"Fernando Pessoa & Ofélia Queiroz - Correspondência amorosa completa"
Hoje, completam-se 125 anos do nascimento de Fernando António Nogueira Pessoa, na freguesia dos Mártires, em Lisboa.
O organizador do volume, Richard Zenith, assinalou à Lusa que
«mais de metade das cartas de Ofélia Queiroz eram inéditas, até à presente
publicação». No total, são publicados 348 documentos, transcritos
integralmente, dos quais 156 são inéditos.
Entre os inéditos de "Fernando Pessoa & Ofélia Queiroz
- Correspondência amorosa completa", estão os últimos bilhetes trocados,
como o derradeiro, enviado pelo poeta a Ofélia, datado de 14 de Junho de 1935,
em que agradece os parabéns enviados na véspera, de forma cordial: «Muito
obrigado e identicamente com saudades».
A obra reproduz cada um dos documentos, permitindo ao leitor
apreciar a caligrafia do poeta. Parte deste manancial epistolar foi adquirido
pelo casal brasileiro Bia e Pedro Corrêa do Lago, num leilão em Londres, «sem
disputa, na época, com qualquer instituição ou colecionador privado», como
afirmam os próprios, no texto de introdução que assinam. A outra parte foi
também comprada, tempos mais tarde, por este casal de colecionadores e
divulgadores culturais.
No texto de apresentação da obra, Zenith afirma que esta
publicação «revela factos inéditos» e «permite-nos traçar uma cronologia
precisa» deste relacionamento, que qualifica como «linhas cruzadas, sem
estratégia».
Ofélia, escreve Zenith, era «alegre, transparente, direta,
crente (...) quase o oposto» de Fernando Pessoa, todavia, quando se encontram,
«atraem-se logo». Conheceram-se em Outubro de 1919, estava Pessoa de luto
carregado pela morte do padrasto e, em Novembro, já «trocam bilhetes e ele
trata-a por “bebé”».
"Fernando Pessoa & Ofélia Queiroz", publicado pela
editora brasileira Capivara, inclui um texto de Eduardo Lourenço, "Amor e
Literatura", um relato de Ofélia Queiroz, registado em 1978 pela sua
sobrinha, Maria da Graça Queiroz, acerca da relação com o poeta, no qual
recorda a promessa de Pessoa em lhe ensinar melhor o inglês, «depois de
casados», um testemunho da sobrinha, que atesta que, «na morte do Fernando, a
Ofélia apagou-se ao mundo», e recusou sempre dar qualquer entrevista.
Num dos documentos até agora inéditos, Fernando Pessoa trata
Ofélia por «Querida Nininha pequena» e dá-lhe conta de que estará no Largo do
Conde Barão [em Lisboa], à espera dela, «no recanto da padaria Inglesa».
O tratamento entre os dois é mimado e ternurento. Fernando
Pessoa envolve até, na relação, um dos seus heterónimos, o engenheiro Álvaro de
Campos, que se dirige a Ofélia de forma cerimoniosa e refere-se a Fernando
Pessoa como «abjecto e miserável indivíduo».
Ofélia e Álvaro de Campos telefonaram-se, assim como Fernando e
Ofélia, até que, em Fevereiro de 1931, «um cavalheiro anunciando-se Ricardo
Reis” lhe telefona [a Ofélia] a participar que Fernando Pessoa estava
incomunicável e não aparecia antes de Março», escreve Zenith que questiona se
seria esta uma «forma suave e desculpabilizadora» de Pessoa pôr um ponto final
na relação amorosa. Ofélia insistirá em escrever para o seu “Nandinho" ou
"Fernandinho", como se dirigia ao poeta, mas em resultado de
reatamento.
A obra "Fernando Pessoa & Ofélia Queiroz" foi apresentada, ontem, na CFP, em Campo de Ourique, no âmbito do Festival Desassossego, com a
presença do ensaísta Eduardo Lourenço, o investigador Richard Zenith e os
editores Bia e Pedro Corrêa do Lago. @ LUSA
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