quarta-feira, 27 de julho de 2022

sem pesca, sem colheitas e mais fria do que na Idade do Gelo: como ficaria a Terra depois de uma guerra nuclear


A invasão russa da Ucrânia trouxe à tona a ameaça de uma guerra nuclear – segundo os dados do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, nove nações controlam atualmente mais de 13 mil armas atómicas no mundo.
Caso dois entrem em confronto, não importa quais, e decidirem dar uso ao arsenal nuclear, iria ocorrer uma hecatombe: a temperatura da Terra cairia 10 graus Celsius, as colheitas seriam perdidas em todo o mundo, o gelo nos mares bloquearia os principais portos e a pesca praticamente desapareceria – estas são as conclusões de um estudo publicado por uma equipa internacional de investigadores na revista ‘AGU Advances’.
Os investigadores executaram várias simulações de computador para estudar os impactos da guerra nuclear regional e de larga escala nos sistemas da Terra, tendo em contas as atuais capacidades das bombas atómicas. Em todos os cenários, as tempestades de fogo nucleares libertariam cinzas e fumos na atmosfera superior que bloqueariam o Sol, causando a quebra das colheitas em todo o muno. No primeiro mês, as temperaturas médias globais cairiam cerca de 10 graus Celsius, uma mudança de temperatura maior do que a registada na última Era Glaciar.
“Não importa quem bombardeia quem. Pode ser a Índia e o Paquistão ou a NATO e a Rússia. Uma vez que o fumo é libertado na atmosfera superior, espalha-se globalmente e afeta a todos”, apontou Cheryl Harrison, professora do Departamento de Oceanografia e Ciências Costeiras da Louisiana State University (LSU).
As temperaturas dos oceanos cairiam rapidamente e não iriam regressar ao estado anterior à guerra, mesmo depois de os céus não estarem cobertos. Conforme o planeta vai arrefecendo, o gelo marinho ia expandir-se em mais de 15 milhões de quilómetros quadrados e 1,8 metros de profundidade em algumas bacias, o que bloquearia os principais portos – incluindo Tianjin, em Pequim, Copenhaga e São Petersburgo, por exemplo. O gelo iria espalhar-se para regiões costeiras normalmente livres de gelo, bloqueando o transporte no hemisfério norte, dificultando o envio de alimentos e abastecimentos para algumas cidades como Shangai.
A queda repentina nas temperaturas, especialmente do Ártico ao Atlântico Norte e Pacífico Norte, mataria as algas marinhas, que são a base da cadeia alimentar marinha, criando uma fome oceânica, o que iria interromper a maior parte da pesca e da aquicultura.
Mas há mais: os investigadores simularam o que aconteceria com os sistemas da Terra se os EUA e a Rússia usassem 4.400 armas nucleares de 100 quilotons para bombardear cidades e áreas industriais: incêndios que iriam expelir mais de 150 mil milhões de quilo de fumo e carbono negro para a atmosfera superior.
“A guerra nuclear tem consequências terríveis para todos. Os líderes mundiais usaram os nossos estudos anteriormente como um ímpeto para acabar com a corrida armamentista nuclear na década de 1980, e há cinco anos para aprovar um tratado nas Nações Unidas para proibir as armas nucleares. Esperamos que este novo estudo encoraje mais nações a ratificar o tratado de proibição”, frisou o coautor Alan Robock, professor do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Rutgers.
Os oceanos levam mais tempo a recuperar do que os solos: no maior cenário, entre a Rússia e os EUA, a recuperação dos oceanos provavelmente levará décadas na superfície e centenas de anos nas profundezas, enquanto as mudanças no gelo marinho do Ártico provavelmente durarão milhares de anos – seria efetivamente uma “Pequena Idade do Gelo Nuclear”. @  Sapo

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