Número total de visualizações de páginas

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

texto de opinião: Cultura Científica e Populismo


Por indicação de Maria Helena Ferraz, sugerimos a leitura do texto de opinião de João Paiva, publicado no Público, sobre cultura científica e populismo e a forma como o populismo representa, em certo sentido, a antítese da ciência e, assim, um ataque sem precedentes aos pilares civilizacionais humanistas. O autor refere algumas evidências:

Perceções vs Factos
O populismo vive do alarme das perceções independentemente do que a realidade realmente realiza e mostra, transformando a perceção da não-realidade numa realidade alternativa, imune aos factos. 
A ciência, ao contrário, impõe a si mesma uma coerência constante com a realidade.
 
Senso Comum vs Profundidade
O populismo alimenta-se do senso comum e potencia-se naquilo que de mais cutâneo pode ser convocado. A humanidade, aquilo que somos e podemos ser, é sempre mais profundo do que a superfície. Para um populista, o que parece é. 
Mas, em ciência (como na humanidade...), há que ir mais fundo. Superar o senso comum é, muitas vezes, ver mais além e estar mais perto da verdade sobre o funcionamento do cosmos.

Insignificância da experiência
Confirmar com a experiência uma determinada ideia (ou perceção) é para o populista uma insignificância. Já para fazer ciência todas as articulações lógicas, suposições, teorizações e previsões terão de ser assumidamente peneiradas de forma radical pela experiência.

Irrelevância Matemática
A propaganda populista ignora uma ferramenta enorme nas ciências exatas: a ordem de grandeza comparável. Mas o equívoco populista vai matematicamente muito mais longe quando toca a probabilidade e a estatística:  a parte, sem cerimónia, assume a figura do todo. Há um vacinado contra a covid-19 que morreu? Então a vacina contra a covid mata toda a gente!
A ciência, pelo contrário, tem na boa relação com a matemática e com os números sólidos o suporte mais seguro para o estabelecimento das suas leis, para a construção dos seus padrões e para a sua capacidade preditiva, com efeitos absolutamente inegáveis e extraordinários na qualidade da vida humana.

Alheamento face à consensualidade
Para uma afirmação ter carater científico, tem de ser trabalhada com profundidade e persistência, em procuras de consensos entre pares que demoram muito tempo e carecem de argumentação lógica profunda e sustentada.
A afirmação populista - lançada, colhida e disseminada nas redes digitais - torna-se uma verdade instantaneamente estabelecida e de alcance universal imutável.

Ataque à liberdade
A ciência carece endemicamente de liberdade para se fazer. Liberdade de pensamento e liberdade de ação.
Os instintos populistas podem, por exemplo, lançar práticas sociais e políticas que se opõem à ciência e desdizê-la na praça pública e nas deliberações, como acabar com o u so de paracetamol na gestação porque uma grávida que tomou paracetamol teve um filho que foi diagnosticado com autismo.

Torna-se imperativo combater o populismo, com as armas próprias da ciência. Cada linha e cada entrelinha do populismo é uma ameaça não só à ciência, mas ao humanismo.

Leia o artigo completo aqui
envio de Maria Helena Ferraz
docente de Físico-química (aposentada)

Sem comentários: