Aparentemente dois assuntos que não cabem na mesma
reflexão – um conto de Sophia de Mello Breyner e o tema Educação Inclusiva -,
mas foi precisamente uma dramatização de A
Menina do Mar, realizada na nossa escola, que me suscitou uma reflexão
sobre o que poderá contribuir efetivamente para uma educação inclusiva.
Passo a
explicar:
No âmbito do
projeto Ler Diferente a decorrer na
nossa escola, foi lançado o desafio de levar a cabo a dramatização daquele
conto, pelos alunos do 5ºD e da UAEM de 2º ciclo do nosso agrupamento,
acreditando que a dramatização constitui uma excelente forma de compreensão e
recriação do texto literário e, no caso de alunos que não desenvolveram a
capacidade da leitura da linguagem escrita, um meio particularmente
privilegiado de acesso ao maravilhoso mundo da literatura. O desafio foi
abraçado pela Diretora de turma do 5ºD, professora Edna, com entusiasmo,
otimismo e muita dedicação e, desde o início da preparação da atividade até ao
momento da sua apresentação final, registei pequenos gestos e atitudes que
considero verdadeiramente promotores de uma efetiva inclusão:
. os momentos
dedicados ao ensaio da dramatização decorreram
num ambiente de saudável interação entre todos os alunos,
particularmente no que concerne ao respeito manifestado pelas capacidades dos
que são portadores de multideficiência, traduzido em pequenos gestos que
valorizavam a contribuição que cada um podia dar. Foram, assim, verdadeiras oportunidades
de aprendizagem de respeito pela diferença, num ambiente em que a diversidade
era a nota dominante;
. outra atividade que não poderia deixar de referir
foi levada a cabo pelos mesmos alunos nas aulas de Língua Portuguesa.
Sensibilizados, pela sua professora, para o facto de haver na escola alunos que
não desenvolveram a capacidade de leitura da linguagem escrita, os alunos do
5ºD representaram alguns momentos do conto em desenhos, com a finalidade
específica de os oferecerem aos alunos da UAEM, como uma forma colorida de
conhecerem melhor A Menina do Mar.
Portanto, o reconto da narrativa a partir de ilustrações permitiu que todos “entrassem” no texto, vivenciando
uma experiência, poder-se-ia dizer, semelhante à amizade que as personagens de
Sophia de Mello Breyner construíram;
. para a construção dos acessórios e guarda-roupa da
dramatização, contribuíram os alunos do 5ºE, turma da qual faz parte um aluno
da UAEM. Assim, durante algumas aulas de EVT, sob a atenta orientação da
professora, “nasceram” algumas das personagens que iriam dar vida à
apresentação de uma história sobre a amizade.
Destas
pequenas (grandes) experiências, parece-me poder concluir que é na efetiva
interação com os pares que mais eficazmente se promovem atividades inclusivas e
que “uma das mais poderosas
estratégias para desenvolver um ambiente de aprendizagem mais inclusivo são os
próprios alunos”(1).
A promoção
da educação inclusiva é, assim, mais do que aplicação rigorosa da lei, é a
equidade, ou seja, a inclusão com justiça, no sentido do respeito pelas
capacidades de cada ser humano e da valorização da sua participação. Tal requer
que aprendamos a analisar cada situação pela perspetiva do outro, de modo a
compreender que, por exemplo, transportar um adereço, tal como uma flor, é tão
importante quanto pronunciar o mais elaborado diálogo para o produto final de
uma dramatização.
Neste
sentido, “Eu sinto que os recursos
mais importantes que conhecemos são os recursos humanos, e que, mesmo quando
retiram os recursos financeiros, o sistema escolar ainda fica rico em recursos
humanos”, para ir de encontro, mais uma vez, à perspetiva de Mel Ainscow (1).
E porque
nesta reflexão também de literatura se trata, termino-a com uma bela frase de
Gonçalo M Tavares : “E a função mais bela
dos homens é embelezar”.
Portanto, se
incluir é tornar a vida dos outros mais bela, outras atividades semelhantes a
esta se seguirão, com um antecipado “Obrigada!” a todos os que sobre elas a sua
vontade depositarem.
Maio de 2012
Ângela Campos
(Docente de
Educação Especial)
(1) Entrevista
a Mel Ainscow. (2011) Educação Inclusiva-
Revista da Pró-Inclusão: Associação Nacional de Docentes de Educação
Especial. Vol.2, Nº2 (p.4-7)
1 comentário:
Assim teremos um mundo melhor.
Obrigada a todos os que contribuiram.
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