Como já este jornal noticiou,
realizou-se no passado dia 7 de setembro, na nossa escola secundária e
organizado pelo Centro de Formação de Associação de Escolas maiatrofa, o
encontro “A Ciência por quem a faz e por quem a ensina”.
Na parte da manhã houve quatro comunicações que
resumidamente exponho.
Na primeira comunicação da
manhã, o professor Pedro Fernandes na sua palestra “Química Virtual”, respondeu
à questão: Será possível “ver” as modificações das moléculas durante uma reação
química? As aspas colocadas em redor do verbo pretendem modificar o seu
significado. Não está em causa ver diretamente, ou por alguma técnica especial
de ampliação, a realidade em causa. Não, trata-se de obter uma simulação
gráfica.
Para o conseguir é necessário introduzir em supercomputadores
a composição das moléculas iniciais, as equações matemáticas que descrevem a
física do comportamento desses corpúsculos e esperar que a máquina execute uma
imensidão de cálculos, tanto mais demorados quanto maior for a complexidade das
moléculas, como o são, de facto, as moléculas orgânicas.
Embora a obtenção de resultados seja demorada, mesmo sendo a
tarefa executada por um supercomputador, permite, além de outros ganhos, poupar
muito tempo.
Poderá haver ainda outros ganhos. Por exemplo, saber se uma
reação é possível ou não, poupar a vida de muitas cobaias, prever o que
acontece em reações químicas muito rápidas ou muito lentas ou, ainda, conhecer
as reações químicas que evoluem em ambientes extremos de temperatura e pressão
impossíveis de experimentar.
Ao que parece estas simulações têm interessado aos
laboratórios farmacêuticos por lhes permitir ficar a saber, antes de iniciar ou
continuar alguma pesquisa, se determinada reação poderá ocorrer ou não.
O tema da segunda comunicação foram as comunicações sem
fios.
Queremos ter acesso fácil e permanente a
comunicações móveis de voz e internet em todos os lugares e em qualquer
circunstância. O engenheiro Paulo Oliveira, ex-aluno da nossa escola, explicou
a matemática complexa que fundamenta o acesso com segurança às comunicações mesmo
quando o tráfego de informação é muito elevado, como no caso em que há grandes
ajuntamentos de pessoas.
Hoje temos como banal o acesso de informação em qualquer
lugar. Na verdade, esta operação é engenhosa e complexa e continua a ser um
campo de investigação.
Na terceira comunicação, a Professora Sofia Dória respondeu à questão: O
cariótipo ainda é necessário na era dos arrays CGH.
Tanto o exame do
cariótipo como a do array CGH constituem técnicas de análise do material
genético para identificar alterações no ADN que possam comprometer qualidade de
uma qualquer idade.
No teste do cariótipo obtém-se um resultado visual de
regiões coradas dos cromossomas que permite conhecer a sua estrutura. Se houver
alguma alteração, em relação ao normal, indica que poderá haver, ou não, alguma
doença genética.
Mais recentemente surgiu uma outra técnica, a do array CGH,
que permite obter informação do ADN com muito maior detalhe. Em muitas
circunstâncias este excesso de informação cria algumas dificuldades. É que nem
todas as alterações têm efeitos nefastos. Algumas fazem parte das normais
diferenças individuais, isto é, umas são benignas e outras não têm efeitos
conhecidos.
Este acentuado crescimento conhecimento da herança genética
individual levanta algumas questões. Será que queremos conhecer todas as
prováveis doenças que havemos de contrair mais tarde, quando pouco podemos
alterar? Quem deve ter acesso a esta informação?
Na verdade, a informação que se obtém pelo método array CGH é
excessiva em algumas situações pelo que se continua a utilizar o exame do
cariótipo. Podemos pois concluir que nem sempre mais informação é melhor.
O professor João Lopes dos Santos, do departamento de Física
da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, mostrou a relação entre a
luz e matéria.
Não constitui surpresa
afirmar que quando olhamos para um peixe que vagueia pelas águas, ele não está
na direção do nosso olhar. Este fenómeno é desde há muito tempo conhecido e é
conhecido por refração da luz. Este fenómeno é utilizado nas lentes e em alguns
outros dispositivos óticos.
Este fenómeno é descrito pela lei de Snell e na sua
expressão matemática consta um número positivo, o índice de refração, que
caracteriza as propriedades óticas de cada um dos meios atravessados pela luz.
Assim o índice de refração do ar é 1,00 (aqui os zeros à direita da vírgula
contam) da água é de 1,33 e do vidro entre 1,5 a 1,9.
Toda a observação da realidade, em relação às propriedades
óticas, era a prevista pelo fortemente sustentado edifício teórico quando, em
1967, um físico teórico ucraniano, Victor Veselago, publicou um artigo com
uma análise teórica sobre materiais com um índice de refração negativo. Depois de provocar
algum furor nos meios académicos e de induzir uma forte procura destes
materiais o caso foi esquecido por não se ter encontrado então nenhum com a
propriedade proposta.
Contudo, 33 anos depois, David Smith confirmou a existência
de um metamaterial com as propriedades previstas por Veselago. Metamateriais
são materiais modificados, no caso a partir da nanotecnologia, para se obter
propriedades que não existem na natureza.
Ora com o metamaterial obtido podemos obter resultados que
não lembram ao cidadão comum. São alguns exemplos: o revestimento de um objeto
com o este metamaterial pode torná-lo invisível; poder-se-ão construir
superlentes que permitam observar, com um detalhe inédito, o DNA.
Os supermateriais têm sobretudo interessado à indústria
militar.
Esta descoberta veio-nos lembrar que o Mundo é bem mais
surpreendente do que julgamos, que pode mesmo aproximar-se da mais imaginativa
ficção, como no caso do manto da invisibilidade do herói Harry Potter. Bem vale
a pena dedicar-lhe a nossa atenção.
Sérgio Viana, docente de Física e Química
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