A Diretora-Geral
de Saúde foi a convidada da entrevista TSF/DN. Graça Freitas garante que existe
"um arsenal terapêutico muito grande" para lidar com o COVID-19. Mas
a contenção está "literalmente nas mãos". Aqui fica um excerto dessa entrevista.
Dados da OMS dizem que existem
por ano entre três a cinco milhões de casos graves de gripe e que há até 650
000 mortes por doenças respiratórias relacionadas. Nesta ordem de grandeza,
como é que devem ser encarados estes casos cíclicos de vírus, como o COVID-19?
Ou devemos pensá-lo de uma forma completamente diferente?
A pergunta é muito pertinente. Uma coisa é aquilo a que nós estamos
habituados: nós sabemos o que nos espera numa boa época de gripe, numa época de
gripe moderada ou numa época de gripe em que o vírus é mais agressivo. E a
humanidade habitua-se a lidar com o que conhece. O problema é quando emerge um
novo vírus - neste caso é um vírus, mas pode ser outro agente microbiano - e
essa emergência traz pela frente o desconhecido e nós não sabemos como é que
esse vírus se vai propagar na natureza, como é que vai ser a sua dinâmica e
como é que ele se vai transmitir entre os seres humanos e, portanto,
aguarda-nos o desconhecido. É esse desconhecido que leva a que estas
doenças emergentes provoquem estes movimentos de preocupação, de alerta, de
atenção. Porque é exatamente isto: Qual vai ser o comportamento? Como é que se
vai propagar? Quantas pessoas vai atingir? Quantas pessoas vai atingir ao mesmo
tempo? Esta é a grande incógnita, aquilo a que nós chamamos em epidemiologia a
taxa de ataque que é a quantidade de pessoas que está doente num determinado
período. É totalmente diferente ter 10% da população atingida por uma doença,
seja ela qual for - gripe, sarampo, qualquer uma -, ou ter 20% ou 30% da
população atingida.
(...)
(...)
O que é que cada pessoa pode fazer para tentar travar?
Em termos de medidas, costumamos dizer que há medidas que são do
foro da medicina propriamente dita, dos medicamentos, das vacinas, do
internamento, do ambulatório, dos cuidados de saúde. Essas são as medidas, umas
preventivas, no caso da vacina, outras de tratamento, no caso dos medicamentos.
Depois há aquilo a que nós chamamos as medidas de controlo de infeção, as
medidas de saúde pública, aquelas por que todos nós somos responsáveis. Aqui a
questão é retardar a sua propagação e evitar que num curto espaço de tempo
existam muitas pessoas doentes. Retardar a propagação está nas mãos de todos
nós. Literalmente nas mãos, porque se nós lavarmos as mãos frequentemente, não
estamos a propagar vírus. Podemos propagar vírus - este em concreto - de várias
formas: expeli-lo pela fala, pela tosse, pelo espirro. E é óbvio que levamos
frequentemente as mãos à nossa cara e, portanto, ficamos com as mãos
conspurcadas, pomo-las numa superfície e esses vírus são viáveis, as gotículas
que contêm esses vírus são viáveis durante dias, horas, conforme a temperatura,
a humidade, as características meteorológicas e conforme, também, as
superfícies em que ficam. Portanto, outras mãos irão também para essas
superfícies e depois irão para a boca e para o nariz de outras pessoas. Se
tomarmos medidas tão simples como lavarmos
frequentemente as mãos, não se impede totalmente a infeção, mas retarda-se a
infeção, ou seja, diminui-se o número de
pessoas infetadas num determinado momento, e a quantidade de vírus que passa de
uma pessoa para a outra. Esta história da quantidade de vírus também é muito
importante, pode fazer a diferença na gravidade da doença. Os vírus depois
replicam-se e, quantos mais entrarem na primeira leva, como eu costumo dizer,
mais se replicam. Portanto, lavar as mãos é importantíssimo. Parece que não é,
mas é. Não espirrar para cima de ninguém quando se está doente, não tossir para
cima de ninguém, o distanciamento social... Não é agora: agora continuamos a
beijar-nos como sempre, mas nas alturas
das epidemias convém socializarmos um bocadinho menos, termos alguma distância social, não nos beijarmos
tanto, não nos abraçarmos tanto. @ TSF
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