Todas as sextas-feiras o CRESCER anda por aí a fazer perguntas para todos podermos conhecer melhor alguns rostos da escola.
Desta vez, pedimos as escolhas relativas a um filme, uma música e um livro e quisemos saber porque trocou a docência pela direção do Centro de Formação de Professores.
As escolhas de Cândido Pereira, docente de Biologia, atualmente a exercer o cargo de Diretor do Centro de Formação Maiatrofa.
Um filme
Opto por escolher o primeiro e o último filme que vi e que me marcaram.
E ainda tenho uma terceira escolha.
Na altura do 25 de abril não havia internet e, portanto, tínhamos de ver
filmes em cinemas ou na televisão, que passava filmes muito antigos, das décadas de 40 e 50, a maior parte deles americanos. Eu andava num liceu, no Porto, e
frequentava um cineclube onde
os filmes eram alugados por alunos mais velhos. Assim, em 1972, vi, nesse cineclube clandestino, um filme de
Roman Polanski, A Repulsa, onde participa, magnificamente, Catherine
Deneuve. Este filme, de terror e suspense, era uma coisa tão
diferente de tudo o que eu já tinha visto que fiquei completamente fascinado
com o que o cinema era capaz de me provocar e é, por isso, que o escolho:
mostrou-me que o cinema era mais do que aquilo que eu já tinha visto até então,
abrindo-me as portas para um tipo de filmes que eu não sabia que existiam na
altura.
Escolho outro filme, que vi recentemente, Shutter Island de Martin Scorsese, no qual participa o Leonardo
DiCaprio.
Este filme é uma mistura da ilusão e da realidade dentro da cabeça do personagem, criando-se a impossibilidade de discernir uma da outra. Fiquei fascinado com o resultado final e, por isso, acho que me vou lembrar deste filme durante muitos anos, uma vez que também toca na temática que mais me atrai no cinema, a confusão entre realidade e ilusão.
Este filme é uma mistura da ilusão e da realidade dentro da cabeça do personagem, criando-se a impossibilidade de discernir uma da outra. Fiquei fascinado com o resultado final e, por isso, acho que me vou lembrar deste filme durante muitos anos, uma vez que também toca na temática que mais me atrai no cinema, a confusão entre realidade e ilusão.
Mas se, de facto, tivesse de escolher um filme
era o Cinema Paraíso de Giuseppe Tornatore. É um filme que
sintetiza o cinema, definindo o que ele pode significar para alguém. É ternurento,
fala de todos os filmes e, devido a isto, se eu estivesse numa ilha isolado,
este filme italiano seria muito bom para me lembrar do que é o cinema.
Uma música
Para a música vou utilizar o mesmo
critério. Volto ao tempo antes do "25 de abril", quando eu tinha cerca de treze
anos, no tempo em que não havia mp3 e
quando ouvir uma música era algo muito complicado. Nessa época, éramos muito influenciados
pela música anglo-saxónica e, então, surgiu um conjunto, os Genesis, que tocava
coisas que me marcaram bastante, o que foi, à época, fantástico. Eu, ao
contrário do Samuel Úria, por exemplo, sou mais ligado ao prog rock, isto é, ao rock
progressista, que abrange músicas com instrumentais muitos cheios e
instrumentistas muitos virtuosos que criavam faixas de música delicadas e longas,
tal como os Genesis. Do trabalho deste grupo destaco o álbum Selling England by the Pound e a música
do mesmo nome. Esta banda fascina-me pelas suas letras fantasiosas, pelo seu
estilo e também pela encenação teatral em palco.
Por outro lado, a minha recente
descoberta, graças a um colega, chama-se Noiserv, um músico português. Ele
canta em inglês, mas gosto dele mais pelo que toca do que pelo que canta. É um
artista que vai buscar centenas de sons diferentes e conjuga tudo e, de todo o
seu trabalho, destaco a faixa The Sad Story of a Little Town.
Um livro
Quando tinha cerca de 17 anos, ou até quando era mais novo, a maior parte
dos livres que lia não eram meus, mas da biblioteca. Lembro-me, destacando, um
livro de banda desenhada que eu sabia de cor: O Templo do Sol - Tintin de Hergé. Talvez veja neste livro a razão
que me levou a valorizar a ciência e a estudá-la. Eu fiquei fascinado com o
facto de a ciência ser a magia que dá mais resultado, isto é, ao contrário de
profecias disparatadas, a ciência é capaz de dar uma precisão incrível do
futuro. Nesta BD, o Tintin e os seus amigos corriam risco de vida e, graças a
um conhecimento prévio científico, conseguiram evitar que tal acontecesse, o
que me fascinou. A capacidade de prever o futuro pode ser, realmente,
salvadora.
Outro livro que me tocou, mais
recentemente, é de um escritor francês, Michel Houellebecq, e intitula-se As Partículas Elementares. Já o li há
cerca de dez anos e inquietou-me pela sua violência que nos traz o melhor e o
pior da humanidade na história de dois irmãos, à volta dos quais se desenrola o
enredo.
Por último, escolho um livro de divulgação científica, Um Mundo Infestado de Demónios do Carl Sagan. Não é um livro que
tenha, literalmente, à cabeceira, mas muito do que penso tem neste livro as
suas raízes. Retrata um confronto entre a ciência e outras áreas não
científicas, como a astrologia, onde a ciência nos é mostrada como um guia
possivelmente preferível a outros, explorando, também, muitos aspetos da
cultura humana.
Por que razão trocou a docência pela direção do centro de formação?
Nós todos, acho, gostamos que a nossa vida seja produto das nossas escolhas. Efetivamente, eu escolho ir por aqui ou por ali e, portanto, as minhas escolhas fazem a minha vida, sendo essa uma maneira confortável de olhar para a mesma. Porém, na realidade, nós somos igualmente fruto de outras coisas que não são propriamente por nós ponderadas. Como o título de outro livro que li indica, a vida é fruto do Acaso e a Necessidade (de Jacques Monod) e foi mesmo isso que me aconteceu. Se eu olhar para trás, o que me fez deixar a docência foram o acaso e a necessidade. Não é desencanto, porque eu gosto muito de ser professor de Biologia, cargo que, possivelmente, voltarei a exercer. Mas, neste momento, estou exclusivamente dedicado a este objetivo. Eventualmente, se me surgisse outra oportunidade, que até poderia ser muito diferente, eu gostaria de experimentar, consoante as minhas necessidades. A necessidade de ir fazendo outras coisas é-me essencial. Assim, foi o acaso do lugar ter ficado vago num momento em que eu podia concorrer para o ocupar e foi a necessidade constante de ir fazendo coisas diferentes que me fez deixar a docência e ingressar na formação de professores.
Nós todos, acho, gostamos que a nossa vida seja produto das nossas escolhas. Efetivamente, eu escolho ir por aqui ou por ali e, portanto, as minhas escolhas fazem a minha vida, sendo essa uma maneira confortável de olhar para a mesma. Porém, na realidade, nós somos igualmente fruto de outras coisas que não são propriamente por nós ponderadas. Como o título de outro livro que li indica, a vida é fruto do Acaso e a Necessidade (de Jacques Monod) e foi mesmo isso que me aconteceu. Se eu olhar para trás, o que me fez deixar a docência foram o acaso e a necessidade. Não é desencanto, porque eu gosto muito de ser professor de Biologia, cargo que, possivelmente, voltarei a exercer. Mas, neste momento, estou exclusivamente dedicado a este objetivo. Eventualmente, se me surgisse outra oportunidade, que até poderia ser muito diferente, eu gostaria de experimentar, consoante as minhas necessidades. A necessidade de ir fazendo outras coisas é-me essencial. Assim, foi o acaso do lugar ter ficado vago num momento em que eu podia concorrer para o ocupar e foi a necessidade constante de ir fazendo coisas diferentes que me fez deixar a docência e ingressar na formação de professores.
Ana Pinto e Rita Almeida