Os últimos dados da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima indicam que são as crianças e jovens as principais vítimas de bullying, que acontece sobretudo na escola. A Internet espalha o fenómeno e torna-o mais perigoso.
A situação é cada vez mais preocupante em Portugal com os casos aumentarem exponencialmente. "Tem havido um aumento significativo deste fenómeno no nosso país. Em 2020 recebemos 42 queixas; em 2022 atendemos 118 vítimas. Isto representa um aumento de 181% em apenas dois anos", alerta Patrícia Ferreira, psicóloga e membro da Associação de Apoio à Vítima (APAV).
E estes dados são um dos alertas que a semana anti-bullying, que decorre até domingo, quer fazer sob o lema "Faça barulho sobre o bullying". A ideia surgiu na Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte, através da associação Anti Bullying Alliance, e pretende que professores, pais e jovens reflitam sobre o assunto.
A psicóloga da APAV -- uma das associações em Portugal aderem a esta iniciativa -- caracteriza o bullying para uma melhor compreensão do problema, que afeta sobretudo crianças e jovens entre os 11 e os 17 anos, numa percentagem de 55,1% dos casos. "O bullying consiste em comportamentos de agressão entre pares e com uma continuidade no tempo. Depois, pode haver violência física, verbal, social e outro registo, que tem vindo a aumentar muito, sobretudo desde a pandemia, que é o ciberbullying e que perturba muito mais as vítimas".
É à Internet que, muitas vezes, vão parar vídeos de agressões entre jovens e até mesmo imagens de crianças ou adolescentes despidos ou em práticas de cariz sexual. "O problema torna-se muito maior, porque nestes casos em vez de haver apenas um ou dois espetadores da situação podem ser milhares", observa Patrícia Ferreira. "Há estudos nacionais e internacionais que dão conta, de facto, deste aumento do ciberbullying desde a pandemia e, nestes casos, a vítima fica ainda mais exposta e fragilizada. Pode até, em certos casos, deixar de querer ir à escola porque se sente extremamente triste e envergonhada e não tem coragem de voltar ao local onde foi agredida". Ao contrário, nos casos de bullying que ficam circunscritos a apenas um local, normalmente a escola, Patrícia Ferreira esclarece que depois de a situação acontecer "a criança volta para casa e sente que está num local seguro. Sente-se melhor e depois acaba por regressar à escola. Já com a dimensão que pode alcançar o ciberbullying, que toma proporções enormes e imprevistas, as consequências a nível psicológico são gravíssimas para as vítimas. E basta acedermos às redes sociais para verificarmos que, de facto, estas situações estão em ascensão".
As principais vítimas de bullying são as raparigas, com 51,1% dos casos. As agressoras são, normalmente, outras miúdas e, neste caso, as agressões são "sobretudo verbais e psicológicas". Entre rapazes "o bullying é mais físico", acrescenta a psicóloga da APAV.
O concelho de Lisboa é o mais afetado do país, segundo os dados do último relatório da APAV, referentes ao biénio 2020/22, com uma prevalência de 29,1% dos casos. Só neste ano, que ainda não acabou, já foram reportados à Guarda Nacional Republicana (GNR), em todo o país, 140 casos, que incluem bullying e ciberbullying.
A maior parte das vítimas ainda é de nacionalidade portuguesa, em 81,1% dos casos. Porém, não é de desprezar a percentagem restante, de 18,9% de vítimas estrangeiras, numa altura em que nalgumas escolas, sobretudo nos grandes centros urbanos, o número de alunos estrangeiros também aumentou. Dos casos reportados à APAV, houve cinco vítimas oriundas do Continente Americano, uma africana e uma asiática. Em 13 casos não foi divulgada a nacionalidade da vítima e em 97 situações a vítima é portuguesa.
Os casos de bullying acontecem "sobretudo em ambiente escolar e no segundo ciclo do ensino básico". Apesar de tudo, a maior parte das situações acompanhadas pela APAV "são de violência verbal. Mas, sem dúvida, que o ciberbullying é cada vez mais preocupante e estamos muito atentos a essa situação, no nosso país, mas também no resto do mundo", assume a psicóloga Patrícia Ferreira.
São sobretudo os pais que devem tomar as rédeas do problema. "A melhor maneira de ajudar uma criança ou jovem que esteja a ser vítima deste tipo de agressões é ouvi-la e validar o que a criança conta, não julgando. Depois, os pais devem entrar em articulação com a escola, através dos diretores de turma e, posteriormente, o processo deverá seguir para a direção da escola, para que sejam tomadas medidas", explica Patrícia Ferreira. A psicóloga avisa que "a criança deve ser ensinada a não mostrar medo mas também a não responder com mais violência. Ou seja, mostrar ao bully que não tem receio e que tem, a seu lado, pessoas que a podem apoiar". As vítimas são, de forma geral, "miúdos com baixa autoestima, inseguros, fragilizados e tímidos".
Do lado dos agressores, por estranho que possa parecer, o perfil é idêntico. "Normalmente, têm o mesmo tipo de características. Também têm baixa autoestima, por exemplo, e veem no bullying uma forma de exercer poder sobre os outros e, sobretudo, de chamar a atenção sobre si próprios. São, por norma, crianças com problemas de comportamento sérios e, elas próprias, precisam de ajuda". Por isso, Patrícia Ferreira aconselha os pais dos agressores a tomarem uma atitude, para bem dos seus filhos. "Devem procurar ajuda. Essas crianças também não estão bem, sobretudo em termos de gestão emocional e da frustração. É por isso que se geram estes comportamentos agressivos", conclui. Fonte: DN
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