terça-feira, 23 de maio de 2023

(2) desafio: "Avó/avô, como era viver antes do 25 de abril de 1974?"

 Mais um trabalho subordinado ao tema do desafio: "Avó/avô, como era viver antes do 25 de abril de 1974?", desta feita da autoria da aluna Bárbara Garcia, do 9.º K.

Uma Viagem no Tempo

O Estado Novo e o 25 de Abril


Trabalho realizado por:
Bárbara Garcia nº4
9ºK
Disciplina de História - Profª Sara Botelho

Neste trabalho vou entrevistar pessoas da minha família sobre o Estado Novo e o que aconteceu no 25 de Abril. As pessoas que participam neste trabalho são:

            António Carvalho Pereira
      74 anos;
      26 anos em 25 de Abril de 1974;
      Sílvia C. Carvalho Pereira
      76 anos;
      27 anos em 25 de Abril de 1974;
      Herminia  Carvalho Pereira
      77 anos;
      28 anos em 25 de Abril de 1974;
      Cecilia Aroso Machado
      70 anos;
      21 anos em 25 de Abril de 1974;

António Carvalho Pereira

Como era viver antes do 25 de Abril

 Quais eram as dificuldades?

   “A principal era a falta de liberdade. Para os rapazes havia uma outra muito forte:  a guerra. Eu não senti na pele, mas havia também muita fome e muito analfabetismo, alguns dos meus colegas do primeiro ciclo foram trabalhar quando acabaram o quarto ano.”

 Tinha trabalho?

  “Eu não tive dificuldade em ter emprego. Como os jovens com estudos eram poucos, para os que os tinham não havia dificuldades. Eu ainda estava na tropa e já estava a dar aulas ao segundo ciclo e depois ainda estava a dar aulas e já estava a trabalhar numa Multinacional Farmacêutica.”

 O que era a Pide?

  “Uma polícia política assustadora e temida por todos, mas ainda mais assustadores eram os “bufos”, pessoas que efetivamente não fazendo parte da PIDE a troco de algum dinheiro denunciavam qualquer pessoa, a maioria eram verdadeiros “escroques” .

 O que mudou na sua vida com o 25 de Abril?

Na vida social: “Poder partilhar as ideias aberta e livremente à mesa do café, o respirar a liberdade, o poder participar conjuntamente com a minha esposa na vida política e nas  manifestações em defesa da democracia contra as ditaduras de esquerda e direita.”

Profissionalmente: “Fui promovido e passei a ser um dos responsáveis da empresa na região Norte. Fui também eleito delegado sindical, o que originou uma participação na vida sindical da empresa e no sindicato. Ah! E tive um substancial aumento de vencimento.”

Na vida privada: “A sensação sentida ao ver nascer uma filha em liberdade é uma sensação inexplicável.”

Cecilia Aroso Machado

Como era viver antes do 25 de Abril

 O que era o  Estado Novo?

  “Era uma ditadura. Tínhamos um regime de um homem chamado Salazar, homem esse que tinha os cofres do Estado cheios de dinheiro e ouro, mas o povo vivia muito mal, com medo, sem poder comunicar e com muitas restrições.”

 Qual era a perspetiva perante o regime?

  “O povo não era feliz, nem existiam oportunidades, devido ao regime, mas não passava na cabeça da maioria dos comuns a ideia de uma revolução,. O povo era muito subserviente, daí preferirem a emigração para outros países do mundo.”

 Quais eram os seus  costumes e hábitos naquela altura?

  “Todos os costumes e hábitos eram baseados nas festas da terrinha, festas dos santos, igreja e familiares, umas idas à praia nas férias grandes, eu já tinha amigas e íamos a umas festinhas de garagem aniversários, etc.”

Como se vestiam?

  “Sempre usei roupas modernas, mini-saias e calças à boca de sino e outras muito próprias desse tempo. Para mim era fácil, pois a minha irmã era modelista e fazíamos a nossa própria roupa.”

Sílvia C. Carvalho Pereira

 Como era viver antes do 25 de Abril 

Como era viver durante o Estado Novo?

 “Antes do 25 de Abril, embora com o peso da ameaça constante imposta pelas autoridades, diga-se,  medo da PIDE, na verdade não tinha grandes dificuldades porque nunca fui politicamente ativa e portanto estava de certo modo adaptada às normas vigentes, mesmo sem concordar com elas.

A PIDE era realmente a ameaça mais séria, a arma poderosa do regime autoritário que dominava as nossas vidas.

Não devo esquecer os anos de estudante, sobretudo no Liceu, onde as regras eram realmente muito rigorosas, sendo por exemplo, rigorosamente proibido ir para as aulas sem meias! Na Faculdade, foi a fase das lutas estudantis, greves e colegas presos.” 

Como ocupava os seus tempos livres?

  “Os tempos  livres, para mim, eram passados em família, via televisão (algumas séries e transmissões de teatro em direto, juntavam toda a família e por vezes também os vizinhos). Ia com frequência ao cinema e os passeios de domingo eram sagrados, a maior parte das vezes com piqueniques que juntavam família e amigos.

A praia era obrigatória no mês de agosto, fizesse sol ou chuva, e tinha, pelo menos para mim, um caráter mais terapêutico do que lúdico, pois nunca gostei de praia.” 

Como era trabalhar nesse tempo?

  “Do ponto de vista do trabalho, posso considerar-me de certo modo privilegiada, pois como médica tinha trabalho garantido, se o desejasse para toda a vida, e com a possibilidade de ter também atividade privada.”

Hermínia Pereira

 Como era viver antes do 25 de Abril

 Como eram os estudos e as carreiras profissionais nessa altura?

  “Eu tinha trabalho, e felizmente nunca passei dificuldades, mas nós vivíamos bem com muito menos coisas do que vocês têm agora.

   Na altura, a grande maioria das pessoas só tinham a primária (o equivalente ao 4º ano de hoje). As escolas eram diferentes para rapazes e raparigas, só havia ensino misto na faculdade. A grande maioria das crianças começava  a trabalhar aos 10-11 anos para ajudar os pais, praticamente não havia creches e nós íamos para casa de uma ama até aos 6 anos ou ficávamos em casa com as mães ou as avós. Todos os rapazes tinham que ir para a tropa e a partir do final da década de 70 tinham que ir para a guerra do ultramar. Muitos fugiram do país para não irem para a guerra e só voltaram depois do 25 de Abril.”

 Como era a vida política nessa altura?

  “Todos nós tínhamos medo da PIDE que era a polícia do estado e por qualquer coisa prendiam uma pessoa. Antes do 25 de Abril muito pouca gente votava (não valia a pena, só havia um partido, que ganhava sempre...). A maioria das mulheres não votavam, porque só votavam os chefes de família, que eram os homens). Uma mulher casada não podia sair do país sem autorização do marido e outras coisas do género…”

 Guerra do Ultramar

  “Eu estive na guerra, mas não estive numa zona de combates. Em Angola havia três movimentos de libertação ( a que o governo português chamava terroristas): o MPLA de inspiração comunista e que é o partido que sempre esteve no poder desde a independência, a UNITA de inspiração maoista e a FNLA, que era mais conservadora.Na zona onde nós estávamos, que era no norte, na província do Uíge, o movimento que lá dominava era a FNLA e se calhar era por isso que a vida era mais calma.Os militares faziam sobretudo ações de apoio aos civis, havia um hospital pequenino onde o tio Quim e eu dávamos consultas à população. Eu via as mulheres, as crianças e fazia os partos e o tio  Quim via os homens. Também fiz um parto de um bébe filho de um militar. Os feridos que apareciam eram sobretudo de acidentes de viação ou de caça. Os feridos de guerra eram de algumas " minas" que são um tipo de bomba que eles enterravam nas picadas (estradas de terra), que rebentavam quando os carros ou as pessoas as pisavam.” 

25 DE ABRIL

COMO SOUBE, ONDE ESTAVA E O QUE FEZ?

António Carvalho Pereira

  “No 25 de abril eu estava em Lisboa num curso de formação profissional. Eu ia ter um teste pelo que na véspera eu reuni com alguns colegas no meu quarto de hotel para estudarmos. Recordo-me de a determinada altura ouvimos e cantarolamos o “Grândola Vila Morena”. De manhã quando acordei, dado que a minha esposa estava grávida da nossa filha, eu tentei telefonar-lhe para saber se estava bem, liguei para a receção do hotel a pedir a chamada telefónica, foi aí que eu soube que não havia ligações telefônicas pois havia uma revolução. Indo à janela do quarto vi os carros militares na rua. Tentei vir o mais rápido possível para o Porto e corri para a estação para apanhar o comboio. Todos iam cheios, alguns passageiros tinham pequenos rádios portáteis (transístores) e quando o comboio parava ouvíamos as notícias da revolução”

 Sílvia C. Carvalho Pereira

  “Em 25 de Abril de 74, soube da revolução pelas notícias na rádio e depois na TV que fui acompanhando ao longo dia. Senti um misto de alegria e esperança num futuro diferente, misturado com medo do que pudesse acontecer, qual a evolução dos acontecimentos, se podia haver reversão da situação e quais as consequências. Nesse dia (ou no seguinte, já não me lembro ao certo), tive um jantar de despedida dos internos do SU com o chefe de equipa e tivemos algum receio de não ser possível a sua realização, mas tudo correu bem).Após o 25 de Abril, todos puderam festejar o 1º de Maio e penso que terá sido o melhor de sempre, mas de seguida a esquerda extremista tomou conta da situação e estivemos em risco de cair noutro tipo de ditadura.”

 Herminia Pereira

  “No dia 25 de Abril de 1974, estava a trabalhar e tinha tido o meu primeiro filho há um mês e meio e estava a trabalhar há cerca de duas semanas.Nessa altura só tínhamos um mês de licença de parto e não cinco como agora.

Era uma 5ª feira e eu ouvi no rádio do carro o locutor a ler uns comunicados a aconselhar as pessoas a não saírem à rua, porque podia haver distúrbios. Quando cheguei ao hospital onde trabalhava é que soube que tinha havido uma revolução em Lisboa, organizada por militares que tinha destituído o governo, mas estava tudo calmo. À tarde fui trabalhar para o Centro de Saúde, e lembro-me perfeitamente que um colega mais velho, urologista que estava felicíssimo e me deu um abraço apertado…”

 Cecília Arroso Machado

  “Estava em casa de manhã e ouvi pela rádio que nessa madrugada os capitães de Abril derrubaram o governo de Marcelo Caetano e que tinham preparado na rádio uma hora que através de uma senha atacaram o governo essa senha era uma canção "Grândola Vila Morena" do Zeca Afonso. Isto aconteceu em Lisboa, mas no Porto o povo vem para a rua gritar de contente, que a guerra acabou que éramos livres e suscitou uma euforia no povo que na minha terra viemos em grupos para a cidade do Porto gritar liberdade, passamos nos quartéis onde estavam os militares e atiramos-lhes  cravos, e dizendo que  já não iam para o ultramar, a guerra acabou… era uma sensação de alegria, foram momentos de grande satisfação.”

Conclusão

   Com este trabalho, consegui perceber as várias dificuldades de viver na altura do Estado Novo, como por exemplo, as várias restrições que tinham, o cuidado do que se dizia para não serem levados pela PIDE e também a euforia que o povo português teve no dia 25 de Abril devido ao fim do Estado Novo e a felicidade de ser livre, podendo se expressar e dizer as suas opiniões.

   A meu ver, acho que nunca nos devemos esquecer dos tempos difíceis que estas pessoas viveram e nunca nos esquecermos deste dia que é bastante importante para a História de Portugal.

FIM

(O CRESCER alterou um pouco a formatação do trabalho original por uma questão prática de edição. Muito agradece a colaboração da professora Sara Botelho e parabeniza a aluna Bárbara Garcia e a sua família.)

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