Na
segunda metade da década setenta do século passado havia um número limitado de
dispositivos elétricos móveis utilizados pela generalidade da população. Eram
os transístores, lanternas e alguns mais, cuja autonomia dependia do tamanho
das pilhas que utilizavam. Acresce alguns dispositivos militares que embora não
tendo as fontes de eletricidade perfeita permitiam tempos de autonomia tanto
mais aceitáveis quanto mais elevado fosse, o, já de si grande, peso das
baterias.
Assim sendo, não é de estranhar
que quando John Goodenough, inventou uma bateria elétrica, de menor peso e
maior capacidade de carga elétrica, pouca importância se lhe tenha atribuído.
Contudo, a democratização das
comunicações móveis, a generalização dos computadores portáteis, as alterações
climáticas e as preocupações ecológicas, obrigaram os fabricantes a retomar o
processo de armazenamento de energia elétrica inventado por Goodenough, a
bateria de iões de lítio.
Esta tecnologia tem sofrido
melhoramentos consideráveis embora ainda não sejam suficientes para uma
aceitação sem reserva. A duração da carga dos telemóveis parece-nos sempre
insuficiente e sabemos que, em alguns casos, raros é certo, mas dramáticos, a
bateria de iões de lítio explode.
Entretanto tem vindo a ser tentada
a utilização deste tipo de baterias em veículos, mas é aqui que se têm revelado mais
acentuadamente as suas limitações e que têm sido um entrave à generalização da aceitação
dos veículos elétricos. Pese embora o enorme avanço que se tem verificado nos
últimos anos, estas baterias ainda são dispendiosas, com longos tempos de
carga, e de relativa pequena autonomia.
Esperaríamos um novo golpe de
génio para alterar o estado atual da arte.
Em janeiro deste ano, este golpe surgiu sob a forma de um
artigo científico com o título “Alternative strategy for a safe rechargeable
battery” na revista “Energy & Environmental Science “. Antes de mais devemos manter alguma prudência para com esta
descoberta pelo facto de ela, por enquanto, se manter no meio académico e
existir um salto, que é necessário efetuar, entre os laboratórios das
universidades e a indústria.
No entanto, esta nova bateria tem-se revelado muito
promissora. Os autores da descoberta estimam que esta permita três vezes mais
energia armazenada para o mesmo volume das atuais, tempos de carga muito
menores, mais seguras, maior longevidade e de muito menores custos. Enfim, tudo
o que esperávamos para a sua utilização em veículos elétricos.
Para nós, portugueses, esta descoberta traz um acréscimo de
alegria. O artigo científico foi escrito por uma equipa de que é parte
importante a professora Maria Helena Braga da Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto e que está atualmente a trabalhar como investigadora
sénior na Escola de Engenharia Cockrell da Universidade do Texas, conjuntamente
com N. Grundish, A. Murchison e por John Goodenough agora com a bonita idade de
94 anos.
Sérgio Viana
2 comentários:
Não sabia. Gostei de ler este artigo.
Obrigada ao Sérgio por nos ir mantendo a par das inovações tecnológicas.
O encontro "A Ciência por quem a faz e por quem a ensina" que acontece todos os anos na nossa escola em setembro, já convidou a cientista Maria Helena Braga para cá vir falar sobre a sua descoberta, na próxima edição. Esperemos que ela possa aceitar.
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