terça-feira, 11 de junho de 2024

Covid-19: especialista alerta para “milhares de casos” por dia e deixa conselhos para as Festas Populares e festivais

Segundo o mais recente relatório da DGS, os número de infeções por Covid-19 está a aumentar em Portugal, com já vários dias na última semana analisada (até 4 de junho) a chegarem e até ultrapassarem os 200 casos reportados às autoridades de saúde. Especialistas ouvidos pela Executive Digest assinalam que o aumento não é, para já, alarmante ou grave, mas aconselham a manter medidas de prevenção, de etiqueta respiratória e outros cuidados, já que se aproximam as Festas Populares, festivais de verão, concertos e eventos da estação – que são propícios a maiores aglomerados de pessoas e contacto mais próximo.

Gustavo Tato Borges, Presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP), indica à Executive Digest que é expectável que tenhamos já atualmente “milhares” de casos de Covid-19 que não são reportados, e que a situação se deverá agravar nos próximos meses.

Na semana entre 27 de Maio a 2 de Junho, verificaram-se 1143 infeções, com 25 de maio a ser o dia com maior número de casos, 225. Nos dias seguintes a ‘barreira’ dos 200 casos foi consecutivamente ultrapassada: primeiro 298 casos confirmados e depois 270. De assinalar que os número já não são representativos dos casos reais, uma vez que se deixaram de fazer testes à Covid-19 de forma massiva.

O que explica este aumento? Tivemos concertos como os de Taylor Swift, festejos do título do Sporting… 

Gustavo Tato Borges: De facto houve várias coisas que aconteceram ao mesmo tempo. Em primeiro lugar o aparecimento de uma nova variante a JN1.1 (BA.2.86) , que já está em circulação em Portugal e é a dominante, e que de facto faz com que, como sempre, quando aparece uma nova variante, circula de forma mais facilitada entre nós, uma vez que o nosso corpo não esta totalmente capaz de a reconhecer.

Também houve vários eventos: concertos, festejos de futebol, jogos, e outros com grande participação de pessoas e que fizeram  com que muita gente estivesse junta no mesmo espaço. Havendo alguém infetado, é normal que se tenha transmitido – e nós vimos isto em vários momentos da pandemia, em alturas, momentos e contextos similares.

Tendo em conta que a nossa vacinação para a Covid-19 para este inverno foi dirigida apenas às pessoas com maiores comorbilidade, e o resto da população só teve uma abertura por parte da DGS no final , sendo que foi uma vacinação marginal, verifica-se que a proteção mais intensa para estes vírus da Covid-19 vai-se perdendo.

É importante perceber que este aumento de novos casos não se traduziu num aumento de gravidade da doença, ou seja, não temos internamentos em excesso, não temos óbitos em excesso para esta doença, o que faz com que esta variação verificada, seja num quadro de infeções virais normais, que vão acontecendo ao longo do ano. De facto mais frequentemente no inverno, mas a verdade é que a Covid-19 já mostrou que mesmo no verão consegue circular com alguma facilidade, e nós teremos que nos ir adaptando e gerindo, no nosso dia a dia

O aumento de casos verificado nos últimos dias é preocupante?

Diria que não, por não se ver aumento de gravidade, de eventos adversos finais, digamos assim – é o vírus que está a circular entre nós, causando doença, é certo, mas leve ou moderada, que não faz com que haja uma paragem da sociedade, ou sobrecarga dos serviços ou mortalidade em excesso.

É algo para mantermos debaixo de olho, para ver como vai evoluir a seguir. E, acima de tudo, é algo para relembrar a sociedade e as pessoas que, sempre que tiverem sintomas respiratórios, seja inverno ou verão, deverão minimizar o contacto com outras pessoas e usar as regras de etiqueta respiratória, fazer uso de máscara, de desinfeção das mãos, de maneira a evitar contacto próximo com pessoas vulneráveis, e travando mais internamentos e óbitos.

Que regras devemos então continuar a seguir?

Fora da época gripal é mais difícil de encaixarmos as regras, porque é normal no outono-inverno termos alergias com maior intensidade, e outros vírus respiratórios, corrimento nasal ou nariz entupido,  e que resulta em acabarmos a minimizar a situação, e a não nos protegermos ou a não proteger os outros.

Temos mesmo de introduzir o hábito de usar máscara sempre que tivermos qualquer sintoma respiratório, a não ser que tenhamos feito testes de despiste microbiológico, que confirmem que não estamos infetados com nada.

Neste período que agora se avizinha de Santos Populares, festas de verão, festivais de música, é expectável que os casos passem para milhares por dia?

Não podemos dizer que nesta fase já não temos milhares de casos a acontecer todos os dias. Porque temos! Estamos é a encontrar cerca de 200 casos, 100 e muitos casos todos os dias, mas porque são pessoas que procuram cuidados de saúde por terem sintomas que incomodam.

Para além destes, teremos largas centenas, milhares até, muito mais pessoas, que não tem sintomas tão fortes, e ignoram, ou até não têm sintomas e estão infetados.

No verão, com os eventos todos, vamos voltar a ter grande circulação do vírus, mas como já estamos numa fase endémica da doença, está instalado na população e vai continuar a circular, adaptando-se de maneira a ser menos agressivo, causar menos mortes. E nós também estamos protegidos com a vacinação, de forma global, então estes números poderão muito bem acontecer. Mas não serão necessariamente preocupantes se não tivermos um excesso de mortalidade e um excesso de internamentos.

E é provável que mantenhamos números relativamente altos, nesta casa das poucas centenas de casos diagnosticados por dia, nos próximos tempos, porque as pessoas começam a entrar em férias, há mais aglomerados populacionais, as pessoas ‘esqueceram-se’ ou não têm tão presente na memória a necessidade de usar proteção e evitar estar em aglomerados se estiverem com sintomas, e querem aproveitar estes eventos, que vão continuar a frequentar.

Por exemplo, nos Santos Populares, que conselhos dá para celebrar em segurança?

Em principio será muito difícil termos medidas que sejam 100% eficazes: nestes eventos há consumo de alimentos, há baile e dança, proximidade entre as pessoas, muitas vezes sem possibilidade de termos máscara e de nos proteger.

Por isso é muito importante cada um olhar para si e saber se tem condições de poder aproveitar determinado momento sem colocar outros em risco.

Se tenho sintomas respiratórios, por muito que seja de lamentar faltar a estas festas, por respeito a todas as pessoas que lá vão estar, não devo ir. Ou então devo ir com máscara e garantir que quando a tiro para comer, o faço num ambiente afastado dos outros e sempre ao ar livre para minimizar o risco. Depois, claro, desinfeção das mãos, uso de etiqueta respiratória, são sempre medidas importantes. Mas fundamental é ter esta noção de civismo de que, se estou doente, não devo ir, por muito que seja só um pingo no nariz ou situação de mal-estar. Será quase com certeza uma infeção respiratória, e se for ao aglomerado, irei transmitir. O principal cuidado é manter vida saudável, e quem é elegível devia vacinar-se, e é bom que o faça na próxima campanha se o não o fez,. Também devemos estar sempre atentos aos sintomas. Fonte:  Sapo

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