Um novo estudo sugere que, há cerca de dois milhões de anos, o Sistema Solar atravessou uma densa nuvem molecular que teve um impacto significativo no clima da Terra.
Há dois milhões de
anos, a Terra era um lugar bastante diferente. Os nossos primeiros ancestrais
humanos viviam ao lado de tigres de dentes de sabre, mastodontes e enormes
roedores, num ambiente extremamente frio. Este período de gelo, que se repetiu
regularmente até há cerca de 12.000 anos, é atribuído a vários fatores como a
inclinação e rotação do planeta, movimentos tectónicos, atividade vulcânica e
níveis de dióxido de carbono. No entanto, a nova pesquisa sugere que fatores
extraterrestres, como a posição do Sol na galáxia, também desempenharam um
papel crucial.
A investigação de
Opher e Loeb utiliza modelos informáticos sofisticados para retroceder no tempo
e mapear a posição do Sol e do Sistema Solar. Os resultados indicam que, há
dois milhões de anos, o Sistema Solar atravessou uma nuvem interestelar fria e
densa, conhecida como Cinta Local de Nuvens Frias. Esta nuvem, composta
principalmente por hidrogénio, teria comprimido a heliosfera – a bolha de
plasma que protege o Sistema Solar da radiação cósmica.
“Ao atravessar esta
nuvem densa, a heliosfera ficou comprimida, deixando a Terra e outros planetas
do Sistema Solar temporariamente desprotegidos”, explicou Opher. Esta exposição
ao meio interestelar permitiu que partículas radioativas e raios cósmicos atingissem
a Terra, afetando o seu clima e ambiente.
A teoria de Opher e
Loeb é apoiada por evidências geológicas. Isótopos de ferro-60 e plutónio-244,
que são indicativos de eventos de alta radiação, foram encontrados em
sedimentos oceânicos, na Lua, na neve da Antártida e em núcleos de gelo datados
de há cerca de dois milhões de anos. Este período coincide com registros de
temperaturas que indicam um arrefecimento significativo.
“A passagem pela nuvem densa poderia ter bloqueado a heliosfera por centenas de
anos a até um milhão de anos”, explicou Opher. “Mas, assim que o Sol se afastou
da nuvem, a heliosfera voltou a envolver todos os planetas, incluindo a Terra.”
Esta descoberta
sugere que a posição do Sol na galáxia pode ter um impacto maior na história
climática da Terra do que se pensava anteriormente. Avi Loeb destaca a
importância desta pesquisa: “Descobrimos que a nossa vizinhança cósmica pode
influenciar drasticamente a vida na Terra. A nossa passagem por nuvens densas
de gás há milhões de anos expôs a Terra a um fluxo maior de raios cósmicos e
átomos de hidrogénio.”
Os cientistas agora
procuram determinar a posição do Sol há sete milhões de anos e até mais longe
no tempo, utilizando dados da missão Gaia da Agência Espacial Europeia, que
mapeia a posição e trajetória de mais de mil milhões de estrelas na Via Láctea.
Conclusão
“Este é apenas o começo”, afirma Opher. A equipa espera que esta pesquisa promova uma maior exploração de como o Sistema Solar pode ter sido influenciado por forças externas no passado e como estas influências ajudaram a moldar a vida na Terra. Através desta investigação, a compreensão sobre a interação entre o clima da Terra e eventos cósmicos pode ser significativamente aprofundada, abrindo novas possibilidades para a ciência climática e astronómica. Fonte: Sapo
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