Estando com 9 anos, quase a fazer 10, e a frequentar a antiga 4ª classe, tenho memórias muito difusas da manhã do 25 de abril de 1974. Fui para a escola como de costume e estranhei que o professor estivesse a tirar da parede os quadros das figuras do regime.
Estranhei, mas não tive perceção do que estava a acontecer.
Estranhei sim ver o meu pai à porta da sala de aula.
Muito estranho mesmo.
Não era hábito ir-me buscar, muito menos a meio da manhã enquanto a aula decorria.
Mandou-me para o carro.
E já no carro, comunicou-me que existia uma revolução em andamento.
Pareceu-me contente, embora visivelmente nervoso.
Procurei aviões no céu, militares, armas.
Revolução para mim significava guerra.
Mal eu sabia que testemunhava uma revolução dos cravos.
Vim para casa.
A emissão televisiva estava interrompida.
Os desenhos animados tardavam.
Os adultos falavam animadamente, embora o seu semblante transmitisse preocupação.
Eu só queria ver aviões.
Cresci com as portas que abril abriu.
Fiz-me jovem, adolescente, aprendi a liberdade.
Do menino que queria ver os aviões no céu a lutar, transformei-me no homem que viu um povo a lutar, a defender o que mais caro tem, a sua liberdade.
Hoje, estou preocupado.
A liberdade é dada como garantida.
Engano.
A liberdade conquista-se.
Todos os dias.
Não com aviões no céu.
Mas com o odor dos cravos.
António Leite (professor de Geografia)
Hoje, mais do que nunca, não devemos baixar os braços! Temos que lutar e manter as conquistas de Abril de 1974.
ResponderEliminarEu também vivi o 25 de abril exatamente com a mesma idade do António. Lembro-me de estarmos todas na sala de aula, na escola feminina - de Moutidos - e as professora estarem todas no átrio a ouvirem o rádio. Na véspera, no dia 24, na avenida do Lidador, no Alto da Maia, onde morava, tropas, presumo que das transmissões, comunicavam em código, mesmo à porta de minha casa - muito misterioso e excitante para uma criança de 9 anos.
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