar de manifestar a minha concordância com a opinião de António
Figueiredo, expressa no seu Blogue:“(…)
não é fácil falar de competências num mundo onde toda a gente fala de
conhecimentos, conteúdos e disciplinas. (…) É um pouco como tentar explicar que
a Terra é redonda a uma multidão que tem a certeza absoluta de que ela é plana,
ou afirmar que a Terra anda à volta do Sol perante uma população que acredita
que é o Sol que anda à volta da Terra”. (https://medium.com/@adfig/que-competências-para-as-novas-gerações-ii-e000f41e16b2)
Como defende o mesmo autor, é chegada a hora de as nossas escolas privilegiarem
as “pedagogias emancipatórias”, ao invés de fomentarem “pedagogias predominantemente
explicativas”.
Difícil? Claro que sim. A mudança é um processo lento, nem sempre
linear e, com certeza, não isento de incerteza, complexidade, imprevisibilidade
e possibilidade de erros. Mas ´o caminho faz-se, caminhando`. E o caminho, seja
ele qual for, deve ser partilhado e concertado por todos, e não resultado de
iniciativas pontuais e individuais que, ainda que repletas de mérito, serão
sempre desprovidas de um sentido coletivo que as efetivas mudanças sempre
convocam.
E não, o “55” não é só o
autocarro que nos leva do Bolhão até Baguim do Monte, colegas… Com o “55” que
por aí circula, os destinos são múltiplos e ainda em aberto. Compete-nos a nós definir-lhe
o rumo!
Ana Granja
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