Geólogos ainda procuram na costa portuguesa a origem do sismo de 1755.
foto: Google Maps |
A procura pela resolução do enigma da fonte do terramoto de 1755 levou um investigador português a confirmar uma anomalia na crosta terrestre ao largo da costa portuguesa que pode explicar por que ocorrem sismos violentos numa zona aparentemente calma.
João Duarte, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, disse à agência Lusa que, a confirmar-se, a descoberta muda a percepção sobre o risco sísmico ao largo da costa portuguesa, que vem de uma zona chamada “planície abissal da Ferradura”, situada a 250 quilómetros a sudoeste do cabo de São Vicente.
“É o local de início de um processo de subducção, em que uma placa cai por baixo ou se descasca”, conhecido nas margens do oceano Pacífico e em zonas de grande actividade sísmica, como o Japão, disse o investigador do Departamento de Geologia.
A investigação que mereceu agora destaque na revista de divulgação científica National Geographic, estando ainda por publicar como estudo numa revista científica, começou por querer “localizar a fonte do sismo de 1755, que sempre foi um enigma, porque há 250 anos não havia registos”. Esta hipótese já tinha tido sido publicada num artigo científico em 2013 na revista Geology, também por João Duarte e colegas, e noticiada.
O sismo de 1969 já foi registado por sismógrafos, ocorreu numa zona plana do fundo do mar, longe da falha tectónica, a zona instável onde se unem as placas rochosas da crosta terrestre, que fica no meio do oceano Atlântico.
Com a investigadora Chiara Chiviero, também da Universidade de Lisboa, foram compilados todos os registos sismográficos para a zona da anomalia, incluindo dados recolhidos no fundo do oceano durante 11 meses em 2007, e com o investigador Nicolas Riehl, da Universidade de Mainz, na Alemanha, foi criado um modelo computorizado que confirma a hipótese de subducção.
“Não é possível dizer que vai haver mais sismos porque este é um processo absolutamente lento, demora 10 a 20 milhões de anos”, afirmou João Duarte, defendendo que com esta hipótese se percebe melhor como é que uma zona aparentemente calma do leito oceânico é capaz de gerar sismos tão fortes como o de 1755, que devastou Lisboa e parte da costa.
João Duarte frisou que a descoberta, só por si, nada tem que ver com a capacidade de prever sismos de grande dimensão, que são irregulares e cuja ciclicidade é apenas estatística. A regularidade dos sismos é “um mito urbano”, considerou.
Considera-se actualmente que um sismo na costa portuguesa na ordem dos 8,5 a 9 graus de magnitude, como o de 1755, se repete “entre mil a dois mil anos”, mas este número pode não significar nada se os sismos de grande dimensão se sucederem em períodos mais curtos de tempo, como é comum, “não se sabe bem porquê”.
Além disso, um sismo de magnitude seis, estatisticamente mais frequente, mais perto da costa ou debaixo de uma cidade pode ter efeitos ainda devastadores, indicou. @ PÚBLICO
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