Chegou até ao CRESCER mais um texto dos nossos leitores. Vem assinado por PAR, Professores Anónimos Reunidos, e é um texto sobre professores. O CRESCER agradece a colaboração e orgulha-se pela publicação.
A Noiva do Minho
A vida de um professor é feita de ciclos... de paragens... interrupções.
Do quotidiano daquilo que já foi normal... do desejável que é ensinar... intermitentemente surgem aqueles períodos em que as solicitações de um conjunto de operações que lhes é pedida raia um absurdo de conceitos deprimente.
Metem-se indivíduos... seres humanos em tábuas de Excel e desfiam-se um rol de conclusões... da qual se extrai um número... uma classificação que traduz... ui... um sem número de doutas apreciações sobre tudo e quase sempre sobre tão pouco.
E os mesmos, que criticam o ministro do Excel por traduzir as suas vidas nas famigeradas tábuas informáticas... permitem-se, mui cientificamente, traduzir a vida de outros... tão próximos... tão diários, num só número extraído pelo mesmo princípio...
Vantagem dos doutos professores, manipulam a tábua Excel para conseguir o número que querem, ao contrário do pobre ministro que, por muito que manipule só consegue traduzir a triste realidade que nos atormenta.
Estranha também a reprodução dos exercícios com que brindam os alunos. A estes, dá-se-lhes... quatro... cinco palavras e pede-se que construam uma frase... gramaticalmente correta...
Aos professores dão-lhes inúmeras palavras... avaliação, critérios, metas, objetivos, planificações, atas, PTT´s, Papi´s, medidas, recuperação, apoios, reuniões, normas, correções, e eu sei lá mais o quê... e... pede-se que construam uma vida... formalmente correta.
Um professor é uma Noiva do Minho.
A noiva do Minho, no dia do casamento, engalanada com os seus mais belos trajes, parte para a igreja, com fé, prometendo dedicação, fidelidade, companheirismo e força, muita força para superação das dificuldades que a esperam.
À porta da igreja, existem sempre duas mulheres, velhas, muito velhas, com tantas rugas quantos os terços rezados em novenas infindáveis. Miram... olham... perscrutam... despem-na procurando um pequeno rasgão no belo fato... uma ténue nódoa... a bainha descosida.
Uma delas, qualquer uma, murmura: - A mim não me enganas.
- A outra, ávida da informação, sussurra com sofreguidão - Já vai cheia?
- Não sei - responde a velha - Mas já não leva o brilho nos olhos.
Descansada interrupção, santa Páscoa para os crentes e feliz reinício.