É sempre com uma certa sensação de vertigem que chego a esta altura do ano. Muito cansaço, muito trabalho para acabar, o corpo a pedir descanso...
E, apesar de esta ser a última reunião do ano letivo e sobrar já um certo gosto a férias, é também a reunião em que se decide o ano letivo seguinte. São minutos terrivelmente decisivos os que cada um dispõe para reagir às opções que lhes são oferecidas. Neles se definem futuros e se determinam caracteres. Por estas razões, parto para estas reuniões sempre ansiosa.
Hoje, estive particularmente indisposta. Curiosamente, não pelas razões que acabei de antecipar. De repente, tudo se relativizou. Ter este ou aquele nível, ouvir algumas vozes, não foi importante. Eu teria horário e as vozes desagradáveis podem sempre tolerar-se.
Estive particularmente indisposta porque vi sair, pela honrosa porta da frente da escola, colegas que "vestiram a camisola" durante anos e que agora não têm horário. E ergui-me para aplaudir o trabalho delas e ergo-me, ainda agora, em modo solidário e reconhecido porque não consigo sequer imaginar o que é estar na sua situação.
É que as pessoas têm nomes e rostos e não são descartáveis! É certo que as escolas não são centros de emprego, mas devem ser locais onde se educa e se ensina. E quando o ministério ordena que se ponham fora aqueles que nos fazem falta, que nos dignificaram, que foram NÓS, estamos a dar o pior dos exemplos.
Virão outros, dirão alguns. Talvez até melhores, dirão outros. Mas não A Elisa, A Estela, A Lurdes, O Miguel, O Paulo, O... , A ... que nos fazem falta porque souberam CRESCER connosco.
Não pude dizer isto a cada um de vós, mas gostava que soubessem.
A todos vós, companheiros, um abraço apertadinho!
Manuela Couto
8 comentários:
É sempre com muita tristeza que vejo partir quem trabalhou comigo. partilhou as suas vivências e fez parte desta grande família que é a escola. Mas este ano, essa realidade é ainda mais dura e difícil pela incerteza do regresso destes coleguinhas que já estavam connosco há algum tempo. As maiores felicidades é o que vos desejo do fundo do coração.
Um forte abraço.
Não tenho palavras melhores que as da Manuela e da Eduarda. No entanto, quero dizer que também eu me senti triste, revoltada, irritada com o facto de ver tantos professores saírem sem certezas de terem trabalho e tanto trabalho sem certezas de ter professor. Como é possível?
O que estão a tratar como material descartável? Os professores? Os alunos? A escola? Ou a Educação?
Já pouco falta dizer depois das palavras da Manuela,da Eduarda e da Margarida.
Junto-me a elas na tristeza que senti ao ver as colegas de quem tanto gostamos,sairem.Desejo a todas felicidades e que a sorte permita que todas possam regressar para continuarem a CRESCER connosco.
É com grande admiração pelas corajosas palavras da Manuela que subscrevo o seu desabafo, os seus sentimentos, a sua solidariedade, o seu abraço apertadinho. E no meio de tanta emotividade, ainda que não sirvam de consolo, ocorrem-me as sábias palavras de Saint-Exupéry: "Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós."
O que eu desejo é que seja um até breve (quiçá já no próximo ano), um até sempre (porque será com agrado que os veremos regressar)e que tudo isto seja apenas uma tempestade que antecipa a bonança. A bem da Educação, da escola, dos professores, dos alunos e do futuro deste país.
Estas palavras revelam sensibilidade e respeito em relação aos que são literalmente descartados, vitimas de um sistema educativo que se aproxima do terceiro-mundismo! Infelizmente!
Boa Tarde, sou encarregada de educação de 1 dos vossos alunos. E independentemente de pensar no "prejuízo" que afetará todos os alunos, estou completamente solidária com a vossa luta e como é ´degradante" ver o estado do ensino no nosso país. Os alunos e, pais, sempre precisarão e, não esquecerão) aqueles que tão bem os acompanharam e ajudaram a crescer!Felicidades a todos
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