Hoje, o rosto da escola que damos a conhecer é o de Manuel Carneiro Ferreira, diretor do nosso agrupamento. A escolha recaiu na sua pessoa por esta ser a última rubrica do ano "as escolhas de..." feita pela equipa constituída pelas alunas Ana Pinto e Rita Almeida, nossas colaboradoras finalistas de 12º ano.
O CRESCER quis saber que balanço faz da sua carreira, como encarou o prémio de reconhecimento do seu mérito profissional e como vê a escola e o futuro.
Como descreveria o seu percurso profissional?
Eu sou da área das Engenharias. Na altura, havia alguma dificuldade de
emprego e não queria estar parado e, por isso, comecei a ocupar-me com outros
ofícios (andei, por exemplo, a vender livros) durante pouco tempo. Entretando,
apareceu-me a oportunidade de dar aulas. Quando entrei a primeira vez numa sala
de aula, não na qualidade de aluno, jurei quase a mim mesmo que era aquilo que
eu queria fazer, algo que nunca tinha pensado, uma vez que estava longe daquilo
que eu estudara. Mais tarde, estava a estagiar e surgiram oportunidades
favoráveis de grandes empresas e, como não queria desistir a meio, acabei por
perder a oportunidade. Hoje penso que foi o melhor que fiz porque, na verdade,
realizo-me constantemente. Quase toda a gente me conhece por professor Ferreira
e eu fico tão orgulhoso disso! Todavia, aos cargos que ia ocupando acrescia a
responsabilidade e tive de deixar de dar aulas. Exercer este cargo implica,
acima de tudo, gosto - que tenho, claramente - e disponibilidade. Aliás,
compromete muito a vida pessoal.
Já passaram trinta e nove anos desde que abracei profissionalmente a
causa da educação e trinta e dois desde que assumi cargos de gestão, pela
primeira vez, sempre nesta escola, primeiro como Presidente do Conselho
Diretivo, que entretanto se passou a designar Conselho Executivo, e,
posteriomente, como Diretor do Agrupamento de Escolas de Águas Santas. Um longo
percurso, mas plenamente gratificante, pela luta, pela resiliência, pelas
amizades, pela identidade cultural da nossa comunidade educativa, pela
criatividade das nossas escolas e pelo sucesso dos nossos alunos que, no fundo,
é também o nosso.
Assumo o meu contributo e de todas as equipas executivas que presidi na
criação da imagem e identidade da escola. Para além disto, tenho tido a
solidariedade instuticional de todos os outros órgãos e trabalhamos muito bem
uns com os outros, felizmente, devido à articulação estabelecida, possível
também graças à índole das pessoas que comigo trabalham. Ao longo dos anos, uns
foram saindo, sempre por opção própria, o que, muitas vezes me deixou com
lágrimas nos olhos, mas tanto os de outrora como os de agora são os meus braços
direitos, pessoas que me são muito queridas. Um indivíduo sozinho não consegue.
Atualmente, a responsabilidade de ser diretor é muito grande, mas o apoio que
advém dos outros órgãos não torna este cargo tão complicado de exercer e
acompanhar, uma vez que tenho, acima de tudo, cumplicidade profissional e
emocional que me permite organizar e trabalhar eficazmente. Funcionamos sempre
da mesma maneira, com muito respeito uns pelos outros, na base da confiança e
da amizade. Por tudo isto, não posso deixar passar a oportunidade para aqui,
publicamente, enaltecer a relação de amizade que se fundou e funda para além da
estritamente profissional, que estabeleci com todos esses colegas. Temos
conseguido fidelizar alunos, professores, funcionários e pais. É preciso pensar
a escola e melhorar aquilo que está menos bem. Estamos todos embuídos nesse
espírito. Temos todos de remar no mesmo sentido, embora discordando, por vezes.
É uma responsabilidade muito grande, mas todos foram cruciais para construir a
escola que somos hoje, um agrupamento de referência.
Saliento, de igual forma, a colaboração e apoio que, ao longo dos anos,
tenho tido e sentido por parte de toda a comunidade educativa. Registo, em
particular, a dedicação e o profissionalismo dos professores que lecionam nas
nossas escolas, o papel determinante do pessoal não docente e destaco, ainda, o
facto de os encarregados de educação e as associações de pais das várias
escolas terem sido sempre parceiros essenciais, dada a sua proatividade e motivação.
Mais do que nunca, a escola não pode estar sozinha, pelo que é sabido
que me tenho esforçado por fomentar a interação escola/meio, estimulando a
proximidade e estabelecendo parcerias, protocolos e intercâmbios com o poder
autárquico, Junta de Freguesia de Águas Santas e Câmara Municipal da Maia -
nossos parceiros privilegiados - e com outras intituições do meio, como
associações recriativas, culturais, desportivas e empresariais.
Outra das coisas que me orgulho muito é de sermos uma escola inclusiva.
Somos a escola da área metropolitana do Porto que, por sua iniciativa, resolveu
criar uma unidade de multideficiência para alunos no ensino secundário. Já
tinhamos outras duas unidades para o primeiro, segundo e terceiro ciclos, mas
somos a única a ter para o secundário. Para nós, somos todos iguais.
Defendo que a eficácia da liderança passa pela capacidade de conseguir
mobilizar todas estas vontades e fazer convergir forças para atingir o objetivo
que nos é comum - construir uma escola que seja intrínseca e verdadeiramente
uma comunidade educativa.
Como encarou
o prémio de reconhecimento do seu mérito profissional?
Acreditem que foi com perplexidade e surpresa que recebi a notícia de
que o Rotary Club de Águas Santas e Pedrouços me tinha escolhido para
uma homenagem pública de reconhecimento de mérito profissional. Fizeram uma
cerimónia muito simples, acordada entre nós, mas onde esteve muita gente, o que
também me deixou feliz. É algo que vou recordar sempre, sem dúvida nenhuma.
Afinal, todos precisamos de reconhecimento. A escola tem mantido com este grupo
rotário, desde sempre, relações de cordialidade e de colaboração mútua, tendo
este clube apoiado, por diversas vezes, alguns dos nossos alunos mais
carenciados. Todavia, não esperava a distinção que me foi atribuída. Encarei-a,
naturalmente, como um importante marco na minha já longa carreira profissional
e senti-me deveras feliz e horado, mas não a tomei a título meramente
individual, bem pelo contrário: interpretei-a como uma distinção dirigida à nossa
comunidade educativa e una, como o reconhecimento público da qualidade da nossa
ação educativa, social e humanitária.
Como vê o futuro e a escola?
Não somos uma escola de elites e uma das vantagem de sermos uma escola
pública é a extensão do nosso trabalho que passa por ajudar os que querem
estudar, os que não querem e os ditos "diferentes". Trabalhamos com
todos. Na verdade, fazemos serviço público, não selecionamos. Portanto, vamos
ter de continar a trabalhar com toda a gente e queremos fazê-lo bem, pelo que
nos vamos ajustanto sempre às necessidades e realidades educativas e, por isso,
tenho a esperança de que vai continuar a correr tudo bem.
O sucesso dos alunos divide-se, fundamentalmente, no sucesso escolar,
traduzido por números, e no sucesso educativo, traduzido por humanidade. Temos
igualmente de preparar os alunos para serem bons cidadãos e desenvolverem com
liberdade, sempre associada à responsabilidade, esta sua postura na sociedade.
Não queremos só “grandes crânios”, queremos bons cidadãos e, por isso, hoje,
mais do que nunca, o sucesso da educação das crianças e jovens é da
responsabilidade de todos e terá de resultar da participação e mobilização dos
agentes integradores da comunidade educativa. Assim deverá ser se preconizamos
uma escola que promova o reconhecimento dos seus talentos e das suas
qualidades, desenvolva uma identidade onde sejam visíveis as democracias de
quem respeita, escuta e reflete, que se centre na sua ação sobre os alunos,
seja um espaço de desenvolvimento pessoal e emocional, proporcione meios e
ferramentas com vista no sucesso, fomente a convivência harmoniosa e contrua
nos alunos a consciência do que sabem e do que são capazes. Não tenho dúvidas
que só seremos bem sucedidos neste desígnio se formos capazes e eficazes na
criação de estratégias de intervenção conjuntas e concertadas.
Ana Pinto e Rita Almeida
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