O que se
está a passar, neste preciso momento, nas escolas portuguesas é o seguinte: a
31 de julho, quarta-feira, devem ser publicadas as turmas (provisórias); logo de seguida,
comunicado o número de professores necessários em função das necessidades.
Agosto. Concurso de professores para lá, concursos de professores para cá,
fazer horários… em setembro tem de estar tudo pronto para o arranque. Está
sempre tudo pronto para o arranque, as escolas fazem por isso. O Ministério
não. E este ano aprimorou-se: a 26 de julho, sexta-feira, fim da tarde, indicou
o número de turmas/cursos que autoriza sejam abertos em cada escola. Não, não
são as escolas que decidem, em função do número de matrículas vs espaço. E,
convém frisar, em junho, há as chamadas reuniões de rede escolar, em que as
escolas se sentam à mesa com a tutela e se discute esta
organização/distribuição.
Mas, nesta sexta-feira dia 26,
quando muitas escolas já tinham as turmas praticamente feitas, quando
publicitaram as suas ofertas formativas, quando contactaram pais e alunos para
regularizarem este ou aquele pormenor ou para lhes indicar que aquele
curso/disciplina não iria existir na escola, informando das alternativas,
enfim, quando tinham esse trabalho praticamente feito, o
Ministério, através de um dos seus organismos, publicou a lista de
cursos/turmas autorizados(as) para cada escola/agrupamento e lançou o caos:
mudou as ofertas dos cursos profissionais, reduziu o número de turmas em várias
escolas, eliminou turmas CEF com alunos inscritos, enfim, queimou o jantar
pouco antes de ser posto à mesa. E fez algo mais fantástico, fê-lo em cima do
acontecimento. Imagine-se o leitor em sua casa e dizem-lhe para convidar vinte
pessoas para jantar: a comida será da responsabilidade de uma empresa de
confiança. Manda convites atempadamente, publicita o evento convenientemente,
prepara a sala com cuidado, prepara a mesa, recebe os convidados… e depois
trazem-lhe duas coxas de frango para o jantar.
É assim que o Ministério tratou as escolas, as direções, os alunos. São
inúmeros os casos relatados em inúmeras escolas, que se começam agora a
conhecer: em várias escolas, o número de turmas autorizadas está abaixo das
necessárias para o número REAL de alunos matriculados (que se faz aos
restantes?); há cursos profissionais com anos de existência numa localidade,
com vinte e muitos alunos inscritos, que são apagados e substituídos por outros
cursos que nem sequer tinham sido discutidos, menos ainda comunicados ao
público, há alunos que deveriam seguir um curso de educação formação e terão de
ficar no ensino regular… e quem é que vai passar por incompetente? Quem é que
vai ter que dar a cara para dar o dito por não dito? Quem vê todo o seu
trabalho, um trabalho sério que merece respeito, deitado ao lixo? A três dias
úteis do fim de julho?...
E é nestas condições que se trabalha nas escolas. Surpreendentemente (ou nem
tanto assim, quando o interesse do poder é esse) a maioria dos portugueses desconhece esta realidade.
Apesar de, direta ou indiretamente, ser parte interessada : quem não tem
familiares nas escolas? ou vai ter? já para não falar do tão propalado
"interesse nacional" da Educação... A maioria dos portugueses ouve o
discurso dos políticos na TV, sérios e convictos, e cria uma imagem. Nuno
Crato, por exemplo. Tão credível... Possivelmente, até acredita nele quando
ouve coisas como "liberdade de escolha" e "mérito" e
“superior interesse dos alunos” e “estamos a trabalhar para”. Pois é este o tipo
de trabalho que estão a fazer: em cima do joelho, passando por cima do trabalho
feito nas escolas e do “superior interesse dos alunos”, que só interessa para
enfeitar discursos “politicamente corretos”. Para quem conhece a realidade,
para quem vive a e na escola, este tipo de discurso é de um cinismo, de uma
falta de ética, de verdade, de seriedade que enoja!
E isto será, mais uma vez, e à semelhança de tantas e tantas outras
ocorrências, com este e com os outros governos dos últimos anos, um episódio. E
este episódio faz tão pouco sentido que não pode dar em nada. As turmas terão
de abrir, de acordo com o número REAL de alunos que existe no nosso país, nas
respetivas localidades. Mas
é o suficiente para, em finais de julho, com tanto para fazer para que tudo
arranque em setembro, causar mais desgaste, mais confusão. Para, MAIS UMA VEZ,
aparecerem as parangonas nos jornais e televisões e as pessoas pensarem...
"lá estão os professores a queixar-se outra vez!!!". Pois, já alguma
vez pensaram que os professores PODEM ATÉ TER RAZÃO?!?!?
Que bem estaríamos todos se, em todos os anos, há anos, não fosse este
circo anual em que tudo muda!
Fátima Inácio Gomes, em 29.07.13
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