A luz das palavras
Esta exposição documental, no Museu Nacional da
Imprensa, inaugurada este domingo, às 16 horas, reflete múltiplas
luminosidades. Que atravessam o jornalismo e a literatura. Trata-se de mostrar,
ainda a quente, a vida e obra de um jornalista cuja ausência se torna tão
presente. Manuel António Pina tinha a luz das palavras.
A relação de MAP com a essência das palavras é, de
resto, muito especial. E surge logo nos seus primeiros poemas, em 1971: "o
que é feito das palavras senão as palavras?" (verso de Já não é possível,
in "O armário").
MAP é o artesão das palavras que ajudam a pensar as
coisas, a vida e o próprio pensamento sobre as coisas e a vida que levamos.
Poética e ludicamente, filosofa sobre a (des)construção das palavras. Brinca
com elas, numa surpreendente produção de sentidos que constitui uma das
caraterísticas mais singulares da sua obra.
Se na poesia e na literatura infantojuvenil foi
mestre, mais forte e constante se revelou no papel de cronista sem medo. Nesta
dimensão, MAP foi um construtor da consciência cívica. Sobre a análise da vida
social, política, económica. Sobre a vida da gente. Ele era o arauto que dizia:
venham ver como isto é. Estava escondido, é assim, zás trás pás! Sem medos.
A gente lia e entendia. Só raramente era rebuscado, erudito,
pouco acessível. A clareza e a frontalidade imperam nos seus textos. Tanto no
"Jornal de Notícias" como noutras publicações.
Nas suas crónicas, MAP desemaranhava a realidade para
melhor nos mostrar a essência do real. E com a sua certeza das dúvidas,
ajudava-nos a pensar o quotidiano da democracia. Neste sentido, é ainda uma
chama de lucidez na opinião pública. Um archote, com cintilações de sarcasmo e
ironia. A iluminação pública das palavras.
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