O prémio Nobel da Física deste
ano foi atribuído a dois cientistas pela sua contribuição na compreensão do
comportamento enigmático de uma partícula fundamental da matéria, o neutrino.
mar de neutrinos (daqui) |
A existência desta partícula foi
proposta por Wolfgang Pauli em 1930 para explicar pequenas violações à lei de
conservação de energia na emissão de radiação de eletrões ou positrões pelos
núcleos dos átomos, dita emissão beta.
Esta hipotética partícula não
teria carga elétrica nem massa, ou seria muitíssimo próxima de zero. Apesar da
quase nulidade de características físicas, ela deveria ser muito abundante no
Universo.
Por não ter carga elétrica ou
massa interagiria muito pouco com a matéria, e por isso, por exemplo, atravessariam
o nosso corpo sem deixar quaisquer vestígios.
Dada a dificuldade de confirmação
experimental da sua existência, ela só veio a ser verificada em 1956, depois de
muitas tentativas, pelos físicos Frederick Reines e Clyde Cowan dos Estados
Unidos. Estas foram realizadas no fundo de minas onde pouca interferência de
outros fenómenos ligados à agitação na superfície da Terra existem, tal era a
delicadeza do que se pretendia medir.
Mas, poder-se-á perguntar, porque
despender tantos esforços à procura desta partícula feita de quase nada?
Ora, embora os neutrinos tenham as
propriedades acima descritas, estão associados a questões fundamentais da nossa
compreensão do Universo.
Por exemplo, da massa do neutrino
depende o destino do Universo ser aberto ou fechado, isto é, se o Universo tem,
ou não tem, massa suficiente para criar força gravítica capaz de contrariar a
atual expansão.
Outra questão que deu muitas
discussões e que estes laureados resolveram implicou o Sol. As primeiras
contagens de neutrinos provenientes do Sol eram diminutas, não estavam conforme
as previsões. Já estava comprovado que as reações nucleares de fusão dos átomos
de hidrogénio deveriam ser uma fonte de neutrinos, contudo, tendo em conta a
matéria que é transformada no interior do Sol por estas reações, a contagem era
diminuta. Que explicação poderia haver para esta gritante discrepância? Será
que as reações nucleares já teriam terminado e estaríamos agora num período de
lento (de alguns milhares de anos) arrefecimento do Sol?
A solução veio destes
recentemente nobilitados, o japonês Takaaki Kajita (n.1959), da Universidade de
Tóquio (Japão); e o canadiano Arthur McDonald (n.1943), professor emérito da
Queen’s University (Canadá).
As experiências apenas detetaram
um estado possível dos neutrinos, daí o seu diminuto número. Demostraram também
que as alterações de estado físico exigem que estas partículas tenham massa que
ainda é desconhecida.
Podemos, então estar descansados,
o Sol continuará a fornecer calor e luz durante mais cerca de 4,5 mil milhões
de anos.
Na verdade, é muitas vezes o
insignificante, o quase nada, que traz as respostas de que necessitamos.
Sérgio Viana
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