segunda-feira, 1 de julho de 2013

texto de autor: o balanço do desacordo

Chegou até ao email do Crescer mais um texto de um leitor. Está identificado como o seu autor sugeriu. Aqui segue "O balanço do desacordo". Muito obrigado pela partilha.

O balanço do desacordo

Não vou investir tempo a apresentar números de adesão à greve geral. Não me parece sequer relevante.
Parece-me relevante o descontentamento geral sentido pelos cidadãos portugueses: dos que fazem greve, dos que não fazem porque não têm trabalho, dos que não fazem porque têm receio de perder o emprego precário, dos que não fazem porque lhes faz falta o dinheiro no final do mês, dos que não fazem porque nunca fazem, dos que fazem sempre, dos que trabalham, dos que empregam, dos aposentados, dos que nunca tiveram emprego...
Parece-me relevante que o nosso P.M. diga que não governa para os sindicatos nem para as associações empresariais. Efetivamente, não governa para esses nem para ninguém. Está de costas voltadas para o país.  Tem muito respeito pela greve mas tem ainda mais respeito por quem trabalha, diz. 
Parece-me relevante que se registe o dito por não dito: diz-se que a taxa de recessão vai abrandar com todos os sacrifícios, mas afinal o défice é cada vez maior; diz-se que baixará a taxa de desemprego, mas afinal ele cresce a olhos vistos; diz-se que os cidadãos portugueses (sacrossantos) não serão chamados a pagar a falência dos bancos, mas afinal vão pagar os que tenham contas superiores a cem mil euros; diz-se que se irá premiar o mérito dos jovens, mas afinal são convidados a emigrar; diz-se que os idosos serão uma preocupação prioritária, mas afinal baixam-se as legítimas reformas e taxam-se com mais impostos...
No dia seguinte a mais uma greve geral em que as duas principais centrais sindicais se uniram, os números da adesão são irrelevantes. Relevante é o consenso do desacordo.
Não gosto mesmo nada daquele discurso miserabilista do "graças a Deus que tenho emprego!" ou "ainda há quem esteja pior!" ou "tenho medo do que possam fazer!". Não consola, só agride. Quanto mais o dizemos, mais pequenos ficamos. Quanto mais nos obrigam a pensá-lo, mais pequenos nos querem fazer.
Em tempo de dia seguinte, o balanço relevante é o cartão vermelho apresentado ao Governo (ou será à Europa, à Troika e ao FMI?). O balanço relevante não precisa de estatísticas. O balanço resume-se a um redondo vocábulo: "Basta!"
Mariazinha

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