Na
prática, tudo que o “país maravilha” da educação se propõe fazer para mudar a
escola é radicalmente diferente e de sinal contrário à reforma empreendida
recentemente em Portugal pelo ministro Nuno Crato, comenta José Morgado,
professor do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA).
Na
Finlândia aponta-se para “uma ‘modernização’ do pensamento educativo” que,
destaca Morgado, se traduz na intenção de desenvolver “formas de trabalho em
sala de aula que transcendam a lógica do trabalho interior a cada disciplina,
definindo um conjunto de tópicos que exigem saberes oriundos de diferentes
disciplinas e que serão trabalhados de forma transversal”.
Já
Portugal, pelo contrário, apostou numa maior compartimentação, com uma nova
estrutura curricular assente “em programas demasiados extensos e excessivamente
prescritivos e na definição de metas curriculares, que fazem correr o sério
risco de que o ensino se transforme na gestão de uma espécie de check list”, resume este docente do
Departamento de Psicologia da Educação do ISPA, que tem larga experiência na
formação de professores.
José
Morgado lembra, a propósito, que as metas aprovadas para Português e Matemática
do 1.º ciclo “definem um total de 177 objectivos e 703 descritores de
aprendizagem, sendo exigido aos professores que promovam o ensino formal de
cada um deles e aos alunos que atinjam, por exemplo, uma velocidade de leitura
de, no mínimo, 90 palavras por minuto”.Também Assunção Flores, presidente da
Associação Internacional de Estudo dos Professores e do Ensino, fala de dois
modelos distintos. A visão “mais integrada e flexível de currículo” assumida
pela Finlândia “afasta-se de uma perspectiva mais redutora que se centra nos
conteúdos a aprender e nos objectivos a atingir no âmbito das disciplinas,
prevalecendo, muitas vezes, uma lógica caracterizada pela rigidez e obesidade
curriculares, associadas, entre outros aspectos, à extensão e cumprimento
escrupuloso dos programas”, aponta a também investigadora da Universidade do
Minho.
Alunos no centro das escolhas
Alunos no centro das escolhas
Em respostas por escrito ao PÚBLICO, a directora do Centro Nacional de Educação
finlandês, Irmeli Halinen, refere que o novo currículo nacional, com base num
diploma de 2012 onde se estabeleceram as metas globais e os tempos lectivos
para a escolaridade obrigatória, entre os sete e os 16 anos, “clarifica os
objectivos de todas as disciplinas escolares, dá ênfase a práticas de
cooperação em sala de aula e implementa conhecimentos e competências
multidisciplinares, através do estudo de fenómenos e tópicos que será feito com
a colaboração entre vários professores em sala de aula”. @ PÚBLICO
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