segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

mundo: EUA ignora apelo de Guterres e veta cessar-fogo humanitário em Gaza


Conselho de Segurança discutiu a situação no enclave palestiniano após um pedido raro do secretário-geral. Resolução teve 13 votos a favor, a abstenção do Reino Unido e o voto contra dos EUA.

Apesar de ter tido o voto positivo de 13 países e a abstenção do Reino Unido, a proposta de resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que exigia a um cessar-fogo humanitário em Gaza não passou, depois de os EUA usarem o seu direito de veto enquanto membros permanentes. O voto norte-americano era o esperado, pois o representante Robert A. Wood tinha alegado que o cessar-fogo só serviria para "plantar as sementes para a próxima guerra, já que o Hamas não tem qualquer desejo de uma paz duradoura". Wood considerou que a resolução era "desequilibrada", "afastada da realidade" e não teria consequências práticas no terreno.

De nada serviu o apelo feito pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que recorreu ao artigo 99.º da Carta da ONU para obrigar o Conselho de Segurança e discutir o tema. O português descreveu uma "situação sem precedentes" na Faixa de Gaza, dizendo que esta levou à sua "decisão sem precedentes de invocar o artigo 99.º", instando aquele órgão "a pressionar para evitar uma catástrofe humana e apelando à declaração de um cessar-fogo humanitário". E insistiu: "Os olhos do mundo, e os olhos da história, estão a ver. É hora de agir."

Guterres reiterou a sua condenação "ao ataque terrorista brutal" do Hamas a 7 de outubro, reforçando que "não há justificação possível para a morte deliberada de cerca de 1200 pessoas, incluindo 33 crianças" ou a tomada de centenas de reféns. Contudo, defendeu, "a brutalidade perpetrada pelo Hamas nunca pode justificar a punição coletiva do povo palestiniano".

O secretário-geral falou dos mais de 17 mil palestinianos que já morreram nos ataques israelitas, entre eles sete mil crianças, além da destruição de 60% das casas no enclave e no facto de 85% da população ter sido obrigada a fugir. "Embora o lançamento indiscriminado de rockets por parte do Hamas contra Israel e do uso de civis como escudos humanos irem contra as leis da guerra, tal conduta não absolve Israel das suas próprias violações".

Guterres alegou que a situação está a tornar-se "insustentável", porque que "as condições para a entrega efetiva de ajuda humanitária já não existem". E lembrou que a fronteira de Rafah, entre a Faixa de Gaza e o Egito, não foi desenhada para deixar passar centenas de camiões. Mesmo que essa ajuda pudesse entrar, indicou, as restrições aos movimentos e os bombardeamentos constantes, além da escassez de combustível, tornam impossível chegar a quem precisa.

O português defendeu que "não existe proteção efetiva dos civis" no enclave palestiniano, está a acabar a comida e o sistema de saúde está a "colapsar" apesar de as necessidades estarem a aumentar. "A população de Gaza está a ser instruída a mover-se como flippers humanos, fazendo ricochete entre zonas cada vez mais pequenas no sul, sem qualquer dos elementos básicos para a sobrevivência. Mas nenhum local em Gaza é seguro", insistiu o secretário-geral. Fonte: DN

 

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