Auschwitz foi a razão principal da nossa visita a Cracóvia, na Polónia. Deixamos
a visita para domingo, no último dia, para podermos absorver a experiência e regressar
a Portugal a refletir sobre o assunto. Estávamos ansiosos, mas, ao mesmo tempo,
nervosos porque não sabíamos, ao certo, o que iríamos encontrar!
Estava planeado visitarmos Auschwitz I e, seguidamente, a 3 km de
distância, Auschwitz – Birkenau.
Entre as passagens pela segurança e a pausa para tomar uma bebida
quente, de forma a combater os 13 graus negativos, o grupo reuniu-se com as
guias.
No entanto, o choque da realidade deu-se quando se chegou ao famoso
portão de ferro com a inscrição «Arbeit macht frei», em português O trabalho liberta. De facto, a mensagem
vinculada nesse portão transmite, desde logo, as atrocidades cometidas, o
sacrifício, o terror e a humilhação a que vários seres humanos foram sujeitos.
A partir daí, mergulhámos num silêncio profundo. Lembro-me de olhar de
vez em quando para os meus colegas e reparar que todos estávamos muito
pensativos, atónitos. Começávamos a recordar todos os documentos e fotografias que
estavam no nosso manual de História A. Efetivamente, não há melhor maneira de
perceber o que lá aconteceu do que visitar o local.
Entre as várias camadas de neve que se estendiam ao longo dos vários
quilómetros do campo e a extensa rede de arame farpado, encontravam-se vários
edifícios. Nos blocos existiam várias salas com exposições de documentos
oficiais, relatórios e fotografias autênticas captadas pela SS Russa.
Curiosamente, foi o Bloco 4 que nos deixou mais perplexos e numa profunda
tristeza perante as várias toneladas de cabelo humano expostas, sapatos,
pentes, utensílios de cozinha, malas, produtos de higiene e roupas de crianças.
Inesperadamente, ouvimos relatos perturbadores, como por exemplo, a fuga
de um prisioneiro originou várias chamadas durante 20 horas, o que acabou por
levar muitas pessoas à exaustão depois de várias horas ao frio em pé.
Passámos, também, por um bloco onde é relatado todo o processo de
extermínio que acontecia no campo. Estavam expostos mapas, fotos do campo,
cópias de registos dos prisioneiros, maquetes das câmaras de gás e latas de
Zyklon B, inseticida usado nas câmaras para provocar a morte dos prisioneiros.
Os Blocos 7 e 11 permitiram-nos, de facto, observar de perto as condições
inóspitas, insalubres e desumanas das divisões onde os prisioneiros dormiam e
ocupavam grande parte do tempo. Na entrada desse mesmo bloco há um corredor
longo e estreito repleto de fotos das pessoas que passaram por lá. Na parede
esquerda encontram-se as fotos das mulheres e na da direita as fotos dos
homens, todos já com as roupas do campo, sem cabelo e com os olhos arregalados.
Constam ainda a profissão, data de nascimento, data de chegada ao campo e data
de morte. Lembro-me de estar com várias colegas a fazer contas e a comentar a
duração da vida dos prisioneiros no campo! A maioria não sobrevivia muito tempo
em Auschwitz.
De seguida, visitámos uma câmara de gás com fornos, uma das únicas que
não foi destruída. Foi aí que senti um aperto mais forte na barriga. Por
momentos imaginei todas as pessoas que lá passaram e perderam as suas vidas.
Não encontro palavras para descrever o que vi.
De seguida, dirigimo-nos para Auschwitz-Birkenau, construído para a
“solução final”. O campo é enorme e impressiona desde logo com a extensa linha
de comboio por onde eram transportados os prisioneiros. São vários os
visitantes que, em homenagem às vítimas, colocam rosas na linha de comboio.
Mais uma vez, ao entrarmos nos barracões, deparamo-nos com as duras condições
de vida - pareciam estábulos, com terra batida e com as várias “camas” que eram
ocupadas, muitas vezes, por 6 pessoas ao mesmo tempo.
Perante tudo o que vi, não restam dúvidas das várias atrocidades e de
todas as atitudes criminosas e tétricas do governo Nazi. Atrevo-me a dizer que
todos nós, enquanto Seres Humanos e como membros de uma sociedade, devemos
visitar Auschwitz. Para além de nos dar uma visão mais realista, desperta-nos
para o mundo atual, que está repleto de conflitos que põem em causa os direitos
humanos e nos transmitem a mensagem que somos
nós que traçamos o nosso futuro e que estamos a tempo de impedir muitas
crueldades. Afinal de contas, todas estas atrocidades não aconteceram assim
há tanto tempo! Efetivamente, e citando George Santayana, “Aqueles que não são
capazes de recordar o passado estão condenados a repeti-lo.”.
Margarida Morais 12ºF