O sarampo espalha-se com facilidade. Por gotículas. A transmissão é direta, por tosse, espirros, fala ou respiração. E quando se pensava que a doença estava adormecida, até mesmo extinta, eis que desperta e entra em Portugal, provavelmente trazida da Venezuela.
Os mais recentes dados da Direção-Geral da Saúde (DGS) dão conta de 26 casos: 15 confirmados e 11 em fase de investigação. Sete estão no Algarve e os restantes na região de Lisboa. Neste momento, faleceu, no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa.uma jovem de 17 anos que contraiu o vírus de uma bebé de 13 meses não vacinada.
A DGS fala num surto, está atenta à situação, e alerta para a vacinação. As vacinas são gratuitas e as crianças devem ser vacinadas contra o sarampo aos 12 meses com reforço da dose aos cinco anos, segundo o recomendado no atual plano de vacinação. As que não foram vacinadas de acordo com o atual programa, podem fazê-lo entre os 11 e os 13 anos.
«Nos últimos anos, tem havido por parte de algumas famílias a ideia que as vacinas podem ser prejudiciais para as crianças. A vacinação, num ou noutro caso, pode ser um problema, mas o que se consegue com a vacinação é muito mais do que o risco que se pode correr com as vacinas», avisa o médico. Rui Sarmento não tem dúvidas. A vacinação é a melhor forma de prevenir o sarampo e se o número de casos continuar a subir a DGS deve, na sua opinião, insistir nesta matéria. «Quem está imunizado não terá esse problema. Quando não havia um plano de vacinação muitas crianças eram infetadas, chegavam à idade adulta e já estavam imunizadas», diz.
Os dias do sarampo estão contabilizados. Depois do contacto com alguém infetado, surgem os sintomas. O período de incubação é de 10 a 12 dias. Depois o corpo sente uma espécie de gripe com febre alta, tosse, olhos vermelhos, corrimento nasal. Três ou quatro dias depois, manchas avermelhadas na cara que vão descendo e pintando o corpo. As manchas não têm prurido, nem provocam comichão, e demoram cerca de uma semana a desaparecer.
Não há um tratamento específico, nem pomadas para as manchas. «É o próprio organismo que vai resolver o problema. Uma semana depois das manchas, começa tudo a desaparecer e a criança recupera totalmente. Se não houver nenhuma complicação, não há tratamento», explica Rui Sarmento. Baixa-se a febre, reforça-se os líquidos na alimentação. Tratamento à medida dos sintomas. Das dores de cabeça, da falta de apetite, da sonolência.
Se houver complicações, a conversa é outra. «O vírus ataca, diminuiu as defesas do organismo, se não há uma resposta adequada à virulência criam-se condições para criar bactérias nos pulmões, por exemplo». E aparece uma pneumonia que tem de ser tratada com antibióticos e que pode ou não ser mortal. Haverá casos que necessitem de internamento e de isolamento e, por isso, é importante evitar o contacto com os não imunizados. «Alguém trouxe o sarampo para Portugal, já não tínhamos casos há muitos anos, e é muito fácil disseminar o vírus, transmite-se por gotículas, a tossir, a falar, a cantar», refere o médico.
O sarampo chegou a ser dado como extinto pela DGS. No ano passado, Portugal recebeu da Organização Mundial da Saúde (OMS) um diploma em que o país estava oficialmente livre de sarampo. Mas não foi assim. Segundo o diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar do Porto, nunca se pode afirmar que uma doença está erradicada enquanto não houver a certeza absoluta que ela deixou de existir em todos os cantos do mundo e para sempre. @ NM