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quinta-feira, 17 de março de 2011

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!
Fernando Pessoa

(Actual ou nem por isso?)

7 comentários:

João Rocha disse...

A(c)tualíssimo.

carmen madureira disse...

Este poema de Fernando Pessoa fez-me lembrar este de Álvaro de Campos, que traduz o meu sentir neste momento.

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

marcelo disse...

dois belíssimos poemas que podem ser escutados no CD pessoano que o 12.ºH de 2003/2004 gravou :)

mc disse...

E eu tenho, Marcelo!:)

marcelo disse...

Pois tem :)
Nós fomos tão modestos com esse trabalho que contam-se pelos dedos as pessoas da escola que não o têm :)

marcelo disse...

Veio agora à minha memória as palavras atribuídas a um general romano aquando da invasão da Península Ibérica: "Há, na parte ocidental da Ibéria, um povo muito estranho: não se governa nem se deixa governar"

Ontem como hoje...

Ana Félix disse...

Mesmo a calhar, infelizmente!