O Dia da Mulher está aí a chegar.
O CRESCER nunca deixa de o lembrar no dia certo. Porém, hoje vai antecipar um pouco a data, para homenagear a avó de uma nossa ex-aluna que nos brinda, de quando em vez, com poemas que nos mostram quantas artes uma MULHER pode ter. Particularmente quando a idade é provecta (76 anos) e continua a ser interventiva.
Saído das mãos de uma mulher, que vê a vida como só ela, leiam o poema da D. Rosa Pinto.
Vou...
Vou mudar a forma, o aspeto, ao meu poema
Substituir palavras por imagens e sinais
Falar de coisas verdadeiras, umas com pena,
Outras talvez um pouco irreais.
Quando falar de amor, pôr corações
Às plantas que não dão flor, colocar botões
Para desabrocharem em alegres emoções.
Quanto às crianças, vou desenhar brinquedos,
Iguais aos da minha lembrança, guardadas no baú dos meus segredos.
Tais como: bolas, peões, arcos, berlindes, balões,
Bicicletas, bonecas, carrinhos, (automóveis)…
Mas nunca, nunca, computadores, tablets, telemóveis
Que roubam a cada minuto, a cada instante,
Tempo ao tempo do seu tempo mais importante.
No jardim da alegria, plantar toda a espécie de flor
Porque flor é símbolo de amor.
Às árvores que no Outono perdem a folha,
Adorná-las com raios da luz dos meus olhos à minha escolha.
Perguntar à chuva que cai do céu azul-cinzento:
São lágrimas de alegria ou de lamento?!
Ao vento que passa de mansinho, lesto e de rompante
Vou pedir que espalhe a semente do amor urgentemente
Para que dê flor a todo o instante,
Flor cada vez mais rara e mais ausente.
Ao mar que se pavoneia em constante movimento
Vou fazer ouvir a minha voz, vou implorar,
Que mate a fome e a sede sem matar.
Ao bicho-homem-monstro, em constante guerra
Vou sufocar-lhe a arma, que tanto agita
Dizer-lhe que criança é Esperança, é Primavera
Que chora com fome, dor, medo e já nem grita!
E quando terminar o meu poema,
Vou colocar o mais pequeno, mais minúsculo sinal:
Ponto final.
Rosa Pinto
16/02/2019