O CRESCER traz até si este assunto que tanto o fascina. Estão estas duas áreas de costas voltadas entre si?
A Revista 2 falou com cientistas e escritores para compreender a relação de uns e outros com a literatura e o conhecimento científico. No fundo, ambos estão à procura de uma tradução para o mundo.
O escritor Nuno Camarneiro também é físico. Para si, a literatura e a ciência partem ambas “de uma vontade de perceber” o mundo. “Nenhum campo do saber consegue conter toda a realidade”, diz. Tanto a física como a literatura trabalham com modelos: “A realidade não está numa lei física. A física trabalha com abstracções da realidade. O romance também é um modelo que ajuda a conceptualizar o real.” Na física estudamos a natureza das coisas — a literatura “é a ciência da natureza humana”.
Pode parecer demasiado abstracto, mas o autor de Debaixo de Algum Céu (prémio Leya 2012) diz apenas que é o mistério que o move: estudou Física porque desde miúdo tinha “aquele sonho do cientista de ter um objectivo, de querer descobrir, desvendar um enigma, fazer quebra-cabeças, compreender mistérios”. Isto é, procurar uma resposta. Mas via-se insatisfeito: “Dava-me gozo descobrir as soluções dos problemas — em Matemática, em Física, até em Português —, mas quando descobria a resposta perdia o interesse pelas coisas. Nesse aspecto, era um pouco rebelde. Distraía-me.” O retrato de Camarneiro enquanto jovem vai ao encontro de uma das questões colocadas por outro escritor, Gonçalo M. Tavares, no seu livro Breves Notas sobre Ciência (2006):
Mas não investigas: divertes-te. Crias dificuldades e conceitos para atrasar a tua chegada. Amanhã chegarás ao esconderijo onde ainda ontem escondeste a resposta.
Foi a partir desta ideia que surgiu Física Divertida nos anos 1990 (e Nova Física Divertida em 2007), ensaios de divulgação científica da editora Gradiva da autoria do físico, professor e ensaísta Carlos Fiolhais. Camarneiro revela que a leitura dos livros de Fiolhais espevitou a sua curiosidade: “Fui muito marcado por Fiolhais, que pertence a uma geração que tinha lido todas essas obras de divulgação científica que acabaram por chegar tarde a Portugal”, diz o escritor. Carl Sagan, Richard Feynman, Stephen Jay Gould, Hubert Reeves, Richard Dawkins, Ilya Prigogine: “Por vezes nas páginas de divulgação científica encontra-se não só literatura, mas também grande literatura – e que bem escrevem, por exemplo, Carl Sagan ou Stephen Jay Gould”, diz à Revista 2 Carlos Fiolhais. (leia tudo aqui)
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