Às sextas-feiras, o CRESCER anda por aí a fazer perguntas para podermos ficar a conhecer melhor alguns rostos da escola.
Desta vez, quisemos saber quais as personalidades que o inspiram, o gosto pelo cinema e qual o significado que atribui à arte.
Há heróis/personalidades marcantes na sua vida?
A nível livresco, interesso-me tanto pela literatura como
pela imagem. Gosto bastante de banda desenhada, tendo sido criados, nesta área,
montes de heróis que me marcaram imenso. Na escrita, destaco também Fernando Pessoa e Alexandre O’ Neill, dois poetas que inquietaram a minha alma. Também
com esta conotação, escolho o escritor H.P. Lovecraft, que escrevia contos de
terror e os vendia a preços baixos, não tendo, portanto, muito lucro. Trouxe o
estilo gótico à literatura, tendo encarnado que nem uma luva essa onda.
Cruzeiro Seixas |
Dentro da minha área, admiro muito um artista português,
entre muitos outros, o Cruzeiro Seixas. Apesar de não ser conhecidíssimo como outros
artistas, marcou-me através das suas obras, tendo influenciado a minha própria
arte. Este e outros artistas, como o Leonardo Da Vinci, marcaram-me tanto a
nível intelectual como a nível artístico, ocupando uma papel importantíssimo na
minha vida e trabalho. Sou fã dele desde os meus treze anos, tendo sido um
escritor que me agitou realmente, tendo influenciado o meu processo artístico. Foi
o interesse dos fãs dessa corrente que o puseram no mapa, tendo passado de um
ilustre desconhecido a célebre conhecido.
A nível profissional, escolho o chefe da nossa escola,
premiado há uma semana, sendo uma pessoa que respeito e aprecio. O
lugar de diretor de uma escola exige muito altruísmo e dedicação. Exercer este cargo só mesmo por "amor à
camisola", sendo uma das razões que me fazem admirar tanto o nosso professor Ferreira.
Tem referências na área do cinema?
Na área do Cinema, escolho O Nome da Rosa, baseado num romance do recém falecido Umberto Eco, um escritor intelectual e bastante inteligente. Tendo a consciência de que se escrevesse um livro intelectual este não venderia, optou por escrever um magnífico romance histórico que captou a atenção do mundo. Este romance relata, então, uma história passada durante a Idade Média, na qual o riso era considerado, pela Igreja, pecado. Enquanto tratado histórico, leva-nos para um mistério policial que envolve um convento medieval. É realmente uma história muito bem fundamentada e bastante interessante, assemelhando-se a uma aula de História sobre a Idade Média (por sinal, uma das melhores aulas de História que já tive). Para além disto, esta obra literária tornou possível consagrar algo raro: pegar num bom livro e fazer um filme à sua medida. Umberto Eco conseguiu, realmente, tornar a academia e o conhecimento em algo interessante e apaixonante. Vale realmente a pena ler o livro e ver o filme.
Gosto, também, dos filmes do Hitchcock, um cineasta que adora pôr as pessoas
nervosas e cheias de medo até ao fim. Lembro-me de uma vez ter visto o The Birds e a minha irmã, que é muito
sensível, ter saído de lá cheia de medo de pássaros.
Qual é o significado que atribui à arte?
Eu já nasci artista. Na minha fotografia mais antiga, estou
ainda de fralda e com uma caneta na mão, quando ainda não andava – entre meses e um ano de idade –, já tinha
pintado a minha casa toda até onde eu
chegava com a caneta. A partir daí nunca mais parei. O que me levou para o
mundo da arte foi, em grande parte, a banda desenhada. Considero-a até melhor
do que o cinema, uma vez que fica mais barato e é, de certo modo, mais
imediato. Se quisermos criar a cena de um avião a explodir, desenhamos. Num
filme, temos de pagar e utilizar equipamento.
Ser professor, para mim, é uma espécie de ginástica que não
deixa morrer o pintor e artista que tenho dentro de mim. Ensino o que gosto de
fazer aos outros e ajudo-os a tornar fácil o que lhes soa complicado. Quando
era mais novo tinha energia para contagiar qualquer aluno, mesmo aqueles que
entravam a dizer que o diabo é arte. Agora, já são mais de trinta e cinco anos
de aulas e já não tenho tanta energia e paciência. Daí que o ensino obrigatório
me incomode um bocado, pois muitos dos alunos só vêm às aulas para não ter
falta, o que acaba por não permitir que os que querem realmente aprender
consigam aproveitar plenamente a oportunidade e aprofundar o seu lado
artístico.
exemplo da técnica daqui |
A arte, hoje, é muito a expressão da subjetividade do
artista, isto é, é bastante intelectual e concetual. Antes existiam correntes e
grupos que as concretizavam; agora, um artista é simplesmente alguém e a sua
obra é um conceito subjetivo criado pelo artista. Podemos ser artistas sem
sabermos desenhar e até sermos os melhores artistas da atualidade. Temos o
exemplo da Joana Vasconcelos. É só preciso a ideia porque o resto surge em
função disso, feito pelo artista ou não. Ainda dou, porém, muito valor ao
trabalho manual, ao virtuosismo de levar a técnica a um ponto que não é
atingido por qualquer um. A arte é, realmente, a minha paixão e, como tal,
estou sempre ativo. Faço exposições e os meus quadros são mágicos: pinto-os com
tintas que têm fluor que, quando refletida uma luz especial, no escuro,
permitem visualizar as obras. Foi neste âmbito que realizei, há alguns anos,
uma exposição na nossa escola.
Ana Pinto e Rita Almeida
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