quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

saúde: síndrome de Asperger - o que é e como se trata?

Joana Martins é Neuropediatra no CNS Braga e escreve sobre Síndrome de Asperger, perturbação do espectro do autismo (PEA) mais ligeira.

A síndrome de Asperger é uma perturbação neuropsiquiátrica que se caracteriza por dificuldades significativas na interação social, na comunicação e no comportamento. É considerada uma perturbação do espectro do autismo (PEA) mais ligeira. As crianças com esta síndrome distinguem-se por desenvolverem linguagem verbal e por apresentarem um nível cognitivo normal ou mesmo acima da média em algumas áreas.

A síndrome de Asperger é bastante mais comum do que o autismo clássico, afetando 20 a 25 crianças por cada 10 mil. Em Portugal estima-se que existam cerca de 40 mil portadores desta síndrome. É mais comum nos rapazes do que nas raparigas (cerca de 10 para um).

As manifestações clínicas da síndrome podem ser observadas antes dos 2 anos de idade. Os sintomas iniciais típicos são a dificuldade em manter um contacto ocular confortável e em utilizá-lo em conjugação com outras formas de comunicação e a hipersensibilidade aos estímulos, particularmente sonoros, mas também luzes, sabores ou texturas.

A estes sintomas associam-se tipicamente:

·   -Dificuldade de comunicação, sobretudo na comunicação não verbal. A criança com síndrome de Asperger tem dificuldade em descodificar mensagens para além do conteúdo verbal explícito, nomeadamente tom de voz, segundos sentidos, ironia, humor, expressão facial e corporal. Tende a interpretar de forma literal. Pode existir pouca iniciativa de comunicação e/ou comunicação muito centrada nos tópicos de interesse e na perspetiva do próprio, com pouca oportunidade de participação de outras pessoas;

·     -Dificuldade no relacionamento com outras pessoas, por falha na compreensão dos outros e em mostrar empatia;

·      -Dificuldade em compreender as regras sociais e de conduta, como, por exemplo, levantar o dedo para falar na sala de aula ou esperar numa fila;

·     -Descoordenação motora e dificuldades na motricidade fina, afetando a destreza e dificultando a prática de alguns desportos;

·    -Necessidade de estabelecer rotinas e resistência a alterações desta, que geralmente causam ansiedade e instabilidade no comportamento;Interesse restringido a temas muito específicos que dominam as conversas e as atividades;

     -Descontrolo emocional em situações de sobrecarga, por dificuldade na compreensão e gestão os próprios sentimentos e as emoções.

       A apresentação clínica da síndrome de Asperger é, no entanto, muito variada e influenciada pela idade de início e pela eventual associação a outras comorbilidades, como défice de atenção, perturbação de tiques, ansiedade e depressão, que devem ser reconhecidas e abordadas.

     Não são conhecidas as causas da síndrome de Asperger, no entanto, sabe-se que tem uma forte componente genética. Os genes que têm vindo a ser identificados estão envolvidos no desenvolvimento cerebral, influenciando a transmissão de sinais entre os neurónios e a forma como a informação é processada. Além disso, a interação entre fatores genéticos e ambientais parece ser igualmente relevante no desenvolvimento desta perturbação.

    O diagnóstico da síndrome de Asperger é clínico, baseado na história clínica fornecida pelos pais e na observação do comportamento da criança na consulta, com recurso a avaliações formais do desenvolvimento.

     Não existe medicação específica para a síndrome de Asperger, mas existem intervenções terapêuticas que possibilitam uma melhor convivência com a doença. Uma criança com síndrome de Asperger, acompanhada desde cedo, pode fazer o percurso escolar habitual.

    A intervenção é multidisciplinar, envolvendo neuropediatras, pediatras, pedopsiquiatras, psicólogos e terapeutas, e deve ser personalizada, de forma a responder às necessidades de cada doente. Pode incluir acompanhamento psicológico, terapia cognitivo-comportamental e, eventualmente, terapia da fala e ocupacional. O tratamento das condições neuropsiquiátricas associadas é fundamental, podendo estar indicada medicação dirigida no sentido de obter um melhor controlo dos sintomas e maior sucesso nas outras intervenções.

     De uma forma geral, o apoio e compreensão dos familiares, amigos, professores e colegas são fundamentais. Na verdade, a família tem um papel central na abordagem da síndrome, ao estimular a socialização e ao promover o desenvolvimento de competências sociais básicas, encorajando o contacto visual, antecipando e explicando alterações à rotina, auxiliando na compreensão das próprias emoções e dos outros, diversificando interesses e fortalecendo a autoestima, ao valorizar os sucessos. Fonte: Sapo

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