Hoje, o rosto da escola que damos a conhecer é o de Natália Caminha, docente de Física e Química.
O CRESCER quis saber o seu percurso profissional, de que forma sentiu a revolução de abril, as suas preferências literárias e musicais e os seus passatempos.
Fale-nos um pouco da sua carreira profissional.
Leciono há trinta e seis anos, apesar da
minha formação académica não estar relacionada com o ensino. Eu acabei o curso
em 1974, com o intuito de trabalhar na área de indústria têxtil, mas, nessa
época, a indústria começou a afundar, devido ao excesso de trabalhadores, em
parte, e acabei por não conseguir arranjar emprego. Entretanto, esperei dois
anos, mas, como não sou pessoa de esperar muito, comecei a dar apoio a filhos
de amigos e desenvolvi o meu gosto pelo ensino. Concorri e enveredei nesta área
profissional. Fui chamada, ao fim de oito anos, para trabalhar numa empresa
onde tinha estagiado. O vencimento era o mesmo, mas conseguiria mais
profissionalmente. Refleti e acabei por decidir continuar a dar aulas, visto
que era o que eu gostava mesmo de fazer. Ensino, ainda hoje, porque gosto.
Infelizmente, terei de ir embora para o ano, porque a isso me obrigam. Mas
ensinar é algo que faço com genuína paixão.
O sucesso dos meus alunos marca-me
muito. Tenho o prazer de reencontrar ex-alunos formados e com carreiras
profissionais boas. É a coisa que me dá mais gozo, especialmente quando se
lembram de mim. É um grande orgulho ver os meus alunos formados e bem na vida,
sabendo que os consegui ajudar nisso. O que me move nesta profissão é,
fundamentalmente, o carinho que tenho pela profissão e também por quem ensino.
Sentiu o impacto da Revolução
de abril em 1974?
A minha consciência política era muito
reduzida, primeiro porque vivia numa família muito tradicional e que, portanto,
estava bem com o regime e, depois, porque, à época, não tínhamos acesso a muita
informação de cariz político, devido, em parte, à censura de livros. Apesar
disto, eu estava em contacto com outras realidades, enquanto filha de
emigrantes: os meus pais foram para a Venezuela e, naquela altura, eu conhecia
o sistema democrático. Na verdade, era isso que eu queria para o meu país, daí
que também nunca tenha querido emigrar. Queria que a mudança se desse cá.
Lembro-me, no entanto, de ter na porta
do meu quarto um poster do Che
Guevara, que era um herói para mim, devido ao seu caráter revolucionário. A
minha reduzida consciência política não me fez conformada, pelo que eu era, na
verdade, muito "do contra". Não sabia bem porquê, mas era. Ia para manifestações,
já na faculdade, mas na hora de fugir as pernas eram fiéis ao corpo, porque
sabia que seria muito complicado para a minha família saber-me presa ou com associada a algo revolucionário. Assim, andei, sobrevoando, por todos os lados.
Quais as suas
preferências literárias e musicais?
Eu gosto muito de ler. Tenho dois livros
que me marcaram muito: Cem Anos deSolidão, de Gabriel García Márquez, e Teresa Batista Cansada de Guerra, de Jorge Amado. O primeiro li antes de se tornar
um best seller, tendo gostado muito
dele e o segundo porque me foi dado pelo meu marido, horas antes de eu ter o
meu filho. Este livro marcou-me profundamente.
Em 1974, eu tinha vinte e quatro anos e
ouvia The Beatles, Pink Floyd, por aí… Gosto muito de música, mas não tenho
padrões nem heróis, aliás, acho que os heróis se fazem.
Quer falar-nos um
pouco dos seus passatempos?
Neste momento tenho um papel fundamente,
ser avó. É uma maravilha ter um neto com três anos que me preenche
completamente, no entanto, não sou avó a tempo inteiro. Gosto muito de animais
e costumo dizer que para o ano, quando me reformar, vou fazer voluntariado numa
associação de apoio a animais. Gosto tanto de animais que acho que passei ao
meu filho esse gosto, de tal forma que ele hoje é veterinário. Não escolhi, de
todo, o curso dele, nem o condicionei, sequer, mas, na verdade, sempre vivemos
com animais. Quando era mais nova, vivia com os meus avós e tínhamos muitos
animais, mas nunca os comíamos. Por exemplo, a minha avó trocava as nossas
galinhas com as dos vizinhos, devido ao carinho que todos tinham pelos animais
que criavam.
Santorini |
Também gosto muito de viajar e, quando o
faço, opto por alugar um quarto em casa de alguém para perceber a realidade do
sítio. Gosto, fundamentalmente, do contacto com as pessoas e considero que esse
seja o meu hobby, conhecer pessoas e
compreender a sua cultura. Aliás, se não fosse formada em Química, seria em
Filosofia. Achava que esse curso me levaria mais longe, mas o meu pai dizia que
só dava para ser professora. Ironicamente, acabei por ser professora, só que de
outra área.
ilha de Creta |
Destaco, das minhas viagens, uma ilha
grega, Santorini, que é fantástica e parecida com o nosso Alentejo porque tem o
mesmo estilo de casas, mas enquanto ilha vulcânica, também se assemelha à
Madeira. Quando lá fui, fiquei em quartos de casas de família e as pessoas de
lá são fantásticas. Recebem-nos lindamente e, para mais, a ilha é magnífica,
muito azul. Destaco também a Ilha de Creta que é o retrato da civilização
antiga. Estes são os meus destaques.
Ana Pinto e Rita Almeida
4 comentários:
Olá Natália !Com que então filósofa !! Olha, escrevo estas linhas para te dizer que gostei muito de ler as tuas palavras e que gosto muito de ti. Vou ter saudades do teu riso e da tua boa disposição.
Beijinho e Até sempre!!
Ana César
Li esta entrevista e adorei.
Esta SRA. professora é muito simpática e BOA professora.
Falo com conhecimento de causa porque é professora do meu filho.
Sei que vai reformar-se, tenho pena porque no próximo ano poderia vir a ser professora dele novamente.
Tudo de bom.
Miriam Gonçalves
Perdeu-se uma filósofa mas definiu-se como uma excelente professora de fisico-quimica e uma enorme amiga. Gentil e excelente companhia nas viagens :) sempre pronta para uma aventura e para fruir a vida.
Isabel Gomes
Muito bem Natália. Gostei! Grande abraço ade amizadade :)
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