Em Portugal, são os piores alunos que querem ser professores, ao contrário do que acontece na Finlândia, por exemplo. O que é que podemos fazer para mudar isto? Ensaio de Alexandre Homem Cristo.
Ser professor é moldar o futuro, formar cidadãos, inspirar jovens a serem adultos que fazem a diferença pela positiva. Haverá quem veja nesta formulação um certo romantismo. Mas não vale a pena resistir: há profissões que são realmente diferentes e que, pelo impacto que provocam nas vidas dos outros, contêm uma certa grandeza intrínseca. Professor é uma dessas profissões. Porque é aos professores a quem se confia a missão de formar as gerações mais novas e as que moldarão o futuro da nossa sociedade. Porque é a eles que se entrega a formação escolar dos nossos filhos. Porque são eles os primeiros detentores (e transmissores) do conhecimento. Porque, na organização de uma sociedade, tudo isto lhes atribui um papel crucial e indispensável. E, no entanto, esta concepção choca de frente com a realidade portuguesa, na qual os professores se dizem pouco reconhecidos e se queixam de falta de prestígio social. Ora, este desfasamento não começou ontem, tem-se acentuado e soa alto como um sinal de alarme. Dito de modo directo: já não dá para fugir ao tema, é mesmo urgente discutir a situação dos professores.
(...)
Quem escolhe os cursos de educação?
Se alguém perguntar quais os cursos no ensino superior em que é mais difícil obter vaga, a resposta é mais ou menos conhecida por todos – Medicina, Matemática, alguns cursos de Engenharia, alguns cursos de Direito. Como tal, a classificação das notas de entrada nos cursos por áreas de estudo, representada na figura 1, não surpreende ninguém. Quem ambicionar ir para as Engenharias, para Saúde, para Veterinária ou para Direito só tem um remédio: estudar, estudar, estudar para ter notas competitivas, pois são essas as áreas de estudo com as médias mais altas. Só os melhores alunos do secundário conseguem entrar nestes cursos do ensino superior.
Ora, se toda a gente sabe onde se classificam os cursos das áreas das Engenharias ou da Saúde, nem toda a gente sabe onde se posicionam na tabela os cursos de via ensino, que formam professores. E, para os encontrar, basta desviar o olhar para o fundo da tabela na figura 1. Os cursos de formação de professores são, na classificação das notas de entrada por áreas de estudo, os segundos a contar do fim – pior só a área de Serviço Social. Ou seja, a área de formação de professores é das menos competitivas e onde é menos difícil obter vaga no contexto do ensino superior. O que, traduzindo, quer dizer algo muito simples: os dados mostram que, em Portugal, entre os alunos que vão para o ensino superior, não só os melhores não desejam ser professores, como são por vezes os mais fracos que saem do secundário que escolhem os cursos via ensino.
A leitura correcta dos dados solicita uma nota de esclarecimento suplementar: dizer que quem vai para os cursos de ensino são os alunos medianos/ fracos não equivale a afirmar que estes jovens e futuros professores não poderão vir a tornar-se profissionais de excelência. Nem as estatísticas são formas de determinismo, nem existe uma relação directa e provada entre ter boas notas na escola e ser-se bom a exercer uma profissão. O ponto aqui é que, como em todas as análises estatísticas que se guiam por valores médios, este diagnóstico apanha o perfil padrão de quem vai para os cursos de ensino – cujo ofício é ensinar e, por isso, que exigem uma sólida aquisição de conhecimentos. Assim, na prática, tudo isto quer dizer que, embora as notas de entrada nos cursos não sejam tudo o que importa, é parte muito importante da ponderação, porque nos informa tremendamente acerca do perfil dos jovens que querem ser professores. E só isso justifica que o tema seja abordado de forma frontal.
Sem comentários:
Enviar um comentário